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Tragédia da Chapecoense tem marcas vivas no local da queda do avião

28/11/2017 07h09

Jeimmy Paola Sierra.

La Unión (Colômbia), 28 nov (EFE).- "Não queria me lembrar de nada daquela noite", dizia Luis Albeiro Valencia enquanto paradoxalmente fincava cruzes no local agora conhecido como Cerro Chapecoense com imagens das 71 pessoas que em 28 de novembro de 2016 lá morreram em um acidente aéreo que deixou o mundo do futebol de luto e marcou para sempre a vida dos moradores do município de La Unión, na Colômbia.

O rosto de Sissy Arias, que era uma dos cinco integrantes da tripulação boliviana que faleceram, é o primeiro a aparecer na caixa na qual eram transportadas as dezenas de cruzes de madeira que foram fabricadas por dois moradores do povoado de Pantalio, no limite de La Unión com La Ceja.

A ideia destes e outros moradores é preparar com flores e elementos religiosos a parte do morro onde caiu o avião Avro RJ85, da companhia aérea LaMia, para lembrar o primeiro aniversário da tragédia que matou quase toda a delegação da Chapecoense que viajava rumo a Medellín para disputar com o Atlético Nacional o jogo de ida da final da Copa Sul-Americana, além de jornalistas, convidados e tripulantes.

"São 71 vítimas, e seria muito duro se ninguém aqui se lembrasse delas", comentou Valencia para explicar a devoção com a qual cuida do altar que os moradores da região construíram, com imagens de santos, para homenagear os que morreram e o sentimento que surgiu de irmandade em relação à cidade de Chapecó.

No antes chamado Cerro Gordo e rebatizado com o nome do time, cercado por cultivos de tomate, milho e batata, a tragédia mantém nítidos sinais.

"Desde que o acidente aconteceu sentimos tristeza e dor por ver que tantas pessoas morreram dessa maneira", afirmou à Efe Luz Mary Quintero enquanto caminhava pela espessa vegetação local.

Cerca de 200 pessoas visitam o morro a cada fim de semana com a ideia de encontrar detalhes da tragédia, orar pelos mortos e conhecer as histórias por trás do resgate dos seis sobreviventes.

Para fugir da provável grande aglomeração na romaria programada para amanhã, onde está programada uma cerimônia religiosa e alguns atos simbólicos, Pablo Ramírez saiu antecipadamente da cidade vizinha de Santuario para pagar uma conta pendente como amante do futebol brasileiro e do Atlético Nacional.

"Queria saber onde ficou esse grande equipe que foi a Chapecoense. Sente-se algo muito duro, porque eles eram irmãos do futebol", disse o visitante.

Em seguida, ao passar pelo altar, que tinha cartazes do goleiro Danilo e do auxiliar técnico Almir Domingues, disse aos dois filhos pequenos que o acompanhavam que era preciso respeitar o local e o momento, e se silenciou.

Para ele, foi especial ver pequenos fragmentos dessa história na parte mais alta da montanha, onde a cauda do avião bateu.

Também lá, junto com uma bandeira do clube, parte de uma asa da aeronave e de um pedaço de faixa com a palavra "Imortais", Luis Valencia continuava com a colocação de cruzes e contou ao visitante parte do que viveu na trágica noite.

"Não gosto de lembrar da tragédia, mas quando estou trabalhando e ouço passar um avião, é a primeira coisa em que penso. Então tudo vem à minha cabeça", disse.

"Coloquei o trem de pouso na minha casa. Pensava em fazer um monumento com ele, mas em um ano as autoridades não colocaram nem mesmo uma faixa", criticou.

Em casa, Valencia também reservou espaço para homenagear as vítimas. Com parte de uma árvore da região da tragédia, ele fez uma pequena réplica do avião da LaMia e colou fotos das 77 pessoas que estavam a bordo em algumas moedas que encontrou em meio aos destroços.

Uma bola que ele achou três meses depois do acidente também está em sua casa, mas ela não faz parte dos pertences mais valiosos que Valencia retirou dos destroços em uma parte do morro que continua a ser de difícil acesso pelo mau estado da estrada e pela instabilidade do solo em época de chuvas.

Aparelhos de telefone celular, dinheiro e documentos do atacante Kempes passaram pelas mãos do colombiano. Ele disse esperar que estes objetos cheguem um dia aos familiares das vítimas, pois jamais teve contato com eles, nem com os sobreviventes brasileiros - a comissária de bordo boliviana Ximena Suárez visitou sua casa.

"Minha esposa abriu a porta e mostrou as coisas que temos. Ela começou chorar em frente às fotos de seus companheiros", disse Valencia, para depois refletir sobre o que acontecerá com o passar do tempo.

"Somos muito poucos os que continuaremos vindo. Tudo se esquece", lamentou, mas prometendo que não vai deixar de cuidar do lugar onde terminaram os sonhos de 71 pessoas.