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Nobel de Medicina francês causa polêmica ao dizer que coronavírus saiu de laboratório chinês

Médico francês Luc Montagnier disse que vírus surgiu de laboratório em Wuhan - AP Photo/Michel Lipchitz
Médico francês Luc Montagnier disse que vírus surgiu de laboratório em Wuhan Imagem: AP Photo/Michel Lipchitz

17/04/2020 13h13

Em uma entrevista ao site francês Pourquoi doctor? ("Por quê doutor?", em português), o professor e Nobel de Medicina francês Luc Montagnier explica que não acredita que a covid-19 seja originária da contaminação em um mercado de animais selvagens na China. "É apenas uma história da Carochinha, mas não é real. O vírus saiu de um laboratório de Wuhan", declarou.

Montagnier, premiado com o Nobel pela "descoberta" do HIV em 2008, afirmou ainda que "o laboratório da cidade de Wuhan se especializou nesse coronavírus desde o início dos anos 2000. Eles têm experiência nessa área", disse.

O professor explica ter analisado "nos mínimos detalhes" a sequência com seu colega matemático Jean-Claude Perrez: "Não fomos os primeiros, já que um grupo de pesquisadores indianos tentou publicar um estudo que mostra que o genoma completo desse coronavírus [possui] seqüências de outro vírus, o HIV, o vírus da AIDS", explicou.

O pesquisador diz que o grupo indiano de pesquisa teve que se retratar após sua publicação. Ele afirma que "a verdade científica sempre acaba surgindo". Segundo ele, a sequência do HIV foi inserida no genoma do coronavírus na tentativa de fazer uma vacina contra o HIV. "É o trabalho de um aprendiz de feiticeiro", comenta.

Após ganhar o Prêmio Nobel de Medicina, ao lado da pesquisadora Françoise Barré-Sinoussi, o professor Luc Montagnier foi acusado de "desvios científicos". Em 2009, ele apresentou teorias controversas sobre a origem do HIV e sua transmissão. Em 2017, 100 acadêmicos denunciaram suas posições anti-vacinas e pediram ao Colégio de Médicos que a sancionasse.

"Análise errada"

"É uma análise errada", critica o especialista Simon Wain Hobson, virologista molecular do Instituto Pasteur, em Paris, em entrevista à RFI. "Ele [Luc Montaigner] não é o único a falar isso, outros pesquisadores já cometeram o mesmo erro", diz.

"É muito simples. O genoma do novo coronavirus é particularmente rico em duas bases em seu genoma, e o HIV é rico em uma delas. Olhando a sequência genética, pode-se chegar à conclusão de que há similaridades [dentro da hipótese de que o novo coranavirus teria sido "manipulado" em laboratório durante testes de uma vacina contra o HIV].

"Mas eles não compararam o genoma do novo coronavirus com outros genomas, como o humano, que também possuem partes dessa sequência. Esse é um erro fácil de ser cometido, e que eu percebo desde o início da minha carreira, nos anos 1980. Assim, as conclusões de Montaigner estão erradas", afirma Hobson.

"Trabalhamos com informações disponíveis e publicadas, então só posso comentar em cima destas informações previamente catalogadas. Tudo leva a pensar que [a covid-19] seja uma infecção natural. Ou seja, vem do mundo animal, e o ponto de partida seria um outro mamífero", afirma o virologista.

"Poderiamos analisar outras hipóteses, como essa que diz que o vírus foi criado em um laboratório de Wuhan, todos sabem que ele veio dessa cidade. Todos os vírus precisam de um ponto de partida, é aleatório. Com a evolução das informações sobre esse novo coronavirus, poderemos no futuro imaginar outras causas. Mas, nesse exato momento, a única causa possível é a natural", declarou Hobson.