Povos nunca contatados da Amazônia sofrem ameaças no Peru e no Brasil, diz grupo indígena
Por Anthony Boadle
BRASÍLIA (Reuters) - Nas profundezas da floresta amazônica, a maior área do mundo a conter povos indígenas isolados e nunca contatados está cada vez mais ameaçada pela extração de madeira e a mineração de ouro ilegais, por plantações de coca crescentes e pela violência do tráfico de drogas, alerta um novo relatório.
Um número indeterminado de povos indígenas, que pode chegar a vários milhares, habita uma porção vasta de floresta que se estende pela fronteira entre o Brasil e o Peru.
Suas aldeias em clareiras na selva já foram avistadas de avião, mas encontros com forasteiros ou choques com invasores são casuais.
No estudo mais abrangente já feito sobre o chamado corredor Javari-Tapiche, a ser publicado na quinta-feira em Lima, uma organização indígena peruana diz que o maior número de povos nunca contatados do mundo está em perigo.
Antropólogos registram grupos que atravessam para o Brasil em busca de alimentos, utensílios de metal e roupas no sul do corredor, supostamente para se distanciar da violência no Peru.
A Organização Regional de Povos Indígenas do Oriente (Orpio), entidade peruana do leste da Amazônia, pede uma ação conjunta urgente dos governos dos dois países para proteger a região, descartar os planos de uma estrada através da fronteira ligando o Oceano Atlântico ao Pacífico, a aplicação das leis ambientais e a repressão da atividade criminosa.
Esta atividade está prejudicando o meio ambiente e sujeitando os povos isolados e vulneráveis a um risco grande ao destruir seus meios de sobrevivência e criar situações de conflito em potencial, disse Beatriz Huertas, a principal pesquisadora do estudo.
A extração de madeira ilegal e as concessões legais de terra são a principal ameaça, mas a presença de traficantes de drogas que usam os rios para contrabandeá-las ao Brasil aumenta, explica Huertas, uma antropóloga e especialista em povos indígenas isolados.
Além disso, as plantações de coca estão aumentando na região adjacente de Ucayali e provocando violência e morte, como também dando início a conflitos dentro de comunidades indígenas vizinhas, disse ela.
O Brasil protege há tempos a área indígena do Vale do Javari, mas o atual governo do presidente Jair Bolsonaro enfraqueceu a Fundação Nacional do Índio (Funai), que retirou especialistas em povos indígenas nunca contatados, alertou ela.
O incentivo de Bolsonaro ao desenvolvimento da região amazônica estimula a extração de madeira e a mineração de ouro clandestinas na maior floresta tropical do mundo, atiçando o desmatamento no que especialistas consideram uma grande defesa contra a mudança climática.
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