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OMS reconhece que 21 funcionários são acusados por abusos sexuais no RD Congo

28/09/2021 18h02

Genebra (Suíça), 28 set (EFE).- Uma comissão de investigação interna da Organização Mundial da Saúde (OMS) concluiu que, pelo menos, 21 funcionários da agência são suspeitos de terem cometido abusos sexuais contra mulheres e adolescentes durante trabalho de resposta ao surto de ebola na República Democrática do Congo.

O relatório do órgão foi divulgado nesta terça-feira e se refere à atuação da OMS no país africano entre 2018 e 2020.

A investigação, que durou 12 meses, indicou que à algumas das vítimas eram prometidos empregos em troca de relações sexuais. Também foram feitas denúncias sobre crimes como chantagens contra mulheres que foram obrigadas a abortar após os alegados abusos.

O documento que foi tornado público hoje aponta que, pelo menos, 63 mulheres e adolescentes foram vítimas dos crimes sexuais, sendo que, além dos 21 suspeitos entre funcionários da OMS, ainda há outros 62 acusados, de diferentes nacionalidades, que não tiveram nomes e outros detalhes pessoais divulgados neste momento.

Os abusos, segundo as investigações, aconteceram em hotéis e casas alugadas pelos autores. As vítimas "em maioria, são pessoas com situação econômica e social muito precária", afirmou um dos membros da comissão interna, Malick Coulibaly, ex-ministro da Justiça do Mali.

De acordo com as denúncias, muitos dos abusos aconteceram sem o uso de métodos contraceptivos, por imposição do agressor, com isso, várias das vítimas engravidaram.

Após a divulgação dos resultados preliminares da comissão interna, o diretor geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, pediu perdão publicamente às mulheres que foram abusadas e se declarou responsável pelas "falhas no sistema" que o caso evidenciou.

O líder a agência humanitária garantiu que serão realizadas reformas na organização, para evitar que casos semelhantes ocorram no futuro.

O relatório, inclusive, indica que a OMS cometeu erros no recrutamento de pessoal para atuar na resposta ao surto de ebola, declarado entre agosto e 2018 e junho de 2020, que foi o segundo pior da história, ao provocar 2,3 mil mortes, entre 3,4 mil infectados.

"Houve claras falhas estruturais e preparação insuficiente para responder aos incidentes de abuso sexual, assim como negligência individual", explicou Coulibaly.

O diretor-geral da OMS garantiu que, sobre essa denúncia, serão tomadas ações pra melhorar a avaliação de candidaturas a postos de responsabilidade na agência, para que "se volte a ter a confiança das pessoas a que servimos.

Ghebreyesus informou ainda que as informações referentes aos funcionários acusados serão apresentadas às autoridades da República Democrática do Congo e aos respectivos países de origem destas pessoas, para que seja possível seguir com investigações pela via penal.

Administrativamente, o diretor-geral da OMS afirmou que quatro dos suspeitos já foram demitidos e que serão tomadas medidas para proibir que 21 dos acusados voltem a trabalhar em agências ligadas às Nações Unidas.

Além disso, garantiu que serão tomadas medidas disciplinares contra todos os funcionários que não reportaram os crimes ou que cometeram erros no recrutamento de funcionários para a resposta ao ebola na República Democrática do Congo.

"Pedimos desculpas às mulheres e meninas que sofreram pelas mãos de trabalhadores que foram enviados às suas comunidades para ajudar na difícil situação que gera uma pandemia", afirmou a diretora-geral da OMS para a África, Tshidi Moeti.

A comissão investigadora foi criada em outubro de 2020, poucos dias depois que a agência de notícias "The New Humanitarian" e a Fundação Thompson Reuters publicaram uma reportagem sobre os possíveis abusos sexuais contra pessoal não qualificado (trabalhadoras comunitárias, cozinheiras, faxineiras).

As denúncias também apontaram para funcionários do Ministério da Saúde congolês e de organizações não governamentais que também atuaram na luta contra o surto de ebola.

Os crimes sexuais aconteceram nas províncias de Kivu do Norte, Kivu do Sur e Ituri.