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Polícia desmantela acampamento de 1.500 migrantes em anel rodoviário de Paris

28/01/2020 12h34

A polícia francesa desmantelou na manhã desta terça-feira (28) um novo acampamento de migrantes na zona norte de Paris. As cerca de 1500 pessoas que viviam no local, em condições insalubres, foram levadas provisoriamente para ginásios. ONGs que dão assistência aos refugiados e candidatos ao asilo criticam essas operações frequentes, que não oferecem soluções definitivas de abrigo aos migrantes.

As 1.436 pessoas, incluindo 249 famílias e 93 crianças, que dormiam em barracas nos arredores da Porta de Aubervilliers, ao longo do anel rodoviário que contorna a capital, foram levadas para ginásios esportivos e centros de acolhimento provisórios onde a situação delas será estudada. A maioria vem do Afeganistão, Eritreia ou Sudão, países em conflito. "Essa é mais uma operação de marketing do governo", critica Yann Manz, cofundador da ONG Utopia 56, que acompanha a situação dos migrantes que chegam à França há 4 anos. "Se o governo não acabar com esse labirinto administrativo que impede os migrantes de regularizar sua situação e não criar uma verdadeira política de acolhida, essas pessoas vão voltar para a rua".

Uma prova desse círculo vicioso é que este foi o segundo desmantelamento de um acampamento, no mesmo local, em menos de dois. Em cinco anos, 60 operações como esta foram realizadas pelo governo. Yann Manz critica a regra europeia de Dublin, que impede que um migrante que tenha sido inscrito em um país do bloco, possa entrar com o pedido de asilo em outro. Apenas 27% dos pedidos de asilo são concedidos na França. "Esse é um problema político. O governo usa essa regra de Dublin pensando que se a gente os receber mal, os candidatos ao asilo serão menos numerosos. O problema é que a extrema direita cresce e o governo tenta agradar o eleitorado de direito e de extrema direita", denuncia.

Yann Manz pede que a França adote uma verdadeira política de acolhida de migrantes: "É necessário assumir que essa população é positiva para a França. Temos que os inserir corretamente e dar emprego nos setores onde falta mão-de-obra no país", propõe.

Ciclo vicioso

Vários acampamentos surgiram na capital francesa desde a crise migratória deflagrada em 2015. Cerca de 20.000 imigrantes e refugiados foram retirados destes acampamentos somente no último ano. Mas muitos deles, impossibilitados de regularizar sua situação voltaram para a rua.

As histórias contadas por migrantes que foram retirados nesta manhã do acampamento da porta de Aubervilliers confirmam essa precariedade. Fátima, uma marfinense de 38 anos que morava no local junto com suas três filhas, estava ansiosa sem saber o que ia acontecer.

Yssuf, de 29, também originário na Costa do Marfim, contou que vivia no acampamento desde dezembro, quando foi parar na rua depois que seu pedido de asilo foi rejeitado e teve que deixar um albergue de migrantes onde estava. "O frio aqui começava a ser insuportável. Estou feliz de poder ter um refúgio, mesmo sabendo que é apenas por um tempo. É melhor do que nada", completou em entrevista à AFP.

O ministro do Interior, Christophe Castaner, havia prometido acabar com todos os acampamentos de migrantes de Paris até o final do ano passado. O governo dizia que iria abrir mais abrigos para os refugiados, mas ameaçava também deportar quem tivesse seu pedido de asilo negado. A polícia está mobilizada para garantir que os migrantes não voltarão para os acampamentos desmantelados e para evitar a ocupação de novos locais.

"Não vamos retomar um ciclo interminável de evacuações seguidas de novas instalações", declarou o chefe da Polícia de Paris, Didier Lallement. O presidente Emmanuel Macron disse, no ano passado, que a França deve pôr fim a sua abordagem "frouxa" em matéria de imigração.

"Os migrantes vão ser afastados de Paris, enviados para a periferia. O governo tenta torná-los invisíveis", acusa Yann Manz. Ele lembra que este novo desmantelamento acontece justamente três dias antes do censo anual realizado pela prefeitura de Paris para saber quantos sem-teto moram nas ruas da capital.