EUA optam pelo inferno e forçam o mundo a conviver com o diabo
O último privilégio concedido pela democracia ao cidadão é o de poder escolher seu próprio caminho para o inferno. Ao optar por Donald Trump, o eleitor americano transformou a Casa Branca numa gigantesca metáfora para a decadência da democracia dos Estados Unidos. De quebra, forçou o mundo a conviver com o diabo por pelo menos mais quatro anos.
Há cinco meses, Trump tornou-se o primeiro ex-presidente americano com o título de criminoso no currículo. O Tribunal Criminal de Manhattan condenou-o por falsificar registros contábeis para encobrir pagamentos a uma atriz pornô. Discutia-se o tipo de castigo: prisão, liberdade com tornozeleira ou apenas multa. Trump deu de ombros: "O verdadeiro veredito sairá no dia 5 de novembro, dado pelo povo".
Trump não obteve apenas o aval do eleitor. Retorna ao poder com maioria no Congresso e uma Suprema Corte de viés conservador. Sua coleção de processos judiciais foi encostada no arquivo. É como se a insensatez recebesse salvo-conduto para radicalizar uma agenda em que a fuligem antiambiental e o isolacionismo econômico se misturam a detritos morais como a misoginia e a xenofobia.
A ironia suprema do processo eleitoral americano envolve a própria democracia e seus riscos. A maioria dos eleitores nasceu depois da Segunda Guerra Mundial. Conhece os horrores apenas como dados históricos, que são contestados pelo neofascismo. O retorno de Trump pulveriza a ilusão de que, cedo ou tarde, anticorpos herdados de gerações anteriores livrariam o império decadente de sua assombração totalitária.
O mito da extrema direita volta com força. O radicalismo muitas vezes reduz a política a uma decisão sobre até onde cada um está disposto a conversar com o Diabo. O dilema desafia o mundo. No Brasil, onde partidos liderados por entusiastas de Bolsonaro celebram a vitória de Trump aninhados em ministérios de Lula, até as diferenças entre entre os graus de direita vão perdendo o sentido.
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