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Sudão do Sul dá início a frágil cessar-fogo entre governo e rebeldes

24/12/2017 20h58

Atem Simon Mabior

Juba, 24 dez (EFE).- O cessar-fogo estipulado na quinta-feira passada em Adis-Abeba entre o governo e as principais facções rebeldes sul-sudanesas entrou em vigor neste domingo, seguido pelas primeiras acusações de descumprimento e em meio à desconfiança depois de quatro anos de conflito armado.

O principal grupo rebelde do Sudão do Sul, liderado pelo ex-vice-presidente e líder opositor Riek Machar, acusou as forças governamentais de violarem a trégua, que entrou em vigor nesta madrugada.

Segundo o porta-voz militar adjunto das forças leais a Machar, Iam Paul Gabriel, as tropas do presidente Salva Kiir atacaram um quartel dos rebeldes na região de Koch, situada no estado de Liech Norte, no noroeste do país.

Em comunicado, o porta-voz explicou que os confrontos, que explodiram pouco depois da entrada em vigor da cessação de hostilidades, se prolongaram durante o dia.

"Isto mostra que o governo não tem a intenção de alcançar a paz no Sudão do Sul", comentou Gabriel, que fez um pedido para a comunidade internacional impedir este tipo de 'violação" por parte do Exército governamental.

O presidente emitiu no sábado um decreto com o qual ordenou que todas as unidades sob o comando do Executivo encerrem as hostilidades e permaneçam nas atuais posições.

Além disso, pediu ao chefe do Estado-Maior da Defesa que informasse a todos os militares para que respeitem o cessar-fogo, aplicado em todo o país.

Machar também ordenou no sábado que seus homens parassem imediatamente os ataques e assegurou que seu grupo está comprometido com a cessação das hostilidades, mas ressaltou que romperá o pacto caso seja necessário para a "defesa das posições" dos rebeldes.

A facção armada leal ao atual vice-presidente sul-sudanês, Taban Deng, que ocupa o cargo no governo de unidade nacional desde julho de 2016, também aderiu à cessação de hostilidades.

O acordo de cessar-fogo foi firmado entre as duas partes na Etiópia, com o apoio da Autoridade Intergovernamental para o Desenvolvimento no Leste da África (IGAD), que atua como mediador no conflito.

A IGAD busca reviver o acordo de paz assinado pelo governo e a oposição em agosto de 2015, também em Adis-Abeba, que visava encerrar o conflito que explodiu em dezembro de 2013 entre os leais a Kiir, da etnia dinka, e os homens de Machar, da tribo nuer, os dois principais grupos étnicos do país.

Esse pacto levou à criação de um governo de unidade nacional em abril de 2016, no qual Machar voltou a ocupar a vice-presidência, da qual foi expulso em 2013, após ter sido acusado de tentar um golpe de Estado contra Kiir.

O governo de unidade continua de pé, mas sem a presença de Machar, que fugiu do país em julho de 2016, quando se desencadearam novos combates entre os rebeldes e as forças governamentais na capital, Juba.

Esses enfrentamentos, que em poucos dias deixaram cerca de três mil mortos, romperam a confiança entre os dois líderes políticos e abriram as portas para a volta da violência entre as suas forças.

Desde então, choques e ataques armados são recorrentes e os civis são os que mais sofrem as consequências da violência e do estancamento da reconciliação política.