Porto Alegre: enchente de 1941 durou 22 dias e deixou 70 mil desabrigados

As fortes chuvas que atingem o Rio Grande do Sul afetaram 425 cidades e mudaram a vida de quase 1,5 milhão de pessoas no estado. Em Porto Alegre, o nível do Guaíba ultrapassou a marca da maior enchente desde 1941, quando chegou a 4,76 metros e inundou grande parte do centro da capital gaúcha.

Relembre como foi a enchente de 1941

Até agora, 1941 havia ficado marcado como o ano da pior enchente da história de Porto Alegre. Entre os meses de abril e maio daquele ano, a cidade teve 22 dias de chuvas de maneira ininterrupta.

Na ocasião, as chuvas se distribuíram na chamada bacia hidrográfica da Lagoa dos Patos — que recebe as águas do Guaíba e outros rios do Rio Grande do Sul. Consequentemente, aconteceu a elevação do nível dos rios do estado.

Segundo o museu Joaquim Felizardo, o nível do Guaíba chegou a marca de 4,75 metros — de acordo com a CNN, algumas publicações falam até em 4,76 metros.

Cerca de 70 mil pessoas ficaram desabrigadas. Número equivale a aproximadamente um quarto da população da capital gaúcha na época, que era de 272 mil habitantes. Com as aulas suspensas, as escolas da cidade se transformaram em abrigos.

A arquiteta Elenara Stein Leitão compartilhou com o jornal O Globo uma carta de 1941 escrita por sua mãe, Helena Silva Stein, durante a tragédia. No relato, a então jovem de 16 anos conta detalhes da enchente histórica: "Os trens pararam e o telégrafo interrompeu. Estávamos simplesmente isolados do interior. Cinemas, colégios, Faculdade de Medicina e Direito ficaram cheios de flagelados e o governo sustentando todo o pessoal."

A cidade esteve vários dias às escuras, sem água, sem leite, sem jornal, foi mesmo de assustar!
Carta escrita por Helena Silva Stein publicada pelo jornal O Globo

Enchente de 1941 em Porto Alegre (RS)
Enchente de 1941 em Porto Alegre (RS) Imagem: Reprodução / Acervo do Museu Joaquim Felizardo

Cidade ilhada. A enchente atingiu o porto, a estação ferroviária e o aeroporto municipal. Ainda segundo o museu, um dos momentos mais críticos do episódio foi quando a água atingiu a Usina do Gasômetro e deixou Porto Alegre sem luz. Depois do apagão, veio também a interrupção do abastecimento de água.

Continua após a publicidade

Barcos se tornaram o principal meio de transporte durante o período. No centro da cidade, no lugar dos automóveis e bondes, barcos e canoas faziam o transporte de pedestres.

Segundo registros da época, um terço dos estabelecimentos comerciais da cidade ficaram embaixo d'água por cerca de 40 dias. De acordo com o Nexo Jornal, os bairros do Centro, Navegantes, Passo D'Areia, Menino Deus e Azenha ficaram entre as áreas mais atingidas.

Enchente de 1941 em Porto Alegre (RS)
Enchente de 1941 em Porto Alegre (RS) Imagem: Reprodução / Acervo do Museu Joaquim Felizardo

Situação poderia ter sido pior. Em um artigo científico publicado em 2020, o pesquisador André Luiz Lopes da Silveira, doutor em Ciências da Água no Ambiente Continental e professor da UFRGS, afirmou que a situação poderia ter sido ainda pior.

"Há que se considerar que o Guaíba antes da cheia de 1941 estava com nível d´água baixo, compatível com o normal esperado para abril, desta forma, pode especular que o mesmo evento chuvoso em outra época poderia resultar num coeficiente de escoamento maior, gerando uma cheia ainda maior", escreveu Silveira.

Chuvas entre abril e maio de 1941 no RS. Ainda na pesquisa, ele realizou um levantamento da precipitação registrada nas cidades gaúchas entre 13 de abril e 6 de maio de 1941.

Continua após a publicidade
Precipitação no Rio Grande do Sul em 1941 em dados organizados por André Luiz Lopes da Silveira
Precipitação no Rio Grande do Sul em 1941 em dados organizados por André Luiz Lopes da Silveira Imagem: Reprodução / André Luiz Lopes da Silveira

Como enchente mudou a cidade

Muro Mauá
Muro Mauá Imagem: Mauro Lewa Moraes / DMAE / PMPA

Muro da Mauá. A enchente histórica trouxe à tona a ideia de construir um muro de proteção para Porto Alegre. Cerca de 30 anos depois do evento, entre 1971 e 1974, foi construído o Muro da Mauá, uma estrutura de concreto de 3 metros de altura e 2,6 km de extensão que faz parte de um sistema de contenção de águas.

Diques. Atualmente, a cidade tem 24 km de diques que margeiam a FreeWay até a Avenida Castelo Branco e seguem pela Avenida Beira Rio; e mais 44 km de diques internos, às margens dos arroios que atravessam a cidade. São 68 km de diques, 14 comportas e 19 casas de bomba, de acordo com a prefeitura de Porto Alegre.

Para a água sair da cidade, o sistema é completado por casas de bombas, canais e comportas. Quando o nível do rio está alto, as bombas jogam a água nos rios.

Deixe seu comentário

Só para assinantes