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Entrada de novo partido nas eleições pode alterar mapa político na Espanha

23/09/2019 16h47

Rafael Cañas

Madri, 23 set (EFE).- A entrada de um novo partido de esquerda na corrida pelas eleições gerais da Espanha, que serão realizadas em novembro, causou nesta segunda-feira uma pequena reviravolta no cenário político do país, já que pode influenciar o voto no campo progressista e alterar os pactos e alianças entre as siglas.

A decisão da pequena legenda Mais Madri (MM) de concorrer às eleições gerais do dia 10 de novembro pode prejudicar a já fragmentada esquerda espanhola, dividindo ainda mais os votos do bloco ou, ainda, fazendo com que eleitores decepcionados com a situação política se abstenham de votar.

As eleições legislativas realizadas em 28 de abril deram a vitória ao PSOE, liderado por Pedro Sánchez, embora sem uma maioria parlamentar suficiente, condição necessária para a formação de um governo.

Após cinco meses de conversas e negociações com a coalizão Unidas Podemos, o PSOE não conseguiu forjar um acordo, o que levou à convocação de novas eleições.

Dirigentes do MM garantem que não têm a intenção de rachar votos ou provocar uma divisão ainda maior no complexo espaço da esquerda, mas sim oferecer uma opção aos cidadãos desencantados com a falta de acordo entre o governista Partido Socialista (PSOE) e a coligação de esquerda Unidas Podemos (UP).

A porta-voz do MM, Rita Maestre, afirmou que o partido se vê como um antídoto contra a abstenção e que não teria dado o salto à política nacional se não fosse pelo fracasso das negociações para a formação de governo e, consequentemente, a precipitada convocação de eleições.

O Mais Madri é liderado por Íñigo Errejón, ex-vice-líder do Unidas Podemos antes de abandonar a coalizão por suas profundas diferenças com o líder e fundador Pablo Iglesias, principalmente no que se refere à parceria com outros partidos de esquerda, em especial o poderoso PSOE.

Depois do anúncio do MM, Iglesias alfinetou o presidente do governo interino, Pedro Sánchez, ao afirmar que o governante preferiria Errejón para possíveis pactos futuros diante da falta de aliança entre o PSOE e a Unidas Podemos.

Nas eleições municipais e regionais de maio, o Mais Madri participou do pleito pelo governo da comunidade autônoma e pela prefeitura da capital espanhola e, em ambos os casos, superou amplamente a Unidas Podemos.

No entanto, o partido de Errejón não conta por enquanto com uma estrutura nacional, embora possa consegui-la através de pactos com outras pequenas formações de esquerda de diferentes regiões.

Isso já aconteceu na Galícia, no noroeste da Espanha, onde a legenda En Marea se mostrou aberta a uma parceria. Na região de Valência, no sul do país, o partido Compromís também demonstrou interesse.

O prazo para o registro de coalizões, tanto nacionais como regionais, terminará no próximo domingo, dia 29, e Errejón e seus aliados terão que se apressar na negociação e consolidação de acordos.

Devido ao fato de que o sistema eleitoral espanhol favorece os grandes partidos com o objetivo de facilitar a formação de maiorias, as legendas menores tendem a ser as mais castigadas, o que as obriga a formar alianças para evitar a perda de votos.

A decisão do Mais Madri de disputar as eleições nacionais repercutiu também no bloco da centro-direita, onde o Partido Popular (PP, conservador) insistiu em formar uma coalizão com a legenda liberal Ciudadanos (C's), sob o slogan Espanha Soma e com o objetivo de explorar as possibilidades que oferece o sistema eleitoral.

O presidente do PP, Pablo Casado, espera que a criação da coalizão Espanha Soma possa desbancar o PSOE e se tornar a mais votada no nível nacional.

Além disso, Casado alertou que, caso o PP e o Ciudadanos não cheguem a um acordo, o país pode sofrer consequências letais.

Nas eleições de abril, o Ciudadanos tentou superar o PP com a aspiração de se transformar no maior partido da centro-direita espanhola, mas fracassou.

Até agora, o partido tem resistido às investidas dos conservadores, pois teme perder suas características individuais devido ao peso e tamanho do Partido Popular.

Porém, as mais recentes pesquisas de intenção de voto, divulgadas no mês passado, poderiam levar a uma mudança na estratégia da legenda, já que o Ciudadanos foi o partido mais castigado nas últimas enquetes.

As eleições gerais de 10 de novembro serão anunciadas formalmente nesta terça-feira, quando as duas câmaras legislativas serão legalmente dissolvidas. A campanha oficial começará no dia 1º de novembro e terá uma duração mais curta que o habitual por se tratar de uma repetição de pleito. EFE