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Rick Perry, candidato à Presidência dos EUA, tem mancha no currículo: o abuso de poder

Rick Perry, ex-governador do Texas, anunciou nesta quinta-feira sua candidatura às primárias do Partido Republicano para a presidência dos EUA - Ron Jenkins - 04.jun.2015 / Getty Images / AFP
Rick Perry, ex-governador do Texas, anunciou nesta quinta-feira sua candidatura às primárias do Partido Republicano para a presidência dos EUA Imagem: Ron Jenkins - 04.jun.2015 / Getty Images / AFP

Albert Traver

De Addison

04/06/2015 19h17

Quando Rick Perry foi acusado de abuso de poder e coações se apresentou voluntariamente ao tribunal, sorriu desafiador para sua ficha policial e foi tomar um sorvete, mas hoje essas duas acusações são o principal empecilho do ex-governador do Texas em seu caminho para a Casa Branca.

Carismático, propenso ao "show" político e artífice do "milagre texano", Perry apresentou nesta quinta-feira sua candidatura às primárias do Partido Republicano - que já tem outros nove aspirantes em disputa - para as eleições presidenciais de 2016 nos Estados Unidos.

Nascido há 65 anos em pleno Distante Oeste americano, Perry cresceu entre vaqueiros e gado, serviu durante cinco anos na Força Aérea, participou de missões na África e América Central, e antes de iniciar sua carreira política se dedicou, junto com seu pai, Joseph Ray, ao negócio do algodão no rancho familiar.

Perry estreou no Capitólio do Texas como representante democrata e serviu aos interesses liberais durante três legislaturas, até se transformar em 1989 em republicano.

Em dezembro de 2000, assumiu o governo do Texas sem passar pelo crivo das urnas quando seu antecessor, George W. Bush, fez as malas, deixou Austin e se mudou para a Casa Branca.

Desde então o líder republicano, com uma popularidade extraordinária, ganhou as eleições três vezes (2002, 2006 e 2010), relegou os democratas do Texas ao ostracismo político - onde ainda continuam, e se tornou o governador que mais tempo passou no cargo: quase 15 anos.

Durante esta quase uma década e meia no poder, Perry supervisionou 279 execuções de presos, muito mais do que qualquer outro governador na história dos Estados Unidos, mostrando sua mão firme com quem desrespeita a lei.

Sua gestão teve viagens e vindas: membro da Associação Nacional da Espingarda, conservador, religioso e contrário ao intervencionismo estatal, erigiu o Texas como um contrapoder à Washington, enfrentando a reforma da saúde do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e com uma postura em transformação sobre a imigração em um estado que tem 40% de população hispânica.

Se em 2001 apoiou o "Texas Dream Act", lei que permite o acesso de imigrantes ilegais à Universidade em condições vantajosas, antes de deixar o cargo militarizou a fronteira com o México durante uma das maiores crises migratórias dos últimos anos, para dissuadir os menores não acompanhados que fugiam da violência de quadrilhas em Guatemala, El Salvador e Honduras de atravessá-la.

Perry também foi artífice do chamado "milagre texano": favorecida pelos altos preços do petróleo, a economia do estado da estrela solitária despontou na criação de empregos e na atração de empresas com estímulos fiscais.

Sua gestão ficou manchada pelo processo aberto em que era acusado de abuso de poder e coerção por ter ameaçado uma promotora democrata que tinha sido surpreendida alcoolizada ao volante de retirar uma verba de seu escritório se não renunciasse ao posto, duas acusações que podem acarretar mais de 100 anos de prisão e que mancharam sua candidatura.

Perry, que já investiu mais de US$ 1 milhão em sua defesa, pretendia fazer o anúncio de hoje com o arquivamento das acusações no bolso, mas a continuidade do litígio reduz sua credibilidade como aspirante e dificulta a obtenção de fundos para a campanha.

O outro obstáculo à sua aspiração presidencial é a lembrança de 2012, quando sua primeira campanha presidencial foi a pique durante um debate com os outros pré-candidatos republicanos em Michigan, ao não ser capaz de lembrar uma das três agências federais que pretendia eliminar se fosse eleito presidente.

Veterano da Força Aérea, "cowboy" do Distante Oeste e bem-sucedido governador no Texas, Perry, casado e pai de dois filhos, cumpre o papel com os requisitos para apresentar batalha nas primárias republicanas.

Seu sucesso dependerá do desenvolvimento do processo penal contra ele e de sua capacidade de sedução em Iowa, New Hampshire e Carolina do Sul, os primeiros estados a votar.