Fantasma do ebola retorna em 2018 à República Democrática do Congo
Nairóbi, 21 dez (EFE).- O fantasma do ebola reapareceu em 2018 na República Democrática do Congo, que sofreu dois surtos: um no noroeste, que já está controlado, e outro no nordeste, que já é o mais letal de sua história.
Enquanto o primeiro foi considerado um exemplo em nível internacional por sua rápida resolução, o que veio em seguida se transformou no pior surto na nação africana e no segundo maior em número de casos do mundo, atrás apenas da epidemia declarada em 2014 na África Ocidental.
"Cada epidemia é um mundo e acredito que é uma armadilha vinculá-la com outras", explicou em entrevista à Agência Efe Luis Encinas, especialista em ebola da ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF), que destacou que, para acabar com o surto, é crucial controlar toda a cadeia de transmissão.
A ameaça do ebola retornou à República Democrática do Congo em 8 de maio, com um primeiro surto na província do Equador (noroeste), que deixou 33 mortos em 54 casos e que foi dado por encerrado em 24 de julho.
No entanto, o otimismo durou pouco, já que um segundo surto teve início apenas oito dias depois que o ministro da Saúde da República Democrática do Congo, Oly Ilunga, declarou o fim da epidemia anterior.
Com números vigentes até 17 de dezembro, a atual epidemia causou 319 mortes, das quais 271 foram confirmadas em laboratório e 48 são consideradas prováveis; assim como um número de casos que está em 542, dos quais 494 estão confirmados.
Desde o dia 8 de agosto, quando começaram as vacinações, mais de 48.700 pessoas foram imunizadas, a maioria delas nas cidades de Beni, Katwa, Mabalako e Butembo.
A epidemia, no entanto, preocupa os especialistas internacionais, já que, segundo Encinas, "não está controlada".
"Nesta ocasião, os desafios logísticos são muito grandes: com grupos armados mobilizados na região e uma alta densidade de população e insegurança", afirmou o especialista, que considera a situação "muito difícil".
Além disso, o ebola segue gerando "medo" entre os congoleses, já que esta doença está vinculada com o sangue e produz febre, questões que a população do país africano ainda relaciona com magia negra.
Esse temor gera preocupação entre os doentes, que preferem recorrer à medicina tradicional em algumas ocasiões, antes de buscarem auxílio no hospital.
O vírus do ebola é transmitido através do contato direto com o sangue e os fluidos corporais contaminados, provoca febre hemorrágica e pode alcançar uma taxa de mortalidade de 90% se não for tratado a tempo.
O especialista da MSF denuncia que o sistema de saúde da República Democrática do Congo é "frágil" e que são "fundamentais" uma boa formação dos profissionais de saúde e materiais efetivos para pôr fim ao surto.
"É uma pena que seja necessário que haja uma pessoa infectada do primeiro mundo ou de um país vizinho para começar a dar importância" para o surto, lamentou Encinas.
A atenção internacional ao ebola ganhou força em março de 2014, quando foi declarado o surto mais devastador em nível global, com casos que remontam ao mês de dezembro de 2013 na República da Guiné, que depois se expandiram para Serra Leoa e Libéria.
Quase dois anos depois, em janeiro de 2016, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou o fim dessa epidemia, na qual morreram 11.300 pessoas e mais de 28.500 foram infectadas, números que, segundo esta agência da ONU, poderiam ser conservadores.
Com uma previsão pessimista por parte de organizações internacionais e especialistas, o atual surto de ebola segue castigando o nordeste da República Democrática do Congo, um país que realiza eleições presidenciais decisivas no dia 30 de dezembro.
"Nos encontramos em uma situação pré-eleitoral e este surto depende também da capacidade política. Há conhecimento em Kinshasa do que ocorre nas províncias afetadas (Ituri e Kivu do Norte)", concluiu Encinas.
Esta região está imersa em um longo conflito, alimentado pela presença de uma centena de grupos armados rebeldes, o que dificulta em grande medida o fim da epidemia, a primeira que tem como epicentro um local que é foco de violência. EFE
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.