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Extrema-direita e antifascistas protestam nos EUA separados pela polícia

06/07/2019 20h56

Beatriz Pascual Macías.

Washington, 6 jul (EFE).- Personalidades da extrema-direita dos Estados Unidos se reuniram neste sábado em uma praça central de Washington, enquanto cerca de 300 antifascistas protestavam por sua presença sob o atento olhar de um cordão de isolamento formado por policiais, que separava os dois eventos.

A rua número 14 de Washington se transformou na fronteira entre as duas manifestações: de um lado, em um parque a 600 metros da Casa Branca, havia centenas de ativistas envolvidos com bandeiras do arco-íris e camisetas pretas com a frase "Black Lives Matter" ("Vidas Negras Importam", em tradução livre do inglês).

Do outro, na Freedom Plaza, personalidades da extrema-direita faziam discursos incendiários sobre um palanque enquanto eram ovacionados por dezenas de pessoas com bonés vermelhos com o lema de campanha do presidente Donald Trump: "Make America Great Again" ("Torne a América Grande Novamente", em tradução livre).

Em torno dos dois protestos, os policiais municipais de Washington colocaram fileiras de cercas e tentaram fazer com que ninguém cruzasse a rua para passar de uma mobilização para a outra.

Além disso, o trânsito foi interrompido com a colocação de caminhões laranjas - que costumam ser usados nas obras de construção - para bloquear a entrada de cada rua.

Apesar dessas medidas, um grupo de manifestantes - vestidos com roupas pretas e com a cabeça coberta por capuzes e capacetes - conseguiu romper o cordão policial e marchar pelas ruas enquanto portavam tacos de beisebol e tremulavam bandeiras rubro-negras, usadas pelos movimentos anarquistas e sindicalistas.

Esses ativistas seguiram caminhando durante um momento e se dispersaram sem que conseguissem chegar à praça onde os simpatizantes da extrema-direita realizavam seu ato, cujo objetivo era exigir "liberdade de expressão".

A intenção da extrema-direita é protestar contra o suposto "veto" que os gigantes das redes sociais, como o Twitter, impuseram sobre personalidades polêmicas da direita radical, explicou à Agência Efe Tim Fazenbaker, um dos oradores do evento e candidato republicano ao Congresso nas eleições de 2020.

"Eu mesmo fui vítima das tentativas de bloquear a liberdade de expressão", comentou Fazenbaker, que tem uma página no Facebook chamada "America First" ("Os EUA em primeiro lugar", em tradução livre) e cujo conteúdo foi restringido pela rede social.

Também participou do ato Laura Loomer, a quem o Facebook e o Instagram negaram acesso devido a mensagens contra muçulmanos e à divulgação de teorias da conspiração, muitas delas relacionadas com massacres cometidos com armas de fogo que provocaram muitas vítimas.

Entre o público estava Tracy Wright, uma mulher de 66 anos, originária do estado da Geórgia e que viajou durante 11 horas em seu carro até Washington.

"Estou aqui para apoiar o presidente, estou aqui para falar com outras pessoas que, assim como eu, despertaram", assinalou a mulher.

Tracy Wright explicou que "despertou" em novembro de 2017 quando começou a "entender o que realmente estava acontecendo", graças a uma teoria da conspiração chamada "QAnon", cujos seguidores acreditam equivocadamente que Trump enfrenta um "estado criminoso profundo" que atua contra ele.

Seguidores de teorias da conspiração, como Tracy Wright, se misturaram durante o evento com pessoas envolvidas com a bandeira dos EUA e homens que, no antebraço, exibiam tatuagens com as palavras do grupo radical "Proud Boys" ("Rapazes Orgulhosos", em tradução livre), que a organização de direitos civis Southern Poverty Law Center define como um movimento de ódio.

Há algumas semanas, assim que o evento da extrema-direita começou a ser organizado, por volta de 20 de organizações progressistas formaram uma coalizão destinada a convocar uma contramanifestação para deixar claro que, na capital dos EUA, "não há lugar para os supremacistas brancos".

O afro-americano Carlos McKnaght explicou à Efe que, embora se considere um "pacifista", tem consciência de que os protestos deste sábado podem resultar em violência.

"Não aprovo a violência, mas sei que este movimento não será fácil. Lutar contra o supremacismo branco nunca foi fácil. Neste país, os negros escravizados e os nativos americanos tiveram que lutar contra isso. Mas, espero que hoje tudo aconteça sem complicações", afirmou McKnaght.

O ativista afro-americano compareceu ao protesto com um pingente de ouro com a silhueta do continente africano, que lhe dá a "força" de seus ancestrais; e com uma boina negra com símbolos dos Panteras Negras, o movimento de direitos civis que tinha postulados mais radicais que Martin Luther King.

Há apenas dois dias, em 4 de julho, o presidente americano Donald Trump pronunciou um discurso pelo Dia da Independência dos EUA que representou uma ruptura da tradição, já que, até agora, os chefes de Estado não costumavam ser protagonistas desta comemoração.

Os críticos de Trump consideram que esse evento era um aceno para sua base eleitoral mais nacionalista diante das eleições presidenciais que acontecem no ano que vem. EFE