Novo presidente da Geórgia toma posse em meio a protestos
Após ser eleito em votação controversa, ex-jogador de futebol Mikhail Kavelashvili pede respeito pelos "valores" do país. Oposição afirma que Salome Zurabishvili continua sendo a presidente legítima.
O novo presidente da Geórgia, o ex-jogador de futebol Mikhail Kavelashvili, tomou posse neste domingo (29) em meio a uma crise desencadeada no país depois da altamente contestada eleição legislativa de outubro. A oposição pró-ocidente e observadores internacionais afirmam que o pleito foi fraudado pelo partido governista.
O crítico linha dura do Ocidente, conhecido pelas suas opiniões ultraconservadoras, foi empossado no Parlamento em Tbilissi, capital da Geórgia, para suceder a Salome Zurabishvili. O presidente georgiano é eleito pelos parlamentares e tem uma função cerimonial, uma vez que o chefe de governo é o primeiro-ministro.
"A nossa história mostra claramente que, após inúmeras lutas para defender a nossa pátria e as nossas tradições, a paz foi sempre um dos principais objetivos e um dos principais valores do povo georgiano", afirmou Kavelashvili, durante o seu discurso.
O novo presidente apelou ainda ao respeito pelas "tradições, valores, identidade nacional, a santidade da família e da fé" do país.
Quem é o novo presidente
Candidato único na disputa e concorrendo pela legenda governista SG (Sonho Georgiano), Kavelashvili foi eleito em meados de dezembro em uma votação por um colégio eleitoral dominado pelo partido governante e que foi boicotada pela oposição ao governo do primeiro-ministro, Irakli Kobakhidze.
Kavelashvili é o sexto presidente na história do país desde a independência da União Soviética, em 1991. O ex-jogador de futebol atua como deputado desde 2016, depois de uma carreira como atacante que inclui uma passagem pelo Manchester City nos anos 1990.
Nascido em 1971, ele é o fundador do movimento A Força do Povo, que promoveu a aprovação de leis contra influência estrangeira e minorias sexuais - elas foram condenadas pela oposição e pelo Ocidente pela semelhança com as regras draconianas promulgadas pela Rússia para reprimir a oposição e os homossexuais.
Protestos do lado de fora
Do lado de fora do Parlamento, manifestantes protestaram contra a posse de Kavelashvili. Zurabishvili, que recusou a transferência de poder, se reuniu ao grupo. Em um discurso, ela afirmou que estava deixando o palácio presidencial, mas que Kavelashvili não tinha legitimidade como presidente.
"Eu sairei daqui e estarei com vocês. Comigo trago a legitimidade e a bandeira", acrescentou a ex-presidente, que ocupou o cargo desde 2018. Zurabishvili acrescentou que Kavelashvili não foi escolhido legitimamente, pois os parlamentares que o colocaram no poder foram eleitos em uma eleição fraudada.
Zurabishvili é apoiada pelos quatro principais partidos de oposição pró UE (União Europeia) do país. Eles afirmaram que ela permanecerá sendo a presidente legítima até a realização de novas eleições.
Cerca de 2 mil manifestantes participaram do protesto. Vários deles levantavam cartões vermelhos em referência à antiga carreira do novo presidente.
O SG nega as acusações de fraude e afirma que as eleições de outubro foram livres e justas. O partido obteve quase 54% dos votos oficiais. Observadores locais e internacionais dizem que o pleito foi marcado por violações que poderiam ter alterado o resultado. Países ocidentais pediram uma investigação.
Turbulência política e social
Após a eleição, o governo do país suspendeu no final de novembro até 2028 o início das negociações para a entrada na União Europeia (UE). O anúncio do congelamento do processo da adesão ao bloco foi feito logo após o Parlamento Europeu ter aprovado uma resolução rejeitando os resultados das eleições parlamentares na Geórgia e pedindo novas eleições.
A manobra intensificou a turbulência social e política que sacode o país há semanas. Mais de 400 manifestantes já foram detidos no país, incluindo líderes da oposição.
O impasse é visto como um momento decisivo na Geórgia, um país de 3,7 milhões de habitantes que até recentemente era considerado um dos mais democráticos e pró-ocidente das antigas repúblicas soviéticas.
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