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Decepcionados com EUA, líderes curdos da Síria se voltam a Rússia e Assad

27/12/2018 17h56

Por Ellen Francis

BEIRUTE (Reuters) - Alarmados com a decisão norte-americana de sair de território sírio, líderes curdos que controlam a maior parte do norte do país estão exortando a Rússia e sua aliada Síria a enviar forças para blindar a fronteira da ameaça de uma ofensiva turca.

Seu pedido de uma volta de forças do governo sírio à divisa, que combatentes curdos vêm ocupando há anos, indica a profundidade da crise na esteira da decisão abrupta do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de retirar suas tropas.

    Embora pouco tenha mudado no cenário por ora –forças dos EUA ainda atuam e Trump disse que a retirada será lenta–, autoridades curdas estão correndo para encontrar uma estratégia para proteger sua região da Turquia antes de os EUA partirem.

    As conversas com a Síria e Rússia parecem ser o foco da liderança curda. Seu maior temor é uma repetição de um ataque turco que expulsou moradores curdos e a milícia YPG da cidade de Afrin, no noroeste, no início deste ano.

    Eles também estão tentando convencer outros países ocidentais a preencherem o vácuo quando Washington chamar de volta os cerca de 2 mil soldados cuja presença no norte e no leste da Síria vem contendo a Turquia até agora.

    O território em disputa cobre cerca de um quarto da Síria, a maior parte ao leste do Rio Eufrates, controlado pelas Forças Democráticas Sírias (SDF), um grupo abrangente dominado pelos curdos do YPG. A área faz fronteira com o Iraque ao leste e inclui três cidades grandes: Qamishli, Hasaka e Raqqa.

    As SDF têm sido a principal parceira síria de Washington na luta contra o Estado Islâmico, mas o governo turco vê os combatentes da YPG que formam sua espinha dorsal como uma ameaça e prometeu dizimá-los.

    Autoridades do norte sírio que foram a Moscou na semana passada farão outra viagem em breve na esperança de que a Rússia pressione Damasco a "cumprir seu dever soberano", disse o destacado político curdo Aldar Xelil à Reuters.

    "Nossos contatos com a Rússia, e o regime, são para buscar mecanismos claros para proteger a fronteira norte", disse Xelil, um arquiteto de planos de autonomia para o norte sírio. "Queremos que a Rússia desempenhe um papel importante para obter estabilidade".

    O presidente sírio, Bashar al-Assad, já no comando da maior parte do país com a ajuda dos aliados iranianos e russos, prometeu recuperar o território das SDF. A região, rica em petróleo, água e terras de cultivo, é vista como importante para a reconstrução da Síria.