Mapear crimes ambientais é essencial para frear perda da floresta amazônica, diz estudo
Por Mauricio Angelo
BRASÍLIA (Thomson Reuters Foundation) - Uma parcela do gado fornecido aos mercados do Brasil é engordada em terras amazônicas desmatadas ilegalmente. Para ocultar este fato aos compradores, é comum os animais passarem por muitas mãos e empresas antes de serem vendidos, disseram pesquisadores brasileiros.
Este processo de "regularização" da carne bovina torna difícil para os compradores ter certeza de que suas cadeias de suprimento evitam o desmatamento --uma razão para a perda generalizada da floresta continuar, explicaram pesquisadores em um estudo que analisa como os crimes ambientais na bacia amazônica muitas vezes são interrelacionados.
Para interromper as atividades de tais redes e impedir que produtos de origem ilegal inundem os mercados globais, é vital tornar estas conexões claras, disse Ilona Szabó, diretora-executiva do Instituto Igarapé, centro de pesquisas brasileiro que publicou o estudo nesta semana.
"Isso inclui revelar não apenas os grupos criminosos e negócios ilegais, mas também os funcionários públicos corruptos --incluindo policiais, escrivães, funcionários da alfândega e políticos que facilitam esses negócios", disse Szabó em uma entrevista concedida à Thomson Reuters Foundation.
Para rastrear as redes regionais e nacionais que fomentam os crimes ambientais na Amazônia, pesquisadores se uniram à Interpol, à InSight Crime --uma organização de jornalismo e investigação sem fins lucrativos-- e a outros parceiros, contou Szabó.
A iniciativa analisou primeiro Brasil, Colômbia e Peru, e mais tarde se estendeu a Bolívia, Equador, Guiana, Suriname e Venezuela, observou o estudo.
O que os pesquisadores descobriram é que atividades ilegais na bacia amazônica muitas vezes interagem de maneiras problemáticas e podem ter diversos impactos ambientais.
O garimpo de ouro em pequena escala, por exemplo, pode fomentar o desmatamento, a contaminação de solos e rios, violações de posse de terras e a violência.
Como parte do esforço para rastrear e reagir melhor a tais atividades ilegais na Amazônia, pesquisadores estão criando um mapa digital de incidentes em tempo real para tentar identificar melhor padrões e sobreposições.
A ferramenta, que contará com sensores remotos e visitas em campo, deve estar pronta em julho do ano que vem, disseram.
"O objetivo é criar uma ferramenta publicamente disponível que possa revelar o crime na cadeia de abastecimento, visando gestores de ativos, bancos de investimento, investidores ESG (ambiental, social e governança corporativa), fundos de pensões e consumidores que estão exigindo ação", explicou Szabó.
FALTA DE COOPERAÇÃO
Combater os crimes ambientais na Amazônia --que se estende por uma gama de países-- pode ser difícil por causa da falta de cooperação internacional, disse Adriana Abdenur, uma das autoras do estudo.
"A Amazônia é um espaço profundamente internacional", disse Abdenur, cofundadora da Plataforma Cipó, um laboratório de propostas climáticas e de governança.
Um Tratado de Cooperação da Amazônia entre oito países amazônicos, que data de 1978, visa promover um desenvolvimento "harmonioso" da região e o bem-estar humano, mas ele e outros acordos "não estão sendo usados para promover uma cooperação internacional efetiva para a região", alertou Abdenur.
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