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Suposto "laranja" de ex-presidente Toledo devolverá US$ 11,6 milhões ao Peru

30/03/2019 14h44

Lima, 30 mar (EFE).- O empresário israelense Josef Maiman, suposto "testa de ferro" do ex-presidente do Peru Alejandro Toledo, que governou o país entre 2001 e 2006, se comprometeu a devolver US$ 11,6 milhões ao Estado peruano pelas propinas que duas empreiteiras brasileiras pagaram ao ex-mandatário e que ele teria ajudado a esconder em paraísos fiscais.

A notícia foi divulgada neste sábado pela imprensa peruana em função do acordo de delação premiada que Maiman assinou na sexta-feira em Tel Aviv com o Ministério Público do Peru, um pacto no qual ele se compromete a colaborar com as investigações e a fornecer informações valiosas em troca de benefícios em uma eventual condenação.

Além disso, Maiman se comprometeu a pagar uma indenização ao Estado peruano de US$ 1,2 milhão, segundo o jornal "La República".

O empresário israelense, no entanto, reconheceu diante dos promotores peruanos que o valor da propina que ele supostamente ajudou a "lavar" para Toledo chega a mais de US$ 21 milhões, dos quais 17 milhões corresponderiam à Odebrecht e 4 milhões à Camargo e Correa, segundo o site da equipe de jornalismo investigativo "IDL-Reporteros".

Esses pagamentos ilícitos correspondem aparentemente às concessões dos trechos 2, 3 e 4 da Rodovia Interoceânica do Sul, uma das obras mais emblemáticas do mandato de Toledo, que atravessa o território peruano para ligar a costa sul do país com a Bolívia e o Brasil.

O advogado de Maiman no Peru, Julio Mazuelos, afirmou ao jornal "El Comercio" que o acordo não envolve somente as investigações pelos pagamentos de propinas de Odebrecht e Camargo e Correa, mas também o caso Ecoteva, a empresa fundada em 2012 na Costa Rica pela sogra de Toledo, Eva Fernenbug.

As suspeitas indicam que Maiman transferiu para contas da Ecoteva os valores recebidos em propinas que ele tinha desviado em nome de suas empresas em paraísos fiscais, e com elas Toledo adquiriu posteriormente propriedades imobiliárias milionárias em Lima e nas praias do norte do Peru.

"O compromisso é amplo com a Justiça peruana. Maiman responderá quando for requerido no processo por solicitação do Ministério Público", disse Mazuelos.

Toledo é acusado dos crimes de lavagem de dinheiro, conluio e tráfico de influência e, desde fevereiro de 2017, tem uma ordem de captura internacional e um mandato de 18 meses de prisão preventiva.

No entanto, durante todo este tempo ele permaneceu em liberdade nos Estados Unidos, seu lugar habitual de residência, já que a Justiça americana ainda não deu uma resposta à solicitação de extradição apresentada pelas autoridades peruanas.

O ex-presidente só permaneceu na prisão por uma noite, quando foi detido há duas semanas por estar embriagado em um restaurante em San Francisco.

Toledo é um dos quatro ex-presidentes investigados no Peru pelo caso Odebrecht, o maior escândalo de corrupção na América Latina, já que a empresa reconheceu que pagou propina em vários países e que também fez doações irregulares para financiar as campanhas eleitorais de políticos da região.

Além de Toledo, também foram acusados os ex-presidentes Alan García (2006-2011), Ollanta Humala (2011-2016) e Pedro Pablo Kuczynski (2016-2018), assim como a líder do partido de oposição Força Popular, Keiko Fujimori; a ex-prefeita de Lima, Susana Villarán; e o ex-governador regional de Callao, Félix Moreno. EFE