Pressionado pelos protestos contra a reforma da Previdência, premiê francês se reúne com líderes sindicais
A greve dos transportes continua sendo o principal assunto da imprensa francesa, estampando as capas dos principais jornais. Um dia após mais uma demonstração de força dos sindicatos que levou centenas de milhares de pessoas para as ruas na terça-feira (17), a grande questão é se o governo vai ouvir a revolta de diversos setores contra o projeto de reforma da Previdência. O primeiro-ministro francês, Edouard Philippe, realiza duas novas rodadas de negociações com líderes sindicais, nesta quarta-feira (18) e quinta-feira (19).
"As ruas mobilizadas, o governo sob pressão: onde está a saída?", pergunta o jornal progressista Libération em sua manchete de capa, estampada com a Praça da Bastilha, em Paris, lotada de manifestantes durante a marcha de terça-feira. O diário lembra que o protesto contra o projeto de reforma da Previdência reuniu 1,8 milhão de pessoas, segundo a Confederação Geral do Trabalho (CGT), e 615 mil pessoas, segundo o Ministério francês do Interior.
Em editorial, Libé afirma que, se o governo for sábio, não vai dar sequência à queda de braço com as centrais sindicais. O Executivo "enfrenta um movimento estável, mas forte e determinado. Por isso, chegou a hora de negociar seriamente", salienta.
O diário sugere que o governo volte atrás na questão de aumentar a idade para as aposentadorias dos 62 para os 64 anos, ser mais flexível com os trabalhadores do setor ferroviário, e proteger os professores para que suas pensões permaneçam intactas. "Sem essas concessões necessárias, o governo terá que assumir a perigosa degradação das relações sociais na França", afirma o editor-chefe do Libération, Laurent Joffrin.
"Diante dos sindicatos, Philippe mostra sua determinação" é a manchete de capa do jornal conservador Le Figaro, que lembra que o primeiro-ministro francês realiza nesta quarta-feira e quinta-feira uma nova rodada de negociações com líderes sindicais. Ao mesmo tempo, o premiê salientou na terça-feira sua "determinação total" para colocar em prática o projeto de reforma da Previdência anunciado por ele na semana passada. Philippe se diz "convencido" de que o regime universal, que prevê uniformizar as atuais 42 modalidades de aposentadorias, trará bons resultados e que uma parte dos sindicalistas está de acordo com ele.
"A pressão se intensifica sobre Philippe", considera Le Figaro. Para o jornal, "a crise se agrava, prometendo durar mais tempo ainda e daqui a pouco será o presidente francês, Emmanuel Macron, o principal exposto". A matéria indica que, por enquanto, o chefe de Estado está deixando o premiê apanhar sozinho. Mas, se Philippe fracassar, a revolta se voltará contra o presidente francês e seu projeto de reforma da Previdência.
O custo da greve
O jornal Le Parisien destaca os prejuízos das duas semanas de greve para a economia francesa. Lojas, hotéis, restaurantes, além do setor de eventos e espetáculos, são os que mais perdem com a paralisação. A situação é registrada especialmente em Paris e arredores, onde praticamente não circulam mais metrôs e o tráfego de trens e ônibus foi reduzido pela metade.
O diário destaca que, apenas no primeiro dia de greve, 5 de dezembro, as célebres Galeries Lafayette, registraram uma diminuição de 50% nas vendas. Nas lojas do centro de Paris, a perda é menor, mas ainda expressiva, cerca de 30%, em um período típico de compras devido às festas de fim de ano.
Nos hotéis, a situação não é diferente: entre 30% e 50% das reservas foram canceladas nas primeiras semanas de dezembro. O setor de eventos e espetáculos também sofre com a situação; em apenas cinco dias, os prejuízos foram de 30%.
Le Parisien indica que a secretária de Estado encarregada do comércio e do consumo, Agnès Panier-Runacher, faz um balanço das perdas a cada dois dias com associações e federações de comércio e artesanato, e constata que nos últimos treze dias a situação se degrada. Por outro lado, se o governo e o Banco Central da França abaixaram sua previsão de crescimento da economia para entre 1,3% e 1,1%, o ministro francês da Economia, Bruno Le Maire, minimiza os efeitos da mobilização social.
"Nossa experiência histórica mostra que esses movimentos finalmente pesam pouco sobre o crescimento econômico, com um simples adiamento da atividade", afirma. Foi o que aconteceu, segundo ele, durante o auge das manifestações dos coletes amarelos e a imensa greve de 1995, que paralisou a França durante semanas, devido a um projeto de reforma da Previdência do então governo de Jacques Chirac. Na época, o executivo teve de ceder à pressão das ruas e cancelar os planos de mudança no sistema de aposentadorias.
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