Acordo olímpico evidencia racha em torno de Coreia unificada
Andrés Sánchez Braun.
PyeongChang (Coreia do Sul), 25 jan (EFE).- O acordo para a participação da Coreia do Norte nos Jogos Olímpicos de Inverno de PyeongChang evidenciou a diferença de posição entre gerações de sul-coreanos sobre uma hipotética reunificação entre os dois países da Península Coreana.
O megaevento esportivo foi encarado como uma ótima notícia para os 43 mil habitantes do condado rural de PyeongChang, para onde trouxe investimentos, infraestrutura e turismo.
No entanto, o roteiro dos Jogos mudou sensivelmente depois que as duas Coreias chegaram a um acordo - após anos de desencontro e tensão pelo avanço das políticas nucleares do regime - para a participação dos norte-coreanos, com direito a desfile da duas delegações como uma só na cerimônia de abertura e a uma equipe feminina conjunta de hóquei no gelo.
"Estou muito entusiasmado de poder estar com norte-coreanos durante os Jogos", contou Choi Song-hwan, de 73 anos, um dos 20 mil voluntários olímpicos, em Daegwallyeong, vila de pouco mais de 6 mil habitantes para onde os olhos do mundo estarão voltados no dia 9 de fevereiro, data do início dos Jogos.
Daegwallyeong é onde fica o estádio que sediará a cerimônia de abertura na qual as duas Coreias - que permanecem oficialmente em guerra desde os anos 1950 - realizarão seu primeiro desfile olímpico em 12 anos por uma mesma bandeira.
"Meu desejo é de que a reunificação se tornasse realidade logo", afirmou ele sobre esta importante aproximação que, para Seul, pode ajudar a iniciar o diálogo para uma futura reunificação.
Este engenheiro aposentado, que nasceu em Seul em 1945, coincidindo com o fim da ocupação japonesa e a divisão de seu país em dois, representa com perfeição a ala da sociedade sul-coreana que ainda mantem vivo o drama que a Península Coreana sofreu no século XX e que sonha em voltar a vê-la unificada.
Choi era criança quando começou a guerra que deixou cerca de 2,5 milhões de mortos entre 1950 e 1953 e que impede até hoje a reunificação entre Norte e Sul.
Lee Ji-seol, de 21 anos e também voluntária, é, por outro lado, um bom reflexo do que pensam sobre a questão os jovens do Sul, obrigados a lidar com uma realidade hipercompetitiva para garantirem seu futuro e mais céticos - até reticentes - a respeito de uma hipotética reunificação, como mostram pesquisas de opinião.
"Acredito que nós jovens temos um problema com a reunificação. Falo com meus amigos, e eles afirmam: 'vivemos bem assim, por que precisamos unificar os dois países?", disse Lee, que nasceu em PyeongChang.
Mesmo assim, ela não é categoricamente contrária a uma Coreia unificada, ao contrário de Park Min-cheol, outro voluntário de 23 anos que também é oriundo desta região.
"Eu e meus amigos não concordamos com a reunificação", contou Park, que teve que realizar o serviço militar obrigatório de dois anos, como todo adulto sul-coreano do sexo masculino.
O estudante universitário garante que, após ter visto de perto a realidade norte-coreana no transcurso das patrulhas e das guardas de fronteira, "nenhum dos companheiros se mostrou favorável à reunificação".
"Claro que acredito que podemos ajudá-los e oferecer apoio, mas, por que reunificar?", questionou.
O veterano Choi, que serviu com as tropas sul-coreanas em outro conflito da Guerra Fria, no Vietnã, acredita ter a resposta para essa pergunta.
"Vivi a guerra (da Coreia) e estive no Vietnã. Os jovens não entendem como a guerra pode tirar tudo de você. Não a viveram e acreditam que nunca vão sofrer, mas temo que, sem reunificação, sempre existirá a possibilidade de que haja uma guerra na península", afirmou.
Mas em uma coisa os três concordam: se algum dia a reunificação acontecer, deveria ser com um sistema democrático como o que impera no Sul, e não sob "os termos de Norte", onde a linha oficial defende uma Coreia unificada sob a liderança da família Kim.
Nesse sentido, Lee acredita que "a reunificação deve ser um objetivo de longo prazo, e que deve ser benéfica para os dois países para que aconteça".
"80% dos maiores de 50 anos apoiam a reunificação, mas a verdade é que esta possibilidade já não pertence a nós", concluiu Choi, que acredita que o tema deve ficar a cargo dos jovens.
"Deve vir deles a decisão de unificar ou não os dois países", ressaltou.
PyeongChang (Coreia do Sul), 25 jan (EFE).- O acordo para a participação da Coreia do Norte nos Jogos Olímpicos de Inverno de PyeongChang evidenciou a diferença de posição entre gerações de sul-coreanos sobre uma hipotética reunificação entre os dois países da Península Coreana.
O megaevento esportivo foi encarado como uma ótima notícia para os 43 mil habitantes do condado rural de PyeongChang, para onde trouxe investimentos, infraestrutura e turismo.
No entanto, o roteiro dos Jogos mudou sensivelmente depois que as duas Coreias chegaram a um acordo - após anos de desencontro e tensão pelo avanço das políticas nucleares do regime - para a participação dos norte-coreanos, com direito a desfile da duas delegações como uma só na cerimônia de abertura e a uma equipe feminina conjunta de hóquei no gelo.
"Estou muito entusiasmado de poder estar com norte-coreanos durante os Jogos", contou Choi Song-hwan, de 73 anos, um dos 20 mil voluntários olímpicos, em Daegwallyeong, vila de pouco mais de 6 mil habitantes para onde os olhos do mundo estarão voltados no dia 9 de fevereiro, data do início dos Jogos.
Daegwallyeong é onde fica o estádio que sediará a cerimônia de abertura na qual as duas Coreias - que permanecem oficialmente em guerra desde os anos 1950 - realizarão seu primeiro desfile olímpico em 12 anos por uma mesma bandeira.
"Meu desejo é de que a reunificação se tornasse realidade logo", afirmou ele sobre esta importante aproximação que, para Seul, pode ajudar a iniciar o diálogo para uma futura reunificação.
Este engenheiro aposentado, que nasceu em Seul em 1945, coincidindo com o fim da ocupação japonesa e a divisão de seu país em dois, representa com perfeição a ala da sociedade sul-coreana que ainda mantem vivo o drama que a Península Coreana sofreu no século XX e que sonha em voltar a vê-la unificada.
Choi era criança quando começou a guerra que deixou cerca de 2,5 milhões de mortos entre 1950 e 1953 e que impede até hoje a reunificação entre Norte e Sul.
Lee Ji-seol, de 21 anos e também voluntária, é, por outro lado, um bom reflexo do que pensam sobre a questão os jovens do Sul, obrigados a lidar com uma realidade hipercompetitiva para garantirem seu futuro e mais céticos - até reticentes - a respeito de uma hipotética reunificação, como mostram pesquisas de opinião.
"Acredito que nós jovens temos um problema com a reunificação. Falo com meus amigos, e eles afirmam: 'vivemos bem assim, por que precisamos unificar os dois países?", disse Lee, que nasceu em PyeongChang.
Mesmo assim, ela não é categoricamente contrária a uma Coreia unificada, ao contrário de Park Min-cheol, outro voluntário de 23 anos que também é oriundo desta região.
"Eu e meus amigos não concordamos com a reunificação", contou Park, que teve que realizar o serviço militar obrigatório de dois anos, como todo adulto sul-coreano do sexo masculino.
O estudante universitário garante que, após ter visto de perto a realidade norte-coreana no transcurso das patrulhas e das guardas de fronteira, "nenhum dos companheiros se mostrou favorável à reunificação".
"Claro que acredito que podemos ajudá-los e oferecer apoio, mas, por que reunificar?", questionou.
O veterano Choi, que serviu com as tropas sul-coreanas em outro conflito da Guerra Fria, no Vietnã, acredita ter a resposta para essa pergunta.
"Vivi a guerra (da Coreia) e estive no Vietnã. Os jovens não entendem como a guerra pode tirar tudo de você. Não a viveram e acreditam que nunca vão sofrer, mas temo que, sem reunificação, sempre existirá a possibilidade de que haja uma guerra na península", afirmou.
Mas em uma coisa os três concordam: se algum dia a reunificação acontecer, deveria ser com um sistema democrático como o que impera no Sul, e não sob "os termos de Norte", onde a linha oficial defende uma Coreia unificada sob a liderança da família Kim.
Nesse sentido, Lee acredita que "a reunificação deve ser um objetivo de longo prazo, e que deve ser benéfica para os dois países para que aconteça".
"80% dos maiores de 50 anos apoiam a reunificação, mas a verdade é que esta possibilidade já não pertence a nós", concluiu Choi, que acredita que o tema deve ficar a cargo dos jovens.
"Deve vir deles a decisão de unificar ou não os dois países", ressaltou.
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