Linguista explica se uso dos termos 'negão' e 'neguinho' é racismo
Esta é a versão online para a edição desta terça-feira (28/06) da newsletter Nós Negros. Para assinar esse e outros boletins e recebê-los diretamente no seu email, cadastre-se aqui.
********
Você já falou ou já foi chamado de "negão" ou "neguinho", ou chamada de "neguinha"? Nos últimos dias, o uso de alguns destes termos causou atrito no automobilismo entre Nelson Piquet e Lewis Hamilton, e fechou as portas para contratos milionários.
Entre enxurradas de opiniões, há quem defenda uso e que eles não são racistas, quem garante que eles, na verdade, são racistas e devem ser abolidos do vocabulário totalmente, e os que enxergam um meio-termo na utilização, ora sendo permitido ora devendo ser proibido.
Nós Negros conversou com a linguista especialista em enunciação, gênero e raça Larissa Fontana para sanar algumas destas confusões. Segundo ela, é preciso entender vários pontos para se delimitar se o uso é racista ou não.
"Dizer 'neguinho' ou 'negão' de forma isolada não é racismo, mas pode ser dependendo do contexto histórico e situacional em que a palavra aparece, quem está dizendo a palavra, quais são as relações sociais das pessoas envolvidas no diálogo e a intenção da frase, se é de afeto ou conflito"
Larissa Fontana, linguista
O "neguinho" lado B
Piquet usou o termo "neguinho" para se referir a Hamilton e foi defendido por figuras como Sérgio Camargo, ex-presidente da Fundação Cultural Palmares. Ele usou o nome artístico do sambista Neguinho da Beija Flor como exemplo. De acordo com Fontana, este é um bom exemplo das diferentes formas em que se pode analisar os usos das palavras. Neste caso, é preciso levar em consideração que a população negra sempre disputou os sentidos da narrativa das palavras que lhe direcionava tom pejorativo.
"Foi possível construir sentidos positivos de afirmação, afeto, beleza e legitimação para as palavras 'negro', 'neguinho' ou 'negão'", explica, ressaltando, por exemplo, que é comum que casais e familiares se chamem dessa forma com intuito carinhoso. Para ela, o uso da palavra por Piquet tem sentido diferente, já que a usou para falar de uma suposta incompetência do piloto britânico.
Aproveitando o ensejo, vale a pena conferir o Destretando de Ecoa, que explica o uso dos termos "preto" e "negro". Esporte também fez uma lista bem interessante de outras expressões cotidianas de origem escravocrata que devem ser evitadas como "mulata", "cabelo ruim", "da cor do pecado" e "magia negra".
***
SOCIEDADE... A 16ª edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública mostra que a violência no Brasil é mais direcionada à população negra. Segundo o levantamento, policiais mataram 6,1 mil pessoas em 2021, queda de 4,9% em comparação com 2020. Ao todo, 84% das pessoas mortas em ações policiais eram negras. Em 2021, 190 policiais foram mortos no país — queda de 12% em comparação aos 222 registros de 2020.
***
BATEU FOME...... A batata frita do comerciante Ademar de Barros, 67, do bairro Marechal Hermes, no Rio de Janeiro, virou Patrimônio Cultural de natureza material do Rio de Janeiro. Servida em porções gigantes de até 3 kg, o quitute de rua impressionou até o rapper Snoop Dogg, em um vídeo publicado em suas redes sociais. O artista chama Ademar de "o Rei da Batata Frita do Rio de Janeiro".
***
DANDO A LETRA
Pesquisa da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae), realizada entre novembro e dezembro de 2021, mostra que 6 em cada 10 entrevistados relatam ter sofrido assédio moral no ambiente de trabalho
Chico Alves, colunista
Em Notícias, Chico Alves aponta que além dos casos de denúncia de assédio sexual contra o presidente da Caixa, Pedro Guimarães, o banco coleciona casos de assédio moral.
Em Universa, Cris Guterres, sugere um respiro em meio às notícias ruins da semana e traz texto cheio de afeto e momentos que a fazem sorrir.
Em Ecoa, Eduardo Carvalho fala sobre música e resistência com suas percepções do espetáculo "Vozes Negras - A Força do Canto Feminino"
***
PEGA A VISÃO
Durante um período, tinha que trocar de costureira toda semana porque, depois que elas entendiam que aquele era um produto LGBT, falavam que não iam mais pegar meu serviço. Algumas chegaram a dizer que eu ia para o inferno
Silvana da Silva, empresária
Silvana da Silva, 46 anos, deixou um emprego com carteira assinada para vender calcinhas diferentes: modelos específicos para mulheres trans. A empresa Truccs, que vende as calcinhas, nasceu depois que Silvana soube que algumas mulheres trans escondem o órgão para trás com uma fita colante, por isso, passam horas sem ir ao banheiro, o que é bastante prejudicial à saúde. Atualmente a marca já tem modelos de calcinhas, maiôs e biquínis e conta com clientes especiais como Linn da Quebrada.
***
SELO PLURAL
No episódio #85 de Papo Preto, Yago Rodrigues recebe a ativista PCD Júlia Aquino, mulher preta e lésbica. Ela fala sobre a sua trajetória, a receptividade do público e os desafios de promover a inclusão e diversidade em suas diversas vertentes.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.