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"Ni una menos" completa 7 anos de luta contra violência sexista na Argentina

03/06/2022 23h07

Buenos Aires, 3 jun (EFE).- O movimento "Ni una menos", que nasceu na Argentina em 2015 e se espalhou por vários países, saiu às ruas de Buenos Aires nesta sexta-feira para exigir medidas contra os feminicídios, a violência sexista e a desigualdade de gênero que ainda afetam as mulheres do país.

Com os motes "Vivas, livres e sem dívidas, nós nos amamos!" e "O Estado é responsável", organizações sociais e grupos feministas marcharam da histórica Praça de Maio até o Congresso argentino, em uma manifestação que repercutiu em outras cidades do país, como Córdoba, Rosario e Ushuaia.

Entre as principais reivindicações estão uma reforma judicial com perspectiva de gênero, a declaração do estado de emergência por violência sexista e a aplicação de "medidas urgentes" para aliviar a pobreza sofrida pelas mulheres, em um país que passa por uma profunda crise socioeconômica desde meados de 2018.

ESPIRAL DE VIOLÊNCIA.

O grito "Ni una menos" soou pela primeira vez em 3 de junho de 2015, quando centenas de milhares de mulheres ocuparam espontaneamente as ruas do país para condenar o feminicídio de Chiara Páez, uma menina de 14 anos assassinada por seu companheiro.

Desde então, a situação está longe de ter melhorado: nestes sete anos foram registrados 2.041 feminicídios e 2.361 filhos e filhas ficaram sem mãe, segundo dados da organização La Casa del Encuentro.

O movimento Mulheres da Mátria Latino-Americana (Mumalá), por sua vez, estimou em 1.956 o número de feminicídios cometidos nesse período, o que equivale a uma mulher assassinada a cada 33 horas.

Da mesma forma, os últimos dados oficiais, divulgados nesta terça-feira pelo Gabinete da Mulher da Suprema Corte de Justiça, indicaram que só em 2021 houve um total de 251 mortes por violência de gênero na Argentina.

Diante desta realidade, o governo argentino promoveu uma série de medidas para frear esses delitos, como o Plano Nacional de Ação contra a Violência de Gênero, que nos últimos dois anos organizou centenas de atividades de sensibilização e oficinas de prevenção por todo o país.

Este plano inclui também um programa de ajuda, denominado "Acompahar", que desde sua criação em setembro de 2020 prestou assistência a mais de 165.000 mulheres e pessoas da comunidade LGBTQIA+, segundo dados oficiais.

CONSENSO POLÍTICO.

Nesse contexto, o presidente argentino, Alberto Fernández, recebeu nesta sexta-feira dezenas de parentes de vítimas de violência sexista, que manifestaram, entre outras coisas, sua indignação com os obstáculos legais que cercam esses casos.

"Estamos fundando um novo tempo em que devemos trabalhar juntos, e temos que fazê-lo com as forças de segurança, a Justiça e os setores que têm as ferramentas para que essas coisas não continuem acontecendo e para que nenhuma dessas mortes tenha sido em vão", considerou Fernández.

O apoio ao movimento "Ni una menos" é comum entre a maioria das forças políticas, inclusive a oposição, como é o caso do prefeito de Buenos Aires, Horacio Rodríguez Larreta, que reiterou por meio do Twitter seu "compromisso" com as políticas que "garantem contenção e acompanhamento necessários às vítimas e suas famílias".

"Sabemos que essas políticas públicas não resolvem o problema de fundo. Precisamos de uma verdadeira mudança cultural. No dia em que conseguirmos, teremos entendido que homens e mulheres são iguais e merecem viver a mesma liberdade", completou. EFE