Topo

Nova lei de segurança espalha terror entre opositores da China em Hong Kong

03/07/2020 11h29

Vaga quanto aos crimes e dura em relação às punições, a nova lei de segurança nacional chinesa causou pânico entre os manifestantes que invadiram as ruas de Hong Kong no último ano. Para fugir da vigilância, jovens estão limpando todos os traços digitais e até jogando fora roupas usadas durante protestos para que não sejam perseguidos pelo regime de Xi Jinping.

A imprensa francesa destaca nesta sexta-feira (3) a reação dos manifestantes de Hong Kong diante da nova lei de segurança nacional imposta pela China nesta semana. O texto autoriza o regime a interpretar como bem entender seus limites sobre o crime de traição e terrorismo e prevê duras punições que vão até prisão perpétua.

Em uma longa matéria com destaque na capa, o jornal Le Monde diz que Pequim conseguiu impor o medo no território anexado. Nathan Law, umas das principais figuras da oposição, avisou que se exilou fora do país. Joshua Wong, jovem que ficou conhecida durante as manifestações, fez questão de enfatizar que não faz mais parte do grupo opositor Demosisto.

O medo não tomou conta apenas dos líderes do movimento que invadiu as ruas de Hong Kong durante meses. Os jovens que participaram das multidões e utilizaram engenhosas estratégias de protesto para resistir à repressão, como o uso de guarda-chuvas e máscaras para fugir das bombas e da vigilância das câmeras, agora estão com medo.

Eliminar provas

O jornal francês conta que eles têm apagado de seus celulares e dos computadores todas as fotos, conversas sobre os protestos ou contatos de outros ativistas que possam ser usados contra eles em um processo. A limpeza não é apenas digital, alguns chegam a jogar peças de roupa fora com medo de serem reconhecidos.

"Joguei fora várias sacolas de roupa e até um par de tênis bem caro, que era uma edição limitada e poderia a ajudar a me encontrar nas fotos se procurassem bem", conta um jovem ao diário francês.

A reportagem aponta que desde maio, quando foi divulgado o primeiro projeto de lei de segurança nacional, houve uma corrida por VPNs, serviço que criptografa o uso da internet, no território de Hong Kong. Em uma população hiperconectada, muitos têm tirado o cartão SIM de seus celulares ao saírem para evitar que seus trajetos sejam rastreados, outros deixaram de usar as redes de wi-fi pública temendo o rastreamento ou a invasão do celular.

Nos grupos de Telegram que antes eram usados por militantes, o silêncio agora reina. "Ou as pessoas foram para outras redes, ou não estão mais falando sobre isso", conta um participante.

Recompensa e repressão

O antigo (e muito criticado) chefe do executivo de Hong Kong, Leung Chun-ying, anunciou nesta semana uma recompensa de mais de R$ 500 mil (1 milhão de dólares de Hong Kong) para quem der informações que levem à prisão contraventores da lei de segurança, ressalta Le Monde.

O jornal Libération dedicou sua capa à repressão da manifestação contra a nova lei de segurança nacional na quarta-feira (1°) e usa a foto de um jovem no chão. Mais de 370 pessoas foram presas durante o protesto, ao menos um homem de 23 anos foi indiciado por terrorismo, já seguindo as novas regras.

O diário francês lembra que o acordo feito em 1997 previa que Hong Kong teria um sistema diferente do chinês até 2047, quando o território seria completamente anexado pela China.

"Os moradores dessa antiga colônia britânica têm dificuldades para entender que sua sociedade, livre até terça-feira, agora vive sob um regime autoritário", diz o Libé, que coloca Hong Kong como epicentro da nova Guerra Fria.

A China de 2020 não é mais a mesma de 1997. Xi Jiping e o partido comunista criaram uma situação em que ou se está com eles ou contra eles. Depois de Hong Kong, afirma o jornal, o último peão a ser derrubado neste xadrez seria Taiwan.