Análise: Negociações sobre clima passam o bastão da corrida contra aquecimento global
As frágeis conversas sobre mudanças climáticas na Polônia mostraram os limites da ação internacional para limitar o aquecimento global em um mundo polarizado, colocando o ônus de deter o aumento da temperatura sobre governos, cidades e comunidades.
Quase 200 países nas negociações conduzidas pelas Nações unidas em Katowice, na Polônia, salvaram o marcante Acordo de Paris de 2015 da desintegração no sábado (15), ao chegarem a um acordo sobre um pacote de diretrizes sobre sua implementação.
Mas foram adiadas regras sobre os créditos de carbono, que poderiam impulsionar negócios a agir contra a mudança climática, e não houve um compromisso firme de fortalecer metas de corte de emissões dos países para 2020, quando o acordo entra em vigor.
Com isso, as partes envolvidas ficaram distantes da meta estabelecida em Paris de conter o aquecimento global a menos de 2 graus Celsius e mais ainda do teto de 1,5 graus, visto como necessário para evitar um clima mais extremo, o aumento no nível dos oceanos e a perda de espécies vegetais e animais.
O mundo caminha para uma alta de 3 a 5 graus Celsius nas temperaturas neste século, disse a Organização Meteorológica Mundial da ONU.
O Acordo de Paris é baseado em compromissos individuais, e as expectativas de que as negociações na Polônia pudessem produzir mais do que apenas as regras sobre como eles serão medidos sempre foram baixas. A unidade construída em Paris foi abalada por uma onda de governos que colocam agendas nacionais à frente da ação coletiva.
Poucos líderes de seus países estiveram presentes em Katowice, e o secretário-geral da ONU teve que voltar ao encontro para pedir que as conversas avançassem.
"Está faltando vontade política", disse o diretor da União dos Cientistas Preocupados, Alden Meyer, um grupo sem fins lucrativos de cientistas, após a conferência ter seu final atrasado em mais de 24 horas por disputas de última hora sobre partes do texto.
"Mas ele (o pacto) oferece os dispositivos para que governos, cidades, empresários, sociedade civil etc. façam o trabalho para chegar [às metas do Acordo de Paris]", adicionou ele.
O presidente da conferência, Michal Kurtyka, disse que o trabalho foi bem feito. "Missão cumprida", escreveu ele no Twitter. "Nossos filhos olharão para trás para nosso legado e reconhecerão que tomamos as decisões corretas em momentos importantes como aquele pelo qual passamos hoje."
Acordo superficial
Para países que já sofrem com a mudança climática, no entanto, o acordo não deixou claro como será garantido o financiamento necessário para ações contra o aquecimento, o que foi apenas um pouco melhor do que nada.
O ministro do Meio Ambiente de Granada, no Caribe, Simon Stiell, disse à Reuters que o acordo "praticamente só toca a superfície do que seria realmente necessário".
Investidores disseram que seriam necessárias mais ações em nível governamental para persuadi-los a fazer os investimentos necessários.
"Aqueles países... que avançarem com políticas climáticas ambiciosas e de longo prazo serão os que colherão os investimentos e as vantagens econômicas de fazê-lo", disse Stephanie Pfeifer, diretora-presidente do Grupo de Investidores Institucionais sobre Mudança Climática, observando que a transição para uma economia de baixo carbono já está em andamento.
Os Estados Unidos, determinados a se retirarem do processo da ONU a pedido do presidente Donald Trump, organizaram um evento divulgando os benefícios da queima mais eficiente de combustíveis fósseis, incluindo o carvão, enquanto Trump definiu o acordo de Paris como "ridículo".
Um relatório científico solicitado pelos signatários de Paris disse que a parcela de energia gerada por carvão teria que ser reduzida até 2050, juntamente com grandes cortes em outros combustíveis fósseis, para impedir que as temperaturas subam mais de 1,5 ºC e causem inundações devastadoras, tempestades, ondas de calor e seca.
Os Estados Unidos, assim como os produtores de petróleo Arábia Saudita, Rússia e Kuweit, recusaram-se a qualificar o relatório como "bem-vindo", um termo sugerido por países que queriam maior foco sobre suas conclusões.
A declaração final meramente classificou a conclusão do relatório como "oportuna" e convidou as partes a fazer uso das informações nele contidas.
Mas a discussão sobre o relatório ficou longe de ser a única: China, Índia, Rússia, Austrália, Japão, Brasil e União Europeia tiveram várias divergências, embora a China tenha recebido elogios por ajudar a superar a preocupação, especialmente dos Estados Unidos, de que Pequim evitaria quaisquer regras.
"Eu acho que eles já percorreram um longo caminho ao reconhecer que precisam transmitir confiança", disse Jennifer Morgan, diretora-executiva do Greenpeace International, sobre os negociadores chineses.
Embora tenha descrito Washington como "fora de sintonia" nas conversas, Morgan observou que as regras acertadas na Polônia valem para todos os países, incluindo os Estados Unidos, até a planejada retirada norte-americana do acordo em 2020, o que qualificou como uma conquista em si.
"Mas isso não substitui a necessidade de aumentar a ambição", disse ela.
A Polônia, anfitriã da terceira conferência climática da ONU, foi criticada por seu compromisso com o carvão, o mais poluente dos combustíveis fósseis.
A declaração final da reunião apenas ressaltou um pedido de Varsóvia para uma "transição justa", permitindo que as comunidades dependentes do carvão tenham mais tempo para se ajustar.
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