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Coronavírus: agências de turismo da França registram queda de 99% de viagens para a China

27/02/2020 16h30

A epidemia do COVID-19 está causando o cancelamento de reservas de turistas franceses, como apontam os números do setor. Mas não é só o turismo que sente os sintomas da crise. Empresas estrangeiras na China preveem uma queda no volume de negócios no primeiro semestre devido ao novo coronavírus e muitas já diminuíram suas metas anuais, segundo pesquisas divulgadas pelas câmaras de comércio europeias nesta quinta-feira (27).

"A epidemia de coronavírus tem um impacto forte sobre as intenções de viagens dos franceses, seja qual for a destinação", explica Jean-Pierre Mas, presidente da associação das empresas de viagens, que representa o setor de turismo na França.

O empresário diz que o medo de viajar está crescendo, como mostram dados recentes.

"Tivemos uma queda de 4% das reservas nos primeiros 25 dias de fevereiro, seja qual for o destino, enquanto que até o fim de janeiro tínhamos um crescimento de 8%", explica.

A situação é pior no caso de pacotes para os países asiáticos. Durante os primeiros 23 dias de fevereiro, as reservas com agências de viagens francesas para estadias na China, nos próximos meses, caíram 99%, uma queda que é explicada pelo fato de muitos voos terem sido cancelados para essa destinação. Por outro lado, há uma forte repercussão na procura por passeios na Tailândia, Vietnã e Camboja, que não estão proibidos por razões sanitárias, mas tiveram redução de 60% nas reservas.

Para a associação das empresas de viagens, o problema está na falta de comunicação adequada.

"Estamos numa desordem absoluta em termos de comunicação e de gestão de crise", afirma Jean-Pierre Mas. "Quando estamos num fenômeno como esse, temos uma tendência natural a ficar em ambiente familiar ou entre amigos, e temos medo de tudo o que é estrangeiro", acrescenta.

Enquanto as autoridades de saúde trabalham para conter a epidemia, as agências de viagens já estão de olho no próximo período longo de férias. "Se tivermos uma pandemia que progrida geograficamente, isso poderá afetar as intenções de férias para esse verão", diz.

Um preço alto a pagar

Enquanto a economia chinesa permanece paralisada por quarentenas e restrições à circulação que perturbam as cadeias produtivas e sufocam o consumo, os prejuízos devem ser altos.

Das quase 580 companhias europeias ouvidas pelas Câmaras de Comércio da UE e da Alemanha na China, quase metade espera que o seu faturamento caia mais de 10% no primeiro semestre, enquanto 21% esperam uma queda de menos de 10%.

Poucas, no entanto, acreditam numa recuperação a curto prazo. Metade delas diminuiu sua meta para o ano.

Os principais motivos de preocupação são a queda na demanda por seus produtos e serviços, a falta de funcionários (em quarentena, ou impossibilitados de se locomover), assim como as interrupções logísticas que impedem as empresas de receber componentes e executar suas entregas.

Enquanto Pequim incentiva os empresários a retomarem suas atividades, a Câmara de Comércio da UE destaca "todas as condições prévias" exigidas pelas autoridades locais para autorizar a reabertura das fábricas, bem como os "requisitos extremamente restritivos de quarentena" para os funcionários que retornam de suas regiões de origem.

O horizonte permanece particularmente sombrio para a província de Hubei (centro da China e berço do coronavírus) isolada do mundo há um mês. Por lá, as empresas não têm esperança de voltar ao funcionamento normal por pelo menos mais quatro semanas, ressaltou o presidente da Câmara europeia, Joerg Wuttke.

Até mesmo os grupos de peso "estão lutando com as restrições" draconianas nesta "zona de guerra da epidemia", disse Wuttke em uma conferência on-line.

Em toda a China, as pequenas e médias empresas, menos sólidas, sofrem, especialmente no setor de prestação de serviços. "Elas devem continuar pagando seus aluguéis e salários. Quanto tempo poderão sobreviver sem produzir?", questiona Wuttke.

"Para algumas, o trabalho remoto não é possível. Nosso apelo ao governo é que suspenda as restrições o mais rápido possível, região por região, para que as pequenas e médias empresas possam respirar", explica.

Essa constatação é compartilhada pelas câmaras de comércio do Reino Unido. De acordo com uma pesquisa realizada com 135 companhias britânicas, 40% das pequenas e médias empresas esperam que suas receitas caiam pelo menos 20% este ano.