Donald Trump derrota Kamala Harris e retorna à Presidência dos EUA
Donald Trump derrota Kamala Harris e retorna à Presidência dos EUA - Projeções apontam triunfo de republicano sobre rival democrata. Retorno à Presidência ocorre quase quatro anos após Trump deixar Washington em desgraça, na esteira de tentativa de golpe.Donald Trump foi eleito novamente presidente dos Estados Unidos, protagonizando um retorno dramático à Casa Branca quase quatro anos após deixar Washington nas cordas, na esteira de uma tentativa de golpe que culminou na invasão e depredação do Capitólio por uma turba de apoiadores.
Segundo projeções divulgadas pela imprensa americana nesta quarta-feira (06/11), o republicano derrotou sua rival democrata Kamala Harris ao superar a marca de 270 votos no Colégio Eleitoral dos Estados Unidos.
Até o momento, Trump recebeu mais de 70 milhões de votos e acumula 277 delegados no Colégio Eleitoral, segundo as projeções. Kamala Harris, por sua vez havia recebido pouco mais de 65 milhões de votos, de acordo com as projeções, e acumulando 224 delegados.
A votação também encerra um ciclo de campanha marcado por reviravoltas, incluindo a desistência da candidatura do atual presidente Joe Biden – que abriu caminho para Kamala Harris –, e duas tentativas de assassinato contra Trump.
O pleito ainda ocorreu em um cenário externo de tensão, com os EUA fortemente envolvidos no apoio a aliados que atualmente protagonizam conflitos: Israel e Ucrânia.
O resultado também deve reverberar no mundo. Na Europa Ocidental, a vitória deve ser vista com apreensão, dado o histórico de desprezo de Trump pelos seus aliados na Otan, além de impactar negativamente sobretudo a política de ajuda dos EUA à Ucrânia.
Por outro lado, a vitória de Trump deve ser celebrada por setores da ultradireita mundial. No Brasil, o ex-presidente Jair Bolsonaro disse antes do pleito que uma vitória de Trump seria a "certeza de um mundo melhor". O brasileiro ainda colocou um boné com o slogan de campanha de Trump, "Make America Great Again" (Faça a América Grande Novamente).
Mais velho presidente eleito
Se uma eventual vitória de Kamala poderia ter marcado a primeira vez que uma mulher ocuparia o Salão Oval, a volta por cima de Trump não deixa de ter dois componentes históricos.
Ele será apenas o segundo presidente da história dos EUA a ocupar o cargo por dois mandatos não-consecutivos (o primeiro fora Grover Cleveland no final do século 19). Aos 78 anos, Trump também é a pessoa mais velha a vencer o posto – superando por alguns meses a idade de Biden na campanha de 2020.
Para seus apoiadores, o republicano é um salvador e um herói, disposto a defender os valores deles contra os liberais. Críticos, por sua vez, frisam que ele é um criminoso condenado, acompanharam a campanha eleitoral com incredulidade e expressaram choque com o que consideram políticas radicais, conduta indigna de um homem de Estado, e uso impulsivo das redes sociais, no cargo e fora dele.
Na campanha, por exemplo, Trump escandalizou ao dizer que em Springfield, Ohio, os imigrantes haitianos estariam raptando os cães e gatos dos vizinhos para comer – uma alegação que se provou falsa.
Embora o futuro dos EUA e do resto do mundo agora seja imprevisível, um olhar retrospectivo sobre o primeiro mandato de Donald Trump, e mais além, pode dar pistas do que está por vir.
"Eleição roubada", invasão do Capitólio
Quando Trump se recusou a aceitar que perdera para o democrata Joe Biden o pleito de 2020, alegando que lhe fora "roubado", grande parte dos seus apoiadores acreditou nele. Apesar de apurações reiteradas comprovarem a falsidade das acusações, e de todos os tribunais as terem rejeitado, o perdedor se aferrou à falsa narrativa de que os democratas teriam cometido fraude eleitoral.
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Quero receberEm 6 de janeiro de 2021, instigados por Trump, um grupo de extremistas de direita e trumpistas fervorosos invadiu o Capitólio, em Washington D.C., na tentativa de impedir a confirmação oficial da vitória de Biden. Naquele mesmo dia, Trump fizera um discurso diante de milhares de apoiadores, repetindo suas alegações e advertindo: "Se vocês não lutarem como uns danados, não vão ter mais um país." Para observadores, essa e suas persistentes mentiras sobre fraude eleitoral teriam encorajado a turba violenta a entrar em ação.
Em 13 de janeiro, uma semana antes do fim da presidência dele, a Câmara dos Representantes votou por um segundo impeachment de Trump, desta vez por incitar à insurreição. Era a primeira vez que um presidente americano era submetido a esse processo por mais de uma vez. Até mesmo dez deputados republicanos votaram a favor, mas o Senado o absolveu em fevereiro. Ainda assim, em 2023 ele foi indiciado em quatro casos relacionados à recusa de aceitar os resultados eleitorais de 2020.
Os advogados do magnata nova-iorquino apelaram da decisão, e o caso foi parar no Supremo Tribunal, que determinou que presidentes gozam de impunidade por sua conduta oficial. Os promotores voltaram a indiciar o ex-mandatário, com acusações ligeiramente alteradas, e o processo continua correndo.
Outros processos, "America first"
Entre as diversas outras disputas jurídicas que antecederam o pleito presidencial de 2024, estiveram processos por fraude relacionados à forma como Trump e seus filhos geriam os negócios de família e como ele se comportou após perder em 2020.
Um júri o condenou em 34 casos, por falsificação de registros com o fim de acobertar subornos pagos à atriz pornô Stormy Daniels. Apesar de tudo, o réu insistiu em sua inocência. O pronunciamento da sentença acabou adiado para depois das eleições. Não está claro se Trump terá que cumprir uma pena de prisão.
Ele foi ainda acusado de manter documentos confidenciais do governo em sua mansão de Mar-a-Lago, na Califórnia, após terminado seu mandato. Além disso, foi condenado a pagar uma multa milionária à ex-jornalista E. Jean Carroll, por ter abusado sexualmente dela no fim da década de 1990, e depois difamá-la com declarações maliciosas de que ela estaria mentindo sobre o incidente.
Um dos principais motores para os eleitores trumpistas é a promessa dele de colocar os "Estados Unidos em primeiro lugar". Nesse espírito, criticou a Otan, retirou-se de instituições internacionais como a Organização Mundial da Saúde e abandonou o Acordo do Clima de Paris.
Sob Biden, o país retornou ao pacto, porém Trump prometeu retirar-se novamente. Sua atitude unilateral e prepotente atraiu a ira de vários aliados europeus, porém agradou grande parte dos conservadores americanos. Outro trunfo foi sua promessa de reduzir os impostos para os ricos.
"You're fired", fake news e linha-dura na imigração
O 47º presidente dos Estados Unidos nasceu em 14 de junho de 1946, no distrito de Queens, em Nova York. Seu avô paterno imigrou no fim do século 19 da cidade alemã de Kallstadt, no atual estado da Renânia-Palatinado. Donald frequentou a prestigiosa Wharton School of Business, formando-se em 1968 como bacharel em Ciência Econômica.
O primeiro casamento de Trump, de 1977 a 1990, foi com Ivana Zelnickova, resultando em três filhos: Donald Jr., Ivanka e Eric. Sua segunda esposa foi a atriz Marla Maples, que criou sozinha na Califórnia a filha de ambos, Tiffany. Em 2005, por fim, casou-se com a modelo eslovena Melania Knavs, que lhe deu um filho, Barron.
Através da Trump Organization, criou numerosos hotéis, cassinos e campos de golfe, muitos dos quais faliram. Ele ficou também famoso como apresentador do reality show The Apprentice, a partir de 2004, em que popularizou a frase "You're fired" (Está demitido).
Ao longo de todo o primeiro mandato, a administração Trump manteve uma relação espinhosa com a imprensa e um histórico de declarações falsas e enganosas. Os fatos que não agradavam, ele descartava como "fake news", convencendo grande parte de seu eleitorado de que os veículos de imprensa estavam divulgando mentiras para manchar sua reputação.
Trump adotou linha-dura contra a imigração, não poupando comentários racistas. Prometeu erguer um muro na fronteira mexicana, com o México pagando a conta – coisa que nunca aconteceu. Ao fim de sua presidência, em 2021, haviam sido construídos 732 quilômetros de muro, ao longo da fronteira de 3.145 quilômetros, com um custo de 16 bilhões de dólares para o contribuinte americano.
Esse rigor teve consequências extensas: migrantes da América Latina ficaram detidos na fronteira com os EUA, crianças foram separadas dos pais. Vídeos de menores presos em celas despertaram indignação em todo o mundo. No entanto, o governo sustentou que as medidas eram necessárias para conter a "onda" de imigrantes ilegais, e que os internos nos centros de detenção eram bem tratados.
Impeachment, pandemia e sobrevivência
Em 18 de dezembro de 2019, foi aberto o primeiro processo de impeachment contra Trump, baseado na acusação de que ele negara ajuda militar à Ucrânia para chantagear Kiev a investigar criminalmente Joe Biden e seu filho Hunter, aumentando as chances de uma reeleição em 2020.
Apesar de ele negar todas as acusações, a Câmara dos Representantes adotou dois artigos de impeachment: abuso de poder e obstrução do Congresso. Mas Trump foi absolvido pelo Senado, de maioria republicana, e mantido no cargo.
A pandemia de covid-19 igualmente deixou sua marca na presidência trumpista. A taxa de mortalidade dos EUA foi consideravelmente mais alta do que a de qualquer outro país industrializado. Trump minimizou a severidade da situação médica, priorizando a produtividade econômica e um rápido retorno à normalidade.
Segundo críticos, ele seria, assim, corresponsável pela morte de centenas de milhares de americanos. Numa entrevista em agosto de 2020, o mandatário admitiu que havia, de fato, gente morrendo, mas acrescentou: "As coisas são como são."
Apesar de tudo isso, Trump ainda chegou com força na eleição de 2020, mas acabou perdendo para o centrista Joe Biden.
Após a tentativa fracassada de tentar reverter ilegalmente o resultado do pleito, seguiram-se anos de problemas com a Justiça. Mas Trump conseguiu manter o controle do Partido Republicano, que nos últimos anos se converteu num veículo personalista para o ex-presidente.
Trump chegou ao pleito de 2024 sendo o mesmo de sempre. Em março, ele afirmou que os EUA seriam palco de "um banho de sangue" caso ele perdesse a eleição. Na noite do pleito, na terça-feira, ele ainda repetia falsamente que os democratas estavam colocando em marcha um plano para fraudar a votação.
Autor: Jean-Philip Struck, Carla Bleiker
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