Falta de informação angustia parentes de vítimas de explosão no México
Os familiares das vítimas da explosão após o vazamento de um oleoduto no México seguem desesperadas no local do acidente, alguns na esperança de encontrá-los com vida e outros já aprendendo a lidar com o sofrimento de precisar identificar os corpos de seus parentes.
Depois de pressionarem as autoridades, muitos deles estão se acostumando com o silêncio e a falta de informações enquanto convivem com a angústia de não saber o que ocorreu com seus entes queridos.
No local do acidente, uma das estradas da cidade de Tlahuelilpan, no estado de Hidalgo, que fica na região central do México, o tênue cheiro de gasolina marca um cenário quase de guerra. São muitos objetos carbonizados e camisas marcadas de sangue.
Em meio ao palco desolador, as equipes de resgate tentam recuperar os corpos e restos mortais que ainda estão no local.
Enquanto esperam, os familiares das vítimas têm duas opções. Uma delas é observar as escavações que estão sendo feitas por militares e agentes da Polícia Federal na área da explosão. E há aqueles que preferem percorrer os hospitais que receberam vítimas e tentar encontrar seus parentes vivos.
"Dizem 'não' em um hospital, vamos para outro, para outro e também 'não'. Ficamos indo de hospital em hospital, mas as informações não estão fluindo corretamente", contou à Agência Efe Silvia Trejo, moradora de Tlahuelilpan, que passou as últimas 24 horas tentando encontrar seu sobrinho, um dos que foi até o oleoduto para tentar pegar um pouco de gasolina após o vazamento.
Os familiares das vítimas estão utilizando recursos próprios para se deslocar entre os hospitais, revelou Silvia, porque as autoridades não disponibilizaram nenhum tipo de transporte. No entanto, moradores de Tlahuelilpan estão ajudando e se oferecendo para levá-los, já que muitos não teriam como fazer isso sozinhos.
Mas a espera não é diferente nos hospitais.
Efrén Hidalgo, que acredita ter perdido um dos filhos no incidente, foi levado por um amigo ao Ministério Público para preencher os formulários correspondentes para realizar exame de DNA.
Segundo o governo do México, grande parte dos restos mortais encontrados pelas equipes de resgate não está em condições de identificação. Por esse motivo, os exames serão feitos para que os peritos possam cruzar as informações e dar sequência ao trabalho.
Também no Ministério Público, os parentes das vítimas estão contando com a solidariedade dos compatriotas, que levam comida e água para eles, tentando diminuir a angústia da espera.
A Comissão Nacional de Direitos Humanos (CNDH) está em Tlahuelilpan para coletar informações dos familiares e tentar ajudá-los a encontrar seus parentes em algum hospital.
"Tenho a esperança de que meu sobrinho esteja vivo em algum hospital, mas estou desesperada por não ter notícias", disse Silvia.
A mulher recorda com clareza da explosão. Na memória ficou a imagem do sobrinho correndo para pegar um pouco do combustível que vazava do oleoduto da companhia estatal Petróleos Mexicanos (Pemex), minutos antes da explosão.
Ela também se lembra do momento em que o fogo começou, com as pessoas correndo desesperadas já com os corpos em chamas.
"É a pior imagem que tenho, junto com a dos corpos carbonizados e o cheiro de carne queimada. Fiquei muito triste de ver como as pessoas seguiam correndo apesar do fogo, era impressionante ver isso", afirmou Silvia, visivelmente abalada.
Segundo o último boletim divulgado pelo governador de Hidalgo, Omar Fayad, 73 pessoas morreram e 74 seguem hospitalizadas.
A explosão ocorre pouco depois de o novo presidente do país, Andrés Manuel López Obrador, ter declarado guerra ao roubo indiscriminado de combustível da Pemex. Conforme fontes oficiais, a companhia perdeu US$ 3,4 bilhões com o problema no ano passado.
Uma das medidas determinadas por López Obrador foi a diminuição do uso dos oleodutos. Ele também determinou que o transporte de gasolina passasse a ser feito por caminhões-tanque. No entanto, as mudanças têm provocado escassez de combustível desde o início do ano em dez estados do país, entre eles Hidalgo.
Há mexicanos que se dedicam a roubar e vender o combustível dos oleodutos de maneira ilegal, mas Silvia negou que seu sobrinho atuasse nesse tipo de atividade irregular. Segundo ela, muitas pessoas foram até o local da explosão para tentar contornar a situação de desabastecimento enfrentada pelo estado.
Silvia ainda revelou que está chateada com as pessoas que associam as vítimas ao roubo de combustível, um pensamento que amplia a angústia daqueles que tentam lidar com a falta de informações sobre seus familiares.
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