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Scioli aposta em agenda de desenvolvimento para recuperar "Grande Argentina"

Presidência da Argentina/AFP
Imagem: Presidência da Argentina/AFP

Mar Marín

Em Buenos Aires

22/10/2015 20h46

Daniel Scioli saiu do esporte para política, colaborou com vários presidentes e garante que se preparou para dirigir a "Grande Argentina", além de se resumir como "leal, previsível e confiável, como um bom peronista".

Aos 58 anos, Scioli é o exemplo do político que evita o confronto aberto. Aprendeu a estratégia durante sua carreira esportiva e a aplicou em sua longa trajetória política.

Filho de uma família de empresários de origem italiana, ele se tornou um rosto habitual em seu país por sua atividade esportiva - foi piloto de powerboat nas décadas de 80 e 90. Em 1989, perdeu o braço direito em um grave acidente náutico, mas, longe de se render, ganhou posteriormente um campeonato mundial.

"Quando caí, me levantei e aí aprendi o que era ganhar", lembrou Scioli em um livro autobiográfico.

O candidato entrou na política em 1997 como deputado, apoiado pelo ex-presidente Carlos Menem, um peronista liberal hoje distante dos kirchneristas da Frente para a Vitória, coligação pela qual Scioli busca chegar à Casa Rosada.

Scioli foi também secretário de Estado, ministro (com Eduardo Duhalde) e vice-presidente na chapa de Néstor Kirchner antes de governar a província de Buenos Aires, o maior colégio eleitoral do país e o principal reduto peronista, um bom trampolim para vencer o pleito.

Nem o distanciamento que teve durante anos em relação à atual presidente, Cristina Kirchner, nem os ataques do kirchnernismo, que se acentuaram a partir de 2012, quando ele mostrou sua vontade de se candidatar à presidência, conseguiram desgastá-lo.

Enquanto evitava responder às críticas kirchneristas, seu nome subia nas pesquisas, até que Cristina teve que ceder diante da preferência do eleitorado e apoiar sua candidatura.

"Hoje a corrida é muito diferente, apesar de se parecer muito com minha vida no mar. Essa mesma vida que me disse: siga correndo, Daniel. E hoje me coloca em uma outra nova corrida rumo à Grande Argentina", diz Scioli em seu livro, uma biografia de sua vida em fotos nas quais aparece, entre outras personalidades, com seus principais adversários no pleito, Mauricio Macri e Sergio Massa.

"A essência da política é o diálogo. É preciso conversar mais. Falo com todas, não importa o grupo político. Gosto de construir consenso, unir, e isso é o que as pessoas querem para o futuro", defendeu o candidato governista.

Essa estratégia foi responsável por garantir um grande apoio a Scioli dentro do peronismo tradicional, permitindo também que ele mantivesse uma estreita relação com o ainda arcebispo Jorge Bergoglio, hoje Papa Francisco, inclusive nos momentos de maior tensão entre o kirchnerismo e a Igreja Católica.

Em um momento político marcado pelo confronto, sua imagem conciliadora contribui para explicar seu nível de aceitação após oito anos de gestão em uma província que mantém altos índices de violência, pobreza e corrupção.

Apesar disso, alguns de seus colaboradores mais próximos admitem que, em particular, Scioli é um homem de personalidade forte, duro com suas equipes, que não deixa nada ao acaso e supervisiona cada detalhe. Eles também garantem que se trata de um homem obsessivo com o trabalho e que não descansa nunca.

O candidato revisa e escolhe, por exemplo, as fotos oficiais de suas atividades que serão publicadas, além de acompanhar com atenção os veículos de comunicação e redes sociais.

Detalhista, a poucos dias das eleições encerrou um de seus assuntos particulares pendentes: formou-se em Comércio para chegar às urnas com diploma universitário.

O candidato possui uma "vontade inquebrável" e uma tenacidade que, reconheceu certa vez, o ajudou a recuperar sua mulher, a ex-modelo Karina Rabolini, após o divórcio.

Scioli e Rabolini se casaram em 1991. Sete anos depois, se divorciaram, voltando a se unir em 2003, quando ele assumiu a vice-presidência na chapa de Néstor Kirchner. Para reconquistá-la, não hesitou em pendurar um grande cartaz na rua com a mensagem: "Karina, eu te amo".

Ela agora é uma de suas mais valiosas colaboradoras e um ativo em sua equipe. Outro que tem um protagonismo especial é seu irmão, Pepe Scioli, que o acompanha desde o início de sua carreira política.

Scioli e Rabolini não tiveram filhos, mas o governador é pai de uma menina, Lorena, que reconheceu após um julgamento de paternidade ocorrido quando a jovem tinha 17 anos.

Seu refúgio é uma casa em Villa Lañata, uma pequena cidade da província de Buenos Aires. É lá onde Scioli recebe políticos, empresários e personalidades e tem contato com outra de suas paixões, o futebol, jogando com o time local de futebol, mas sem mostrar a mesma habilidade de político.

Scioli apresenta uma bandeira para vencer as eleições: recuperar a "Grande Argentina" com uma "agenda do desenvolvimento". Como ele conseguirá isso ainda é uma incógnita. Scioli foge do confronto e também da definição sobre seus planos de governo.

"Vou cuidar do que precisa ser cuidado e mudar o que deve ser mudado. Há coisas que requerem continuidade e outras que precisam de alterações", afirmou diversas vezes.