Ruanda diz que críticas da República Democrática do Congo a acordos com clubes ameaçam paz regional

Por Marc Jones

LONDRES (Reuters) - A Ruanda afirmou nesta quinta-feira que as críticas da ministra das Relações Exteriores da República Democrática do Congo aos patrocínios do país vizinho aos clubes Arsenal, Bayern de Munique e Paris St Germain são uma ameaça para a paz e a estabilidade regionais.

Neste mês, a chanceler congolesa, Therese Kayikwamba Wagner, pediu que os três times de futebol encerrem seus acordos de patrocínio "manchados de sangue" com o "Visit Rwanda", questionando a moralidade da manutenção das parcerias em meio a conflitos no leste da República Democrática do Congo.

Rebeldes do M23, apoiados por Ruanda, tomaram importantes cidades, na mais grave escalada do conflito que já dura mais de uma década e que tem raízes no espalhamento para o Congo do genocídio ocorrido em Ruanda em 1994, além da luta pelo controle dos abundantes recursos minerais em solo congolês.

"O governo de Ruanda rejeita as recentes tentativas da República Democrática do Congo de minar as parcerias internacionais de Ruanda por meio da desinformação e da pressão política", afirmou em comunicado o Comitê de Desenvolvimento de Ruanda, que gerencia os acordos.

"Esses esforços não apenas são uma má representação da verdade, como também ameaçam as fundações da paz, da estabilidade e da cooperação econômica na região, que trabalhamos sem descanso para construir", afirmou.

Kayikwamba Wagner repetiu suas críticas em uma pronta resposta, afirmando que Ruanda tem mais de 4.000 soldados ao lado do M23 e lembrando as recentes condenações proferidas pela ONU, os Estados Unidos e os países do G7.

Os conflitos no leste do Congo são acompanhados de violações dos direitos humanos, como execuções sumárias, bombardeio de campos de desabrigados, estupros coletivos e outras violências sexuais, segundo a ONU.

Nesta quinta-feira, os EUA fizeram a sua intervenção mais incisiva na crise, impondo sanções ao ministro da Integração Regional de Ruanda, considerado "central" para o apoio do país ao grupo militante M23.

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Ruanda, por sua vez, afirma que está apenas se defendendo e acusa o Exército do Congo de se unir a milícias Hutus para massacrar os Tutsis no Congo e ameaçar Ruanda. Em 1994, Hutus promoveram o genocídio de Tutsis, e alguns destes últimos fugiram para o Congo.

O "Visit Rwanda" passou a patrocinar o Arsenal em 2018, e o último acordo teria um valor de U$12 milhões por ano.

Em 2023, o Bayern de Munique assinou um acordo de cinco anos de desenvolvimento do futebol e promoção do turismo com Ruanda. O "Visit Rwanda" também patrocina o PSG desde 2019.

A Reuters contatou os três clubes sobre os patrocínios, mas nenhum deles respondeu.

"Incentivamos que todos os parceiros internacionais de Ruanda ...pensem com muito cuidado se Ruanda é um país que se alinha com seus valores", concluiu Kayikwamba Wagner.

(Reportagem de Philbert Girinema em Kigali)

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