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Indulto a Fujimori e corrupção de Odebrecht sacudiram política peruana

28/12/2017 20h44

Lima, 28 dez (EFE).- O indulto concedido ao ex-presidente Alberto Fujimori e os casos de corrupção relacionados com a Odebrecht transformaram 2017 em um dos anos mais agitados da história recente do Peru.

Embora o escândalo Odebrecht itenha atraído a maioria das atenções no país ao longo do ano, por envovler ex-governantes e grande parte da classe política nacional, a decisão do presidente Pedro Pablo Kuczynski de dar indulto a Fujimori em 24 de dezembro causou um terremoto político de consequências ainda imprevisíveis.

Kucyznski anunciou a medida poucas horas antes do Natal e apenas três dias após o Congresso arquivar um pedido para a sua cassação, que havia sido apresentado pela oposição depois da revelação de que uma de suas empresas fez trabalhos para a Odebrecht entre 2004 e 2007.

O governante defendeu a sua honestidade e conseguiu salvar o cargo por uma pequena margem na votação realizada pelos parlamentares, já que o pedido não obteve os votos necessários devido à abstenção de dez membros da bancada fujimorista, que domina o Legislativo.

Quando grande parte dos setores políticos e da sociedade lhe pedia para que fortalecesse sua gestão, Kuczynski surpreendeu com o anúncio do indulto por razões humanitárias, alegando que a saúde do ex-governante corria risco na prisão.

A decisão não foi bem recebida por grande parte do país, que considerou que ela semeava a impunidade, já que o ex-mandatário cumpria pena de 25 anos de prisão por crimes contra a humanidade, e pela rapidez com que o benefício foi aprovado.

Na opinião pública nacional cresceu a ideia de que, na realidade, o que houve foi um grande acordo político para que Kuczynski se mantivesse no cargo em troca da liberdade de Fujimori.

O ano terminou, dessa maneira, com renúncias de funcionários do governo em desacordo com o indulto e protestos populares que fazem pensar que Kuczynski enfrentará um cenário político muito adverso durante 2018.

Há ainda a onda expansiva do escândalo Odebrecht, com as investigações em andamento e julgamentos e investigações para todos os gostos.

Desde que começaram a vir à tona as delações de Marcelo Odebrecht e de seu ex-representante no Peru, Jorge Barata, às autoridades de Brasil e Estados Unidos, o país viveu um ano repleto de revelações sobre práticas de corrupção que não perdoaram nenhum partido, nem um governo.

Cronologicamente, a tempestade teve início em fevereiro, depois que a Odebrecht confessou à Justiça americana ter pagado no Peru, entre 2005 e 2014, US$ 29 milhões em propinas. O período compreende os governos de Alejandro Toledo (2001-2006), Alan García (2006-2011) e Ollanta Humala (2011-2016).

Em fevereiro, a polícia entrou na casa de Toledo, em Lima, para buscar informações sobre os supostos US$ 20 milhões que ele teria recebido para facilitar negócios da construtora brasileira.

Logo foram expedidas uma ordem de busca e prisão internacional contra o ex-governante e um pedido de extradição - Toledo mora nos EUA, onde se diz inocente e denuncia que existe uma perseguição política.

Kuczynski foi ministro de Toledo, e uma ala da oposição aponta que, no melhor dos casos, soube da corrupção de seu então chefe ou, inclusive, fez parte do esquema de corrupção, uma opinião que será investigada pelo Ministério Público.

Humala, ao lado de sua esposa, Nadine Heredia, é por enquanto o único a estar preso pelo escândalo. Ele foi detido em julho, apenas um ano depois de ter deixado a presidência, pela acusação de ter recebido propina da Odebrecht para suas campanhas políticas.

Contra Alan García, um dos políticos mais poderosos do país, o caso é um pouco mais difuso, e por enquanto a investigação contra ele é apenas preliminar, embora ele tenha sido chamado para depôr como testemunha em outras investigações contra funcionários do alto escalão de seu segundo governo (2006-2011).

A atual líder da oposição, Keiko Fujimori, filha mais velha do ex-presidente Alberto Fujimori, também se viu envolvida no caso depois que seu nome apareceu em documentos apreendidos com Marcelo Odebrecht e este reconheceu ter financiado sua campanha eleitoral. Ela nega a acusação.

As delações do caso colocaram em dúvida e sob o radar da Justiça a ex-prefeita de Lima Susana Villarán, um ícone da esquerda peruana. Ela também teria recebido dinheiro da Odebrecht para uma campanha eleitoral e, atualmente está proibida de sair do país.