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As vacas, vítimas sagradas dos resíduos de plástico na Índia

11/11/2018 09h47

Elena Granados.

Nova Délhi, 11 nov (EFE).- As vacas, animais sagrados para os hindus, se transformaram em uma das principais vítimas dos plásticos que inundam ruas e lixões da Índia, ao ingerir quilos destes resíduos que terminam sendo uma dieta fatal.

No centro de amparo de animais "Sanjay Gandhi", em Nova Délhi, vários veterinários tentam extrair quase 80 quilos de plásticos do estômago de uma vaca.

"Todos rezam pela vaca, mas existe muito pouca proteção. A vaca é o animal mais maltratado da Índia", assegurou à Agência Efe Ambika Shukla, gerente deste refúgio de animais, considerado o mais antigo e de maior do país.

A operação no estábulo do "Sanjay Gandhi" é praticada em companhia de búfalos e vacas, vítimas muitos deles de acidentes em estradas ou maus-tratos.

A vaca, deitada no chão do recinto, é primeiro sedada e depois os veterinários, após depilar a zona da cisão, começam a extrair do animal com esforço durante três horas "bolas" de plástico, até chegar a 78 kg.

"Em algumas encontramos menos e em outras mais: 50, 60 ou 70 quilos, a quantidade máxima foi de 90 a 95 quilos", afirmou à Agência Efe Ajit Tyagi, supervisor do "Sanjay Gandhi", que assegura ter visto com frequência durante a última década este tipo de caso.

O rápido desenvolvimento da Índia fez com que estes animais que antes pastavam em prados viram como seu alimento natural se transformava em lixo e plásticos diante de seus focinhos.

Nos lixões, as vacas terminam ingerindo os restos de comida misturada com plásticos e outros objetos como pregos, cordas, e inclusive papel-alumínio, que ruminam durante horas.

Segundo a crença hindu, a vaca é portadora de 330 milhões de deuses, por isso que sua condição "sagrada" impede que estes animais sejam sacrificados ou que lhe causem mal, o que faz com que muitos as abandonem quando deixam de produzir leite, por isso que milhares de vacas perambulam livremente nas ruas das grandes cidades.

E embora atualmente em muitos estados indianos seja proibido o uso de sacolas de plástico de até 50 mícrons de espessura, muitos poucos se preocupam com o direito destes animais de terem uma vida livre de resíduos.

"No geral, o assunto do plástico está recebendo muita atenção e as leis estão mudando, mas a implementação é sempre um problema enquanto as bolsas de plástico continuarem sendo fabricadas", afirmou à Efe Clementien Pauws, fundadora da "Karuna", uma associação focada desde o ano 2000 na proteção de animais.

Em 2012, ativistas da "Karuna", junto com a associação "Visakha", ambas destinadas à proteção de animais no estado indiano de Andhra Pradesh, lançaram a campanha "A vaca de plástico".

Os ativistas fizeram um vídeo no qual mostravam a gravidade do problema e pediram, além disso, ao Supremo Tribunal do país a proibição total das sacolas de plástico.

Em 2016, o Supremo anunciou a proibição do uso das denominadas "bolsas leves" (40 mícrons de espessura), uma vitória, mas não completa, já que muitos consideraram que tinham perdido a oportunidade de ter proibido definitivamente "a produção de plásticos", explicou à Efe a ativista Rukmini Sahker.

Assim, enquanto as autoridades indianas promulgam novas leis e iniciativas para a proteção das vacas, o centro de animais "Sanjay Gandhi" continua abrigando estes animais que enfrentam, além disso, diariamente outros problemas.

Segundo a gerente Shukla, nas vacas é injetado frequentemente um fármaco hormonal denominado "ocitocina", que acelera o processo da produção de leite, mas que tem dolorosas contra-indicações.

Por outro lado, a ecologista lembrou que a Índia é também um grande exportador de couro, o que muitas vezes não é extraído das vacas mortas, mas elas são golpeadas até ficarem inconscientes para extraí-lo.

"A vaca é talvez o animal mais miserável da Índia, apesar de ser legalmente, religiosamente e dogmaticamente protegida", concluiu.