Cor da pele fecha portas para atores no mercado publicitário do México
Martí Quintana.
Cidade do México, 31 dez (EFE).- Atores de cor de pele clara protagonizam a grande maioria dos anúncios publicitários no México, um fato que põe em evidência o racismo no país e mostra como muitos profissionais locais são discriminados pelo mercado.
"A publicidade para produtos de consumo requer um perfil inspiracional, e esse é um branco de olhos claros, estatura média, com idade entre 25 e 45 anos", explicou à Agência Efe o ator Rodrigo Franco, atual presidente da Associação Nacional de Intérpretes.
Com 51 anos, 1,56 metros de altura e a fisionomia do "típico mexicano", Franco acumula dezenas de histórias sobre o racismo no mundo da publicidade por não atender aos padrões desejados.
Os relatos de história de racismo são variados. Uma vez, um diretor pediu que ele mostrasse um diploma de interpretação em um teste para atuar como um pedreiro. Em outra, ele foi expulso de um local por um segurança que estava convencido de que ele não fazia parte do elenco devido à aparência.
Na prática, o "nativo mexicano", como diz Franco, tem possibilidade de aparecer em apenas 5% dos anúncios televisivos do país. Ele calcula que a publicidade comercial ocupa 90% da programação e a governamental 10%, que se divide entre anúncios oficiais - discursos do presidente - e outros programas.
Segundo o World Factbook da CIA, 62% na população mexicana é mestiça. Apenas 10% tem ascendência europeia.
Para a médica Sayak Valencia, pesquisadora do Colégio da Fronteira do Norte, a publicidade é apenas uma ramificação de um "colonialismo internalizado" que exibe a "branqueza" como um "capital cultural, racial, econômico e político".
Apesar de Valencia ter considerado que a situação tem melhorado com o tempo, com pessoas morenas, indígenas e mestiças nos anúncios, para ela, essa é uma "representação muito estética ocidental".
Em agosto de 2013, o anúncio para um casting gerou indignação em todo país. A Aeroméxico, que tem "a linha que nos une" como slogan, buscava atores e atrizes para um de seus comerciais, mas especificava que não queria "ninguém moreno".
A companhia aérea pediu perdão e culpou a empresa encarregada pela seleção. Apesar de o caso ter rodado o país, as seleções atuais contêm uma mensagem similar, embora disfarçada.
"Latino internacional, magro, bom sorriso e boa expressão", diz uma convocação para um anúncio de doces e chicletes que a Efe teve acesso. Outro também, de uma maionese, também pede "latinos internacionais", mas com "bom look e rostos memoráveis".
"Eles procuram muito uma imagem específica, mas isso mudou muito. Nos anos 90, lembro de ver muitas atrizes loiras", disse Diana, uma atriz mexicana de 30 anos que preferiu esconder seu nome verdadeiro.
Com os olhos verdes e cabelo claro, ela se encaixa no perfil de "latina internacional" tão em voga atualmente, mas denuncia outra discriminação: as agências preferem pessoas estrangeiras.
"Eu disputo com venezuelanas, argentinas, brasileiras e com todos os estrangeiros. Sempre há discriminação porque julgam você pelo físico. Mas se você é morena, é pior", destacou.
Manuel (nome fictício), um ator espanhol de 37 anos que está há 2 anos no México, admite que o "perfil mexicano" é minoritário na publicidade. Além disso, ele nunca é usado em papéis de "galãs" ou como "figuras de inspiração" das propagandas.
"Vários de meus colegas, com feições tipicamente mexicanas, já não comparecem a castings de comerciais", disse Manuel.
Em plena época natalina, a discriminação na publicidade fica mais evidente que nunca. É o momento de incentivar as compras com produtos oferecidos por famílias perfeitas nas propagandas que no México, ironicamente, são mais loiras e têm a pele muito mais clara do que a média nacional.
Cidade do México, 31 dez (EFE).- Atores de cor de pele clara protagonizam a grande maioria dos anúncios publicitários no México, um fato que põe em evidência o racismo no país e mostra como muitos profissionais locais são discriminados pelo mercado.
"A publicidade para produtos de consumo requer um perfil inspiracional, e esse é um branco de olhos claros, estatura média, com idade entre 25 e 45 anos", explicou à Agência Efe o ator Rodrigo Franco, atual presidente da Associação Nacional de Intérpretes.
Com 51 anos, 1,56 metros de altura e a fisionomia do "típico mexicano", Franco acumula dezenas de histórias sobre o racismo no mundo da publicidade por não atender aos padrões desejados.
Os relatos de história de racismo são variados. Uma vez, um diretor pediu que ele mostrasse um diploma de interpretação em um teste para atuar como um pedreiro. Em outra, ele foi expulso de um local por um segurança que estava convencido de que ele não fazia parte do elenco devido à aparência.
Na prática, o "nativo mexicano", como diz Franco, tem possibilidade de aparecer em apenas 5% dos anúncios televisivos do país. Ele calcula que a publicidade comercial ocupa 90% da programação e a governamental 10%, que se divide entre anúncios oficiais - discursos do presidente - e outros programas.
Segundo o World Factbook da CIA, 62% na população mexicana é mestiça. Apenas 10% tem ascendência europeia.
Para a médica Sayak Valencia, pesquisadora do Colégio da Fronteira do Norte, a publicidade é apenas uma ramificação de um "colonialismo internalizado" que exibe a "branqueza" como um "capital cultural, racial, econômico e político".
Apesar de Valencia ter considerado que a situação tem melhorado com o tempo, com pessoas morenas, indígenas e mestiças nos anúncios, para ela, essa é uma "representação muito estética ocidental".
Em agosto de 2013, o anúncio para um casting gerou indignação em todo país. A Aeroméxico, que tem "a linha que nos une" como slogan, buscava atores e atrizes para um de seus comerciais, mas especificava que não queria "ninguém moreno".
A companhia aérea pediu perdão e culpou a empresa encarregada pela seleção. Apesar de o caso ter rodado o país, as seleções atuais contêm uma mensagem similar, embora disfarçada.
"Latino internacional, magro, bom sorriso e boa expressão", diz uma convocação para um anúncio de doces e chicletes que a Efe teve acesso. Outro também, de uma maionese, também pede "latinos internacionais", mas com "bom look e rostos memoráveis".
"Eles procuram muito uma imagem específica, mas isso mudou muito. Nos anos 90, lembro de ver muitas atrizes loiras", disse Diana, uma atriz mexicana de 30 anos que preferiu esconder seu nome verdadeiro.
Com os olhos verdes e cabelo claro, ela se encaixa no perfil de "latina internacional" tão em voga atualmente, mas denuncia outra discriminação: as agências preferem pessoas estrangeiras.
"Eu disputo com venezuelanas, argentinas, brasileiras e com todos os estrangeiros. Sempre há discriminação porque julgam você pelo físico. Mas se você é morena, é pior", destacou.
Manuel (nome fictício), um ator espanhol de 37 anos que está há 2 anos no México, admite que o "perfil mexicano" é minoritário na publicidade. Além disso, ele nunca é usado em papéis de "galãs" ou como "figuras de inspiração" das propagandas.
"Vários de meus colegas, com feições tipicamente mexicanas, já não comparecem a castings de comerciais", disse Manuel.
Em plena época natalina, a discriminação na publicidade fica mais evidente que nunca. É o momento de incentivar as compras com produtos oferecidos por famílias perfeitas nas propagandas que no México, ironicamente, são mais loiras e têm a pele muito mais clara do que a média nacional.
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