Suprema Corte da Venezuela acusa mais parlamentares de traição; Congresso é fechado
CARACAS (Reuters) - A Suprema Corte da Venezuela acusou de traição nesta terça-feira quatro parlamentares da oposição, dando sequência a acusações similares contra outros dez congressistas neste mês, ampliando a profunda crise política pela qual passa o país sul-americano.
Antes, as forças de segurança haviam impedido a entrada de deputados na sede do Congresso para a sessão desta terça-feira, afirmando que investigavam a possível presença de um artefato explosivo no prédio.
Em comunicado postado em sua página no Facebook, a Suprema Corte acusou os parlamentares Carlos Paparoni, Miguel Pizarro, Franco Casella e Winston Flores de traição e incitação de rebeliões. A acusação marca o mais recente passo de repressão do presidente Nicolás Maduro sobre aliados do líder oposicionista Juan Guaidó, após uma tentativa falha deste de gerar uma rebelião militar no início do mês.
"Isso simplesmente nos dá mais força", disse Flores à Reuters, classificando as acusações do Judiciário como "ordens ilegítimas de um ditador". "Sabemos que eles irão continuar com esse processo de tentativa de destruição da Assembleia Nacional."
Na semana passada, após acusações similares da corte, um parlamentar de oposição foi preso e diversos outros se refugiaram em embaixadas estrangeiras em Caracas ou deixaram o país.
Flores afirmou que fará uma viagem "de emergência" ao Uruguai para denunciar a onda de acusações contra congressistas venezuelanos ao Parlamento do Mercosul, do qual também é membro, em Montevidéu.
Em um tuíte, Pizarro chamou a decisão da Suprema Corte de "uma sentença ilegal que busca apenas gerar medo para nos calar".
A Reuters não conseguiu obter comentários dos outros parlamentares.
Funcionários encapuzados e armados do departamento de inteligência da polícia, assim como grupos da polícia nacional e militares, cercaram várias quadras próximas ao Congresso antes do início da sessão desta terça-feira, sem permitir a entrada de deputados, trabalhadores e jornalistas, de acordo com testemunhas.
A operação, que se prolongou por algumas horas, teve início com a busca por um suposto dispositivo explosivo na sede do Congresso, segundo informações recebidas pelos deputados. Entretanto, as autoridades não bloquearam o tráfego na área nem a passagem do público.
"Acreditam que o poder está nos prédios, nas gavetas, em um punhado de chaves. Perderam o poder que outrora tiveram quando perderam o povo", escreveu o presidente do Congresso, Juan Guaidó, em sua conta no Twitter, sobre a restrição ao acesso à sede.
A sessão ordinária desta terça-feira estava marcada para as 10h, mas nunca começou. Os deputados permaneceram reunidos para discutir as acusações contra seus colegas e a prisão de Edgar Zambrano, vice-presidente da Assembleia e crítico de Maduro, que ocorreu mais cedo neste mês.
"Eles denunciaram falsamente que supostamente há bombas, que há explosivos no Palácio (Congresso)... Isso é uma armação para impedir que o Parlamento funcione hoje", disse o deputado da oposição Jorge Millán. "Vamos insistir em poder entrar no Palácio e, se não tivermos sessão hoje, vamos realizá-la amanhã", acrescentou.
O Ministério da Comunicação e da Informação não respondeu aos pedidos de comentários sobre o que aconteceu no Parlamento.
(Reportagem de Mayela Armas e Corina Pons, com reportagem adicional de Luc Cohen)
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