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Acusada de bruxaria, mulher é assassinada com seus quatro filhos na Índia

30/01/2019 16h55

Na Índia, uma mulher e seus quatro filhos foram assassinados em uma aldeia no leste do país. A mãe foi acusada por outros aldeões de ser bruxa. Um crime que não é fato isolado no país: os assassinatos das chamadas feiticeiras estão aumentando nesta região indiana e preocupam as autoridades.

Na Índia, uma mulher e seus quatro filhos foram assassinados em uma aldeia no leste do país. A mãe foi acusada por outros aldeões de ser bruxa. Um crime que não é fato isolado no país: os assassinatos das chamadas feiticeiras estão aumentando nesta região indiana e preocupam as autoridades.

Sébastien Farcis, correspondente da RFI em Nova Délhi

Há alguns dias, em uma aldeia tribal no estado de Orissa, no leste da Índia, uma família perdeu sua filha devido a uma doença.

Um médico tradicional lhes disse, no entanto, que a morte havia ocorrido por causa de uma mulher, supostamente uma bruxa, que teria lançado um feitiço sobre a menina. Não foi preciso mais do que uma mera suposição para a família enlutada matar a mulher acusada pelo médico, e seus quatro filhos pequenos.

Este tipo de crime é comum em Orissa. Tanto que em 2013 o governo regional adotou uma lei específica contra a “caça às bruxas”. Mas isso não impediu os atos de violência, pelo contrário: 99 pessoas foram mortas nesta perseguição em 2017, contra 83 no ano anterior.

O principal fator responsável é a falta de acesso a atendimento de qualidade nessas áreas remotas, deixando os moradores à mercê de médicos tradicionais sem escrúpulos. Alguns usam assim as superstições dos habitantes para se vingar ou para recuperar as terras das mulheres viúvas.

Feminicídios violentos são comuns na Índia

No nordeste da Índia, 15 pessoas foram presas em maio de 2018 pelo estupro de uma jovem de 16 anos, que foi sexualmente agredida e queimada viva por membros de sua aldeia.

Após a agressão sexual, a vítima reclamou ao conselho da aldeia, que impôs simplesmente uma pesada multa aos réus. Mas os acusados, furiosos pela condenação, voltaram-se contra a vítima e a queimaram viva em sua casa. O drama demonstra como as autoridades tradicionais de aldeões podem ser um obstáculo para a justiça na Índia.

Mesmo se o país aparece no sexto lugar das economias mundiais, metade de seus habitantes vivem em pequenas aldeias. Os membros de conselhos de aldeões devem resolver problemas de saúde pública, mas acabam funcionando como uma espécie de justiceiros locais. Brigas de vizinhos ou mortes suspeitas são silenciosamente resolvidas antes mesmo de chegarem à polícia, considerada muito lenta e corrupta.

O problema é que geralmente são homens de casta dominantes que comandam estes conselhos, e suas decisões sobre o assassinato e estupro de mulheres de castas inferiores podem ser influenciadas por sua cultura patriarcal, especialmente no norte do país.

O silêncio cúmplice das aldeias é também uma das razões pelas quais a maioria dos estupros que ocorrem na Índia nunca são reportados às autoridades de segurança. A maior parte dos feminicídios segue impune no país.