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França entra em recessão com queda de 6% do PIB, mas UE fracassa em acordo de resgate para o bloco

08/04/2020 10h55

A França já enfrenta uma recessão inédita causada pela epidemia do coronavírus. O PIB francês despencou 6% nos primeiros três meses do ano, o pior resultado trimestral desde o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, segundo uma projeção do banco central francês. O desemprego temporário já atinge quase 6 milhões de trabalhadores, e a maioria dos setores da economia francesa são impactados pela crise.

Depois de analisar os dados de 8.500 empresas, o Banco da França estima que a atividade econômica no país caiu 32% nos últimos 15 dias do mês de março, período que coincide com o início do isolamento decretado pelo governo. O estudo, divulgado nesta quarta-feira (8), revela que a maioria dos setores foram afetados pela medida, começando pela construção, comércio, transportes, hotelaria e restaurantes. Depois de 1945, um retrocesso de amplitude semelhante só foi observado no segundo trimestre de 1968, marcado pelas manifestações de maio, diz o banco central.

O mês de abril será "pelo menos tão negativo quanto a última quinzena de março", advertiu o governador da instituição, François Villeroy de Galhau. "O crescimento será muito negativo em 2020", afirmou, antecipando, no entanto, uma "recuperação" em 2021.

Divergências na zona do euro

Enquanto os franceses eram informados sobre os danos causados pela pandemia à economia local, o presidente do Eurogrupo, Mario Centeno, comunicava, em Bruxelas, que os ministros das Finanças do bloco fracassaram na tentativa de chegar a um acordo sobre uma resposta econômica comum à pandemia de Covid-19. Após 16 horas de negociações, as discussões foram suspensas e deverão ser retomadas na quinta-feira (9).

Segundo várias fontes europeias, as negociações capotaram devido à firmeza da Holanda, que rejeita o pedido da Itália sobre empréstimos aos países mais afetados pela epidemia. "Os holandeses foram muito duros. Sem eles, teríamos chegado a um acordo", disse uma fonte próxima às negociações, que descreveu as exigências de Haia como "excessivas".

Esta reunião era considerada um teste decisivo para a unidade dos 27, que continuam mostrando divergências, aparentemente irreconciliáveis, após o fracasso da cúpula de chefes de Estado e de Governo ocorrida em 26 de março.

"Resposta séria"

Diante da pandemia, a resposta europeia se concentrará em três eixos que parecem obter o apoio dos ministros. Em primeiro lugar, até € 240 bilhões em empréstimos do fundo de resgate do Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE), criado há seis anos. Adicionado a este montante, € 200 bilhões mobilizados por meio do Banco Europeu de Investimento (BEI) em um fundo de garantia para empresas e até € 100 bilhões para apoiar o sistema de desemprego temporário ou o trabalho de meio período.

Este pacote de medidas é "o mais importante e o mais ambicioso já elaborado no Eurogrupo", declarou o português Mario Centeno. Ele disse que "não se trata apenas de sobreviver ao vírus, mas de recuperar as economias".

Os países mais afetados pelo coronavírus, principalmente Itália e Espanha, insistem na criação de um instrumento de dívida compartilhada - conhecido como "coronabônus" ou "eurobonds" -, que visa a relançar a economia assim que a crise passar. Esta proposta é apoiada por França, Grécia, Malta, Luxemburgo e Irlanda. "Os eurobonds representam uma resposta séria e apropriada", insistiu o primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, cujo país é o mais atingido na Europa (mais de 17.127 mortes), na noite de segunda-feira (6).

A mutualização da dívida é, de fato, uma linha vermelha para Berlim e Haia, que se recusam a se comprometer com um empréstimo conjunto com Estados fortemente endividados, que consideram maus administradores. Para o ministro das Finanças da Holanda, Wopke Hoekstra, os "coronabônus" causariam mais problemas do que soluções para revitalizar a economia.

"A Holanda é contra a ideia dos eurobonds", tuitou Hoekstra nesta quarta-feira. Seu colega alemão, Olaf Scholz, também reiterou sua rejeição a essa medida e insistiu em que a reativação da economia europeia é possível "com ferramentas muito clássicas", como, "por exemplo, o orçamento da União Europeia". Dinamarca, Áustria, Suécia e Estados Bálticos estão deste lado, segundo uma fonte europeia.

Em vez de debater a hipotética dívida compartilhada, os países do norte preferem se concentrar agora nos instrumentos existentes para combater o golpe econômico, como o MEE, criado em 2012 durante a crise da dívida na zona do euro. O MEE pode conceder empréstimos a um Estado em dificuldade até um montante de 2% do Produto Interno Bruto (PIB), ou até 240 bilhões de euros.

O ministro francês da Economia e Finanças, Bruno Le Maire, incitou os países da zona do euro a encontrar um acordo em 24 horas, considerando que um fracasso dos europeus, neste momento, seria algo "impensável".

Com informações de agências internacionais