Irlanda acaba com proibição ao aborto, em meio à "revolução silenciosa" que transforma o país
Por Padraic Halpin e Conor Humphries
DUBLIN (Reuters) - Grande maioria dos Irlandeses votou para liberalizar algumas das leis mais restritivas do mundo sobre o aborto, no que seu primeiro-ministro descreveu como a culminação de uma "revolução silenciosa" em um país que já foi um dos mais conservadores da Europa.
Estima-se que os eleitores do país, outrora profundamente católico, tenham apoiado a mudança em proporção maior que dois para um, de acordo com duas pesquisas divulgadas na noite de sexta-feira, e o governo planeja apresentar a legislação até o final do ano.
"É incrível. Por anos e anos e anos, nós tentamos cuidar das mulheres e não conseguimos, isso é muito importante", disse Mary Higgins, obstetra e ativista do Together For Yes (Juntos Pelo Sim).
Depois que os resultados oficiais começaram a ser anunciados no sábado, políticos dos dois lados concordaram que o referendo havia passado por uma ampla margem. Os resultados finais são previstos para o fim do sábado.
"O povo falou. O resultado parece ser retumbante... em favor da revogação da oitava emenda", que proíbe o aborto, disse o primeiro-ministro Leo Varadkar, que fez campanha pela revogação, a jornalistas em Dublin.
"O que vemos é o ponto culminante de uma revolução silenciosa que vem ocorrendo na Irlanda nas últimas duas décadas", disse Varadkar, que se tornou o primeiro premiê abertamente homossexual do país no ano passado.
Se confirmado, o resultado será o mais recente marco em um caminho de mudança para o país, que só legalizou o divórcio por uma maioria esmagadora em 1995, antes de se tornar o primeiro do mundo a adotar o casamento gay por voto popular três anos atrás.
"Para ele (seu filho), é uma Irlanda diferente para a qual estamos nos encaminhando. É uma Irlanda mais tolerante, mais inclusiva, onde ele pode ser o que quiser, sem medo de recriminações", disse o professor Colm O'Riain, de 44 anos, com seu filho Ruarai, que nasceu prematuro em novembro, 14 semanas adiantado.
Um porta-voz de um grupo anti-aborto chamado Save The 8th (Proteja a Oitava), John McGuirk, admitiu que "não há perspectiva" de que a proibição ao aborto no país, imposta em um referendo de 1983, seja mantida.
"O que os eleitores irlandeses fizeram ontem é uma tragédia de proporções históricas", disse o Save The 8th. "No entanto, um erro não se torna algo correto simplesmente porque a maioria o apoia."
Os eleitores foram questionados se desejavam descartar a emenda, que dá ao feto e à mãe direitos iguais à vida. A consequente proibição do aborto foi parcialmente retirada em 2013 para casos em que a vida da mãe estava em perigo.
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