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Arábia Saudita tem imagem manchada em 2018 por assassinato de jornalista

20/12/2018 22h31

José Luis Paniagua.

Cairo, 20 dez (EFE).- O chocante assassinato na Turquia de Jamal Khashoggi, jornalista crítico do regime da Arábia Saudita, fez com que as imagens do reino e do príncipe herdeiro, Mohammed Bin Salman, ficassem manchadas internacionalmente.

Casos durante anos denunciados por organizações de direitos humanos - além do conflito no Iêmen, que mantém 8 milhões de pessoas às portas de uma crise humanitária - e as acusações de apoio a grupos jihadistas ficaram em segundo plano diante da morte do jornalista e colocaram a Arábia Saudita em ponto de mira.

Em 2 de outubro, o jornalista, um crítico moderado conhecido nos Estados Unidos pelos artigos para o jornal "The Washington Post", entrava no consulado saudita em Istambul para pedir documentos para se casar com a noiva, de cidadania turca, mas não saiu de lá com vida.

Naquele dia, terminou a queda de braço entre os que defendiam os processos de reforma na Arábia Saudita - como permissão para as mulheres dirigirem -, e os que apontavam que as mesmas ativistas que durante anos tinham reivindicado esse direito estavam presas.

Após semanas afirmando que Khashoggi primeiro tinha ido embora do consulado sozinho, depois que não estava no consulado e mais tarde que não tinham nada a ver com seu desaparecimento, as autoridades sauditas reconheceram a morte do jornalista. Primeiro, dizendo que foi um acidente, depois, de forma intencional, e, por fim, que houve requintes de crueldade por parte dos assassinos.

As autoridades turcas revelaram detalhes macabros da morte de Khashoggi, cujo corpo foi dissolvido.

O escândalo horrorizou o mundo. Grandes personalidades da economia, desde o presidente do Banco Mundial à diretora do Fundo Monetário Internacional, passando por executivos de multinacionais e ministros de diversos governos boicotaram o Future Investment Initiative, o chamado "Davos do Deserto".

O principal fórum de negócios saudita, que há um ano tomava a atenção do mundo dos negócios, ficou reduzido a um evento com um único interesse: saber o que Bin Salman tinha a dizer sobre a morte Khashoggi.

A Promotoria saudita encerrou a investigação do assassinato acusando 11 pessoas, cinco das quais enfrentam um pedido de pena de morte, e eximindo de responsabilidade o príncipe saudita.

Para muitos, o caso Khashoggi foi uma prova também para os países ocidentais, com os Estados Unidos à frente, que preferiram abertamente manter a aliança com Riad antes de pôr em risco os negócios com o principal produtor de petróleo do mundo.

"Talvez tenha feito e talvez não", disse o presidente dos Estados Unidos Donald Trump em 20 de novembro, dando cobertura à pergunta sobre o envolvimento do príncipe herdeiro em um caso que o líder americano começou exigindo punições e no qual terminou justificando a falta de ação pela necessidade de proteger a economia mundial.

A passagem das semanas não diminuiu, no entanto, a pressão sobre o príncipe herdeiro, apontado como responsável do crime por vários senadores americanos.

No G20 da Argentina, onde passou minutos eternos sem que ninguém o cumprimentasse antes da tradicional "foto de família" e encontrou a mão jubilosa do presidente russo, Vladimir Putin, corroborou a difícil situação do tradicionalmente principal aliado árabe de Washington no Oriente Médio.

A relação com o Canadá também se deteriorou com uma crise aberta pela exigência de Ottawa de que os sauditas soltassem dois ativistas de direitos humanos detidos.

A pressão contra os defensores dos direitos humanos cresceu ao longo do ano com dezenas de detenções na Arábia Saudita, embora seus trabalhos tenham sido reconhecidos com um Nobel Alternativo para os ativistas Abdullah al Hamid, Mohammed Fahad al Qahtani e Waleed Abulkhair, os três presos.

Neste contexto, a pressão internacional aumentou para pôr fim à guerra no Iêmen, um país devastado com a pior crise humanitária do planeta, segundo as Nações Unidas, e onde a Arábia Saudita intervém a favor do presidente Abdo Rabu Mansour Hadi.

Os rebeldes houthis e o governo de Hadi finalmente encontraram espaço para conversas de paz na Suécia, que abriram uma frágil trégua.

Também a Arábia Saudita diminuiu o tom com o Catar, país contra o qual mantém um bloqueio econômico e político desde o ano passado, mas o convidou de última hora em 2018 para o Conselho de Cooperação do Golfo (CCG), do qual tinha sido suspenso. EFE