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Alto líder do Hamas é morto por Israel e guerra em Gaza pode transbordar para o Líbano

Vice-líder do Hamas, Saleh al-Aruri, em reunião no Cairo em 2017 Imagem: 12.out.2017-Amr Abdallah Dalsh/Reuters

Laila Bassam;Nidal al;Mughrabi;Arafat Barbakh;

Beirute, Cairo e Gaza

02/01/2024 20h42

Israel matou o vice-líder do Hamas, Saleh al-Arouri, em um ataque de drone na capital do Líbano, Beirute, nesta terça-feira, disseram fontes de segurança libanesas e palestinas, aumentando o risco potencial de a guerra em Gaza se espalhar para muito além do enclave palestino.

Arouri, de 57 anos, foi o primeiro líder político do Hamas a ser assassinado desde que Israel lançou uma devastadora ofensiva aérea e terrestre contra os governantes do Hamas em Gaza, há quase três meses, após o ataque de choque do grupo a cidades israelenses.

Aliado do Hamas, o grupo fortemente armado Hezbollah, do Líbano, tem trocado tiros quase diários com Israel através da fronteira sul do Líbano desde o início da guerra em Gaza, em outubro.

Há tempos, Israel acusa Arouri de ataques letais contra os seus cidadãos, mas uma autoridade do Hamas disse que ele também estava "no centro das negociações" conduzidas pelo Catar e pelo Egito sobre a guerra em Gaza e a libertação dos reféns israelenses detidos pelo Hamas.

Israel não confirmou nem negou a execução do assassinato, mas seu porta-voz militar, contra-almirante Daniel Hagari, disse que as forças israelenses estavam em alto estado de prontidão e preparadas para qualquer cenário.

"A coisa mais importante a dizer nesta noite é que estamos concentrados e continuamos focados na luta contra o Hamas", disse, questionado por jornalista sobre os relatos do assassinato de Arouri.

Em Washington, o Departamento de Estado denunciou como "inflamatórias e irresponsáveis" as declarações dos ministros israelenses Bezalel Smotrich e Itamar Ben-Gvir defendendo o reassentamento de palestinos fora de Gaza.

Uma das principais figuras da coalizão de direita do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, o ministro Smotrich pediu no domingo que os residentes palestinos deixassem a faixa sitiada, abrindo caminho para os israelenses, que poderiam "fazer o deserto florescer".

Tais declarações reforçam receios entre alguns no mundo árabe de que Israel queira expulsar os palestinos das terras onde imaginam um futuro Estado, repetindo a expropriação em massa dos palestinos quando Israel foi criado em 1948.

"ESTOU ESPERANDO O MARTÍRIO", DISSERA AROURI

Israel acusou Arouri, cofundador do braço militar do Hamas — as Brigadas Izz-el-Deen al-Qassam —, de ordenar e supervisionar os ataques do grupo na Cisjordânia ocupada por Israel durante anos.

"Estou à espera do martírio (a morte) e penso que já vivi demasiado", havia dito Arouri em agosto de 2023, aludindo às ameaças israelenses de eliminar os líderes do Hamas, seja em Gaza ou no estrangeiro.

Nasser Kanaani, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Irã, um grande apoiador do Hamas e do Hezbollah, disse que o assassinato de Arouri "sem dúvida acenderia outra onda nas veias da resistência e a motivação para lutar contra os ocupantes sionistas, não apenas na Palestina, mas também na região e entre todos os que buscam a liberdade em todo o mundo".

Em discurso transmitido pela televisão em agosto, o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, havia alertado Israel contra a realização de quaisquer assassinatos em solo libanês, prometendo "reação severa".

Centenas de palestinos saíram às ruas de Ramallah e de outras cidades da Cisjordânia para condenar o assassinato de Arouri, gritando: "Vingança, vingança, Qassam!"

A guerra de Gaza foi desencadeada por um ataque transfronteiriço do Hamas a cidades israelenses em 7 de outubro, no qual Israel afirma que 1.200 pessoas foram mortas e cerca de 240 tornaram-se reféns.

O Ministério da Saúde de Gaza disse que 207 pessoas foram mortas nas últimas 24 horas, elevando o número total registrado de palestinos mortos para 22.185 em quase três meses de guerra em Gaza.

As baixas civis aumentaram no sul de Gaza à medida que o peso da ofensiva de Israel se deslocava do norte para lá. Israel diz que tenta evitar danos aos civis e culpa o Hamas por incorporar combatentes entre eles, acusação que o Hamas nega.

Principal apoiador de Israel, os Estados Unidos têm instado o país a controlar sua investida aérea e terrestre, que demoliu vastas extensões da densamente povoada Gaza, em favor de ataques mais direcionados, centrados nos líderes do Hamas.

Israel anunciou planos para retirar algumas tropas, insinuando uma nova fase da guerra em meio a um crescente protesto global sobre a situação dos civis de Gaza, embora também tenha alertado que sua ofensiva ainda terá muitos meses pela frente.

Os bombardeios israelenses envolveram os 2,3 milhões de residentes de Gaza num desastre humanitário em que milhares de pessoas ficaram desamparadas e ameaçadas pela fome devido à falta de abastecimento alimentar.

HAMAS RESPONDE À PROPOSTA DE CESSAR FOGO

Pouco antes do assassinato de Arouri, o líder supremo do Hamas, Ismail Haniyeh, que também está fora de Gaza, disse que o movimento tinha dado a sua resposta a uma proposta de cessar-fogo oferecida pelo Egito e pelo Catar.

Ele reiterou que as condições do Hamas implicavam "uma cessação completa" da ofensiva de Israel em troca de novas libertações de reféns.

Israel acredita que 129 reféns permanecem em Gaza após a libertação de alguns deles durante uma breve trégua no final de novembro e outros terem sido mortos durante ataques aéreos e tentativas de resgate ou fuga.

Israel prometeu continuar a lutar até eliminar o Hamas, mas não está claro o que planeja fazer com o enclave caso tenha sucesso, e aonde isso leva a perspectiva de um Estado palestino independente.

No norte da Faixa de Gaza, o ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant, disse que Israel destruiu 12 regimentos do Hamas e apenas alguns milhares, dentre os estimados 15 mil a 18 mil militantes, permaneceram baseados na área. Outros fugiram para o sul, disse.

(Reportagem de Laila Bassam em Beirute, Nidal al-Mughrabi no Cairo, Arafat Barbakh em Gazaq, Maayan Lubell e Dan Williams em Jerusalém, e Maggie Fick em Londres; reportagem adicional de Doina Chiacu em Washington)

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