Cerca de arame na fronteira México-EUA vira atração turística no Arizona
Paula Díaz.
Nogales (EUA), 27 mar (EFE).- O arame farpado que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, determinou que fosse instalado na fronteira com o México é uma verdadeira atração turística para centenas de pessoas que parecem dar razão ao governante quando ele disse que esse método pode render um "ótimo passeio" ou, pelo menos, uma curiosidade.
Enquanto em uma esquina da Calle Internacional, na Nogales mexicana, um agente da Patrulha de Fronteira vigia o trânsito no portal Nogales-Morley, um grupo de turistas para perto da cerca divisória para fazer fotos, com o arame farpado como pano de fundo.
Do outro lado da rua, um veículo passa lentamente. Lá dentro estão David Palomino e a esposa Jennifer, que vieram da Califórnia para observar de perto o arame que os militares instalaram para conter a passagem de imigrantes irregulares.
De acordo com David, da mesma forma que muitos outros que chegam, eles ouviram notícias sobre a instalação e quiseram ver pessoalmente a estrutura colocada nesta espécie de cidade binacional, de 400 mil habitantes, separada pela cerca.
"Eu não sei se vai ajudar a prevenir, acho que é perda de dinheiro. Isso podia ser utilizado em algo melhor", disse David à Agência Efe sobre a ferramenta que o governo dos EUA usou para aumentar a segurança na fronteira e que, segundo a imprensa americana, está sendo furtada em vários trechos por mexicanos que a instalam em suas próprias casas.
David e Jennifer falaram sobre as diferenças entre a Nogales mexicana e a Nogales americana, a imponente faixa divisória e a forte vigilância na região, além das poucas possibilidades que uma pessoa tem de pular a cerca sem ser detectada.
Enquanto observam, duas patrulhas passam. A cena era comum mesmo antes da instalação da cerca. O que mudou foi o fluxo de pessoas para ver o destacamento militar montado pelo governo americano para conter a crescente chegada de imigrantes, que em fevereiro bateu o recorde dos últimos 12 anos, com mais de 76 mil migrantes detidos após passarem irregularmente pela fronteira.
Representantes da Nogales americana reconhecem que a cerca de arame farpado, que pode prender e causar cortes profundos em quem tenta burlá-la, despertou a curiosidade de pessoas de várias partes do país e até do exterior.
"Isto virou uma grande atração. Infelizmente, uma notícia ruim foi produtiva para a cidade, porque temos mais visitantes e pessoas interessadas entrando em contato com o Escritório de Turismo. As pessoas que estão chegando não são pessoas que ficam. Elas vêm e, de quebra, consomem em nossos restaurantes, abastecem. Para nós, isso é muito bom", disse à Efe Olivia Ainza, presidente da Câmara de Comércio de Nogales.
O departamento de turismo recebe várias ligações e pessoas fisicamente perguntando pelo muro e onde está sendo construída a mais midiática promessa eleitoral de Trump, que está parada por falta de verba.
Segundo Ainza, muitos chegam atraídos pela repercussão nacional e internacional que a fronteira gerou desde a chegada de Trump ao poder. Mas muitas pessoas também têm uma imagem distorcida da realidade na fronteira e a percepção muda após conhecer e conviver com moradores da cidade.
"Recebemos mensagens positivas, nos perguntam pelos crimes e percebem a nossa realidade. Isso é bom, porque levam outra ideia da fronteira", disse Ainza sobre a ideia de crise de segurança que a mídia conservadora exibe da região.
A quantidade de turistas que procurou o Centro de Visitantes do Condado de Nogales em janeiro deste ano foi 50% superior ao total registrado no mesmo período de 2018 e os números aumentaram de novo em fevereiro. A tendência é igual para março.
Um deles é o mexicano José Hernández, que mora em Sonora e cruzou a fronteira para fazer compras. Na ida, ele aproveitou para passar pela área da cerca e comprovar a instalação dos arames.
"Ouvi as notícias e vim ver", disse Hernández, que lamentou que a cerca de arame farpado tenha se transformado em uma mostra da divisão entre a Nogales mexicana e a Nogales americana.
O prefeito da Nogales americana, Arturo Garino, luta agora para que o governo federal remova o arame, pelo menos do centro da cidade. Ele considera a colocação da divisória um risco para a comunidade.
"O arame foi instalado de cima a baixo, e é perigoso para as crianças. Enviamos uma carta para senadores do Arizona e congressistas pedindo que ele seja retirado", contou Garino à Efe. EFE
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