Industriais italianos criticam planos da coalizão de governo populista
Gina Marques, correspondente em Roma
Giuseppe Conte, 54 anos, é advogado, professor universitário e nunca exerceu a política. O jornal econômico britânico Financial Times definiu o futuro primeiro-ministro como “um principiante da política”. Conte é professor de direito privado na Universidade de Florença e não passou pelo crivo das urnas. Sua indicação é resultado de um acordo entre Luigi Di Maio, líder do Movimento 5 Estrelas, e Matteo Salvini, líder da Liga, os dois partidos mais votados nas últimas eleições.
Di Maio e Salvini formaram uma aliança bizarra, cuja condição é que nenhum deles seja o primeiro-ministro. Desde segunda-feira, quando o nome de Conte foi indicado, pipocaram polêmicas a respeito de seu currículo, que mencionava prestigiosas universidades internacionais que alegadamente não frequentou. A mentira não vai a favor da sua credibilidade.
Em sua primeira intervenção pública, Conte disse que será “o advogado de defesa do povo italiano”. As reações nas redes sociais foram imediatas. Muitos se perguntavam se há um processo contra os italianos para que precisem de um advogado. Esta declaração revela os bastidores da nomeação de Conte. O primeiro-ministro será um simples “executor” do programa definido por Di Maio e Salvini, os verdadeiros líderes de um governo que une o maior movimento antissistema da Europa com um partido ultranacionalista, à deriva da extrema-direita. Dizer que é o advogado de defesa revela uma componente nacionalista dos interesses italianos e, com um toque populista, insinua que ele protegerá a Itália de eventuais ataques da União Europeia.
Programa oneroso para os cofres italianos
A União Europeia está preocupada com as posições eurocéticas da Liga e do Movimento 5 Estrelas. O programa populista, chamado “contrato de governo” é um pacote que, além de reforçar a segurança e impedir imigração irregular, determina amplas desonerações fiscais com aumento substancial dos gastos sociais. Mas o problema é como financiar essas despesas assistenciais em um país com dívida pública superior a 130% do Produto Interno Bruto, em torno de € 2,3 trilhões. O segundo maior débito depois da Grécia. No entanto, a Itália é a terceira maior economia da União Europeia e um dos países fundadores do bloco. Qualquer abalo na economia do país pode ter um efeito dominó e acarretar uma crise na zona do euro.
Além disso, o programa inclui medidas que rompem acordos com outros países europeus, por exemplo com a França. Di Maio declarou que não vai dar continuidade na construção da linha ferroviária de alta velocidade que liga as cidades de Turim, no norte da Itália, e Lyon, no centro-leste da França. O projeto tem 26 anos e enfrenta resistência da parte italiana. O governo francês já avisou que, em caso de ruptura, os italianos pagarão multas salgadas.
O programa de governo também é criticado pelos empresários italianos. Ontem, o presidente da Confederação das Industriais da Itália, Vicenzo Boccia, disse que “se a cada mudança de governo, a Itália volta atrás nos compromissos estratégicos para a economia do país, a credibilidade italiana fica mais vulnerável”.
A escolha do ministro da Economia e Finanças é a mais aguardada pelos vizinhos europeus. De acordo com as regras institucionais italianas, Conte deve apresentar nos próximos dias uma lista com as indicações de ministros de seu futuro gabinete para aprovação do presidente italiano. Matarella provavelmente tentará limitar as consequências da ascensão desse governo eurocético na Itália. Depois do sinal verde de Matarella, a nova equipe será submetida ao voto das duas câmaras do Parlamento italiano, o que só deve acontecer na semana que vem.
Coalizão de duração incerta
Nos últimos 70 anos, a Itália já trocou 64 vezes de governo. Os líderes Di Maio e Salvini garantem que este governo vai completar uma legislatura de cinco anos. Mas, na Itália, poucos acreditam nesta longa duração. Este é um casamento forçado entre partidos antagonistas e a convivência não será fácil. Um maio de 2019 haverá eleições para o Parlamento Europeu. A Liga e o Movimento 5 Estrelas são adversários. Portanto, eles têm um ano para demonstrar que a aliança pode durar.
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