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Ramzan Kadyrov anuncia intenção de deixar cargo de presidente da Chechênia

27/02/2016 16h12

Moscou, 27 fev (EFE).- O presidente da república russa da Chechênia, Ramzan Kadyrov, anunciou neste sábado sua intenção de deixar o cargo quando seu mandato expirar em abril, em uma declaração que coincidiu com o primeiro aniversário do assassinato do dirigente opositor russo Boris Nemtsov.

"Para que não utilizem meu nome contra meu próprio povo, considero que os dirigentes do Estado devem buscar outra pessoa. Eu digo: meu momento passou", afirmou Kadyrov em declarações à emissora "NTV".

Kadyrov, que foi hoje acusado pela oposição extraparlamentar de estar envolvido no assassinato de Nemtsov há um ano, garantiu que o Kremlin tem muitos sucessores para escolher entre os membros de sua equipe de governo na Chechênia.

O líder checheno destacou que toda pessoa tem um limite: "Este é meu limite. Este é o limite para Kadyrov", disse o governante republicano, que assumiu o cargo em 2007, logo após completar 30 anos.

Até agora, o presidente russo, Vladimir Putin, tinha defendido Kadyrov ferrenhamente, sempre o elogiando por estabilizar sua república, ao desarticular a guerrilha separatista e melhorar o nível de vida de seu povo.

No entanto, os contínuos escândalos nos quais se viu implicado acabaram cobrando caro, em particular o artigo que publicou no jornal "Izvestia" e no qual chamou os opositores a Putin de "inimigos do povo" e "traidores".

Poucos dias depois do assassinato de Nemtsov com vários disparos nas costas em uma ponte perto do Kremlin, Kadyrov descreveu como "um autêntico patriota da Rússia" o homem apontado pela Justiça como autor material desse crime, Zaur Dadaev.

Recentemente, Kadyrov publicou no Instagram uma montagem de vídeo na qual se via o ex-primeiro-ministro e líder do partido liberal PARNAS, Mikhail Kasianov, na mira de uma arma - imagens que foram retiradas pela rede social por transgredir as normas de uso.

O dirigente opositor qualificou o vídeo de "ameaça direta de assassinato contra uma personalidade publica", delito tipificado no Código Penal russo e que é castigado com até dois anos de prisão.

Pouco depois, Kasianov, estreito aliado do assassinado Nemtsov, foi agredido em um restaurante do centro de Moscou por dez desconhecidos, todos oriundos da Chechênia, segundo a imprensa local.

Nesta semana, Ilya Yashin, colaborador de Nemtsov, publicou um relatório no qual acusava o líder checheno de constituir "uma ameaça para a segurança nacional".

"Pouca gente se deu conta que no território da Rússia nos últimos anos se formou nosso próprio Estado Islâmico. O califado checheno vive com suas próprias tradições e leis, mas recebendo bilhões de subsídios do orçamento federal russo", afirma o relatório.

O opositor denunciou a existência de um "exército privado" de Kadyrov que, segundo os analistas, é integrado por 30.000 homens que respondem a seu líder e não ao poder federal.

Kadyrov também é acusado pela oposição e ativistas de direitos humanos de estar por trás da morte há dez anos da jornalista Anna Politskovskaya e da ativista chechena Natalia Estemírova, em 2009.

Da mesma forma que seu pai, que exerceu o cargo de presidente checheno até ser assassinado pela guerrilha em maio de 2004, Kadyrov combateu contra as forças federais russas na primeira guerra chechena (1995-1996), mas depois mudou de lado.