Cantora Céu: "O amor anda assustado no Brasil; a revolta está chegando"
O disco já saiu no Brasil em setembro do ano passado, mas agora é a vez de os europeus conhecerem APKÁ!, quinto álbum da cantora Céu. Em entrevista à RFI, ela conta como está enfrentando a quarentena na sua casa em São Paulo e aposta que o amor, essência do seu novo disco, ainda vai mover o Brasil a reagir ao "pesadelo" que o país vive atualmente.
Confinada desde março em sua casa com o marido, os dois filhos e a sogra, Céu tem valorizado a proximidade da família em meio a esse momento "muito grave" da pandemia de coronavírus. "É delicadíssimo. Tirar um pouco de vantagem é o que a gente pode fazer para não pirar, porque se olhamos mais a fundo a situação, é muito grave o que a gente está vivendo", comenta a cantora. "É muito pouco tempo que me resta [para compor em casa], mas nas brechas eu tento respirar nesse lugar de criação que me faz superbem. Voltei a estudar um pouco de piano", revela.
A chegada da Covid-19 bateu em cheio no mundo artístico: de um dia para o outro, músicos se viram privados dos shows e do contato com o público. "Estou tentando me equilibrar, achar trabalho, porque a gente vive de aglomerações", ressalta Céu. "É um pesadelo. Não existe nenhum tipo de olhar real para a arte no Brasil atualmente. Num país que tem miséria e abismos sociais, a arte fica no último dos últimos lugares."
Lives são interessantes, mas Céu é "mais analógica"
As lives, uma das saídas encontradas para manter vivo o setor musical, demoraram a se tornarem pagas no Brasil, observa a artista. "É interessante poder estar na casa das pessoas. É uma coisa íntima também, de eu trazê-las para a minha casa, nessa telinha, mas é meio frio também. Não tem o calor humano real", avalia. "É um formato muito legal, porém ainda sou mais analógica", brinca.
Na Europa, a imprensa especializada celebrou a nova obra de Céu e tem chamado a atenção para o caráter político que algumas das músicas trazem, como Forçar o verão". Para ela, é "impossível" não se posicionar no Brasil de 2020.
"Eu nunca fui panfletária, mas eu sempre tentei entender quais são os pilares sobre os quais a gente se ergueu. Isso evoca o feminismo, questões sociais. E quando a gente é mãe, isso é muito forte", afirma. "Desde o meu primeiro disco, eu sempre falei um pouco dessas questões, de uma maneira poética. Com Forçar o Verão, eu trouxe de uma maneira mais crua porque já estava antevendo a lama em que a gente está afundando, há muito tempo."
Amor e revolta
APKÁ! foi gestado ao mesmo tempo que o segundo filho da cantora, Antonio. Invadida pelos hormônios da gravidez, Céu quis dedicar o álbum ao amor. A questão que fica é: no Brasil de hoje, onde foi parar o amor?
"O Brasil é complicado: é um país amoroso, receptivo, só que os nossos pilares estão muito enfraquecidos. O brasileiro é muito passivo, tem memória curta, é permissivo. A gente chegou no limite. Estourou a cota", diz Céu. "O amor existe, muito, e é a coisa mais interessante que o ser humano pode produzir. É a empatia, liberada pelo amor, ao nos colocarmos no lugar do outro. Eu acredito no amor como uma forma de transformar de fato", sublinha a cantora. "O amor está bem assustado, a revolta está maior. Há uma revolta: ela está chegando."
APKÁ conta ainda com uma música feita por Caetano Veloso especialmente para ela, Pardo. O disco é resultado de mais uma parceria com o tecladista francês Hervé Salters, do grupo General Elektriks, sucesso mundial.
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