Apoio a traumatizados é prioridade após ataque de Magdeburg

Apoio a traumatizados é prioridade após ataque de Magdeburg - Duas semanas e meia após um motorista invadir com seu carro um mercado de Natal da cidade alemã, matando seis pessoas e ferindo centenas, assistência para afetados superarem o trauma mostra relevância.Após o ataque ao mercado de Natal na cidade de Magdeburg, na Alemanha, o choque ainda é profundo. Nesta segunda-feira (06/01), o número de mortos subiu para seis, após uma mulher de 52 anos ter morrido no hospital em consequência de seus graves ferimentos. Em 20 de dezembro, um médico de 50 anos originário da Arábia Saudita jogou seu carro sobre a feira de Natal, deixando também quase 300 feridos.

Em meio a essa tragédia, o apoio às vítimas se torna um desafio. Para muitos dos afetados, não se tratam apenas de problemas físicos, mas de ferimentos psicológicos profundos. A terapia de trauma, os serviços de aconselhamento e os grupos de autoajuda têm o objetivo de oferecer a eles um espaço seguro para lidar com o que vivenciaram.

Especialmente em uma cidade como Magdeburg, capital do estado da Saxônia-Anhalt, que ainda não tinha sido confrontada com um incidente desse tipo, os profissionais enfrentam grandes dificuldades. Eles precisam ajudar a canalizar as várias impressões de choque das vítimas.

"Existem as imagens que todos vimos. Os sons do carro vindo em sua direção. Os cheiros. Você não consegue dormir. Você se pergunta como categorizar o que vivenciou. Basicamente, no começo é tudo indefinível. Ao apoiar as vítimas, é preciso tentar lidar com esses sentimentos", diz Marco Vogler, padre da polícia estadual de Saxônia-Anhalt.

Ele afirma que esse é um grande desafio, especialmente porque cada pessoa precisa ser cuidada de forma diferente e precisa da pessoa certa para conversar. "Em última análise, trata-se de expressar sentimentos e permitir que eles sejam processados: luto, raiva, indignação, medos", explica.

ONG apoia vítimas

As vítimas de Magdeburg também são apoiadas pela Weisser Ring (Anel Branco), entidade sem fins lucrativos que é uma das maiores organizações alemãs de ajuda a vítimas de crimes e violência. "As pessoas perderam entes queridos, viram coisas terríveis – ninguém deveria ter que lidar com algo assim sozinho", explica Kerstin Godenrath, presidente regional da Weisser Ring na Saxônia-Anhalt, em nota.

"As vítimas ainda estão em estado de choque e desespero. Elas estão apenas 'funcionando' na vida cotidiana. Elas sofrem com a dor e a multiplicidade de ferimentos e, naturalmente, têm medo de danos permanentes, se poderão continuar trabalhando e sobre qual impacto essa terrível experiência terá em seu futuro", afirma Godenrath.

A Weisser Ring costuma ser o primeiro ponto de contato para essas pessoas conseguirem ajuda. Um dos maiores desafios é lidar com os traumas. "Nesse momento, espera-se que as pessoas procurem ajuda psicoterapêutica, que a própria Weisser Ring não pode oferecer. No entanto, também as orientamos por meio do nosso sistema de ajuda", acrescenta.

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O trabalho de apoio às vítimas não é importante apenas nos primeiros dias e semanas. As consequências de um ataque do tipo podem repercutir por meses ou mesmo anos. O mercado de Natal de Magdeburg estava bem frequentado no momento do ataque, um número correspondentemente grande de pessoas testemunhou o atentado, e elas podem precisar de ajuda mais tarde.

Busca por todos os afetados

"O que precisamos fazer agora, é claro, é encontrar todas as vítimas ou fazer com que elas se apresentem", explica Marco Vogler, que, além de seu papel como padre da polícia estadual, também é responsável pelo serviço de emergência e aconselhamento telefônico de Saxônia-Anhalt. Ele explica que, em uma situação dessas, muitos geralmente querem se afastar do local o mais rápido possível. "Talvez a pessoa tenha apenas um arranhão e só depois perceba que o que sente é mais do que apenas um arranhão. A experiência quebrou algo em seu interior. Mas a vítima está em um filme tal que impede que os sentimentos aflorem."

Vogler tenta manter suas conversas em um ambiente neutro. Entretanto, às vezes pode fazer sentido visitar a cena onde tudo aconteceu junto com a vítima. "Por exemplo, quando você volta ao local onde o mercado de Natal foi montado para desmistificá-lo. Para que o local se normalize novamente, o paciente pode ser levado para o hospital. Para que, assim, o local se normalize novamente, perca sua aura – mesmo que sempre permaneça uma sombra sobre ele."

Dando voz às vítimas

Roland Weber, o comissário do governo alemão para vítimas, está coordenando o apoio nacional às vítimas do ataque de Magdeburg. Ele conta com o apoio do ministério da Justiça. O comissário para vítimas serve como ponto central de contato para todas as pessoas afetadas por ataques extremistas ou terroristas na Alemanha. Essas pessoas podem ser famílias enlutadas, feridos, testemunhas, socorristas e proprietários de lojas ou instalações que foram palco de um ataque.

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Ele lida com as preocupações de todos os afetados e, em cooperação com as autoridades relevantes, providencia assistência prática, financeira e psicossocial. Além disso, ele é a voz política das vítimas e fala em nome delas nos meios político e público.

Weber disse na televisão pública alemã ZDF avaliar que muito mais de 500 pessoas foram afetadas pelo ataque. Assim como o padre da polícia estadual Vogler, Weber espera que muitos dos afetados só entrem em contato com as autoridades ou com os serviços de apoio às vítimas dias ou semanas depois, quando perceberem que estão em um estado mental ruim. "O outro grupo são as famílias dos enlutados, que são gravemente afetadas. Mas os parentes dos feridos graves também costumam entrar em contato muito mais tarde. Mas eles também precisam de ajuda", afirmou.

Lições do ataque de Berlim

Weber ressaltou na ZDF que os afetados têm direito a uma ajuda rápida "para evitar maiores transtornos de estresse pós-traumático". Ele afirmou que as autoridades aprenderam as lições do ataque ao mercado de Natal na Breitscheidplatz, em Berlim, em 2016.

Ele disse que naquela época, as vítimas foram tratadas tarde demais. Segundo Weber, também houve indenizações "pequenas demais". Em alguns casos, as vítimas estrangeiras não tiveram direito à indenização. Como resultado, as leis foram alteradas retroativamente e "muito já foi feito". No entanto, Weber também quer analisar o que deu errado no apoio às vítimas após o ataque de Magdeburg.Autor: Ralf Bosen

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