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Francês que teve eutanásia negada promete divulgar agonia até a morte nas redes sociais

O francês Alain Cocq, que sofre de uma doença degenerativa rara, disse que vai parar de se alimentar, após ter pedido de eutanásia negado pelo governo - Philippe Desmazes/AFP
O francês Alain Cocq, que sofre de uma doença degenerativa rara, disse que vai parar de se alimentar, após ter pedido de eutanásia negado pelo governo Imagem: Philippe Desmazes/AFP

04/09/2020 06h23

A partir de hoje, o francês Alain Cocq vai parar de se alimentar para "adormecer em paz e parar de sofrer". A França acompanha há mais de um mês o drama deste homem de 57 anos, vítima há 34 de uma doença degenerativa rara. Ele pediu autorização ao presidente francês, Emmanuel Macron, para realizar eutanásia, proibida no país.

A resposta do Palácio do Eliseu veio ontem. O líder francês declarou que "não está acima da lei" e que por essa razão "não pode aceitar o pedido".

Macron acrescentou que "se sensibiliza e admira o combate incessante" do homem contra a doença e suas consequências, e disse "respeitar, com emoção", a decisão de Alain Cocq de parar de se alimentar. A decisão foi informada ao paciente por um telefonema de um conselheiro de Macron.

Na sequência, em entrevista ao jornal "Le Figaro", o homem confirmou que, "a partir da noite desta sexta-feira, vai cessar toda a hidratação e alimentação", para "se livrar desse imenso fardo" em que a sua vida se transformou.

E mais: Cocq promete transformar o seu caso em um exemplo concreto de como a lei, segundo ele, precisa evoluir na França.

Escolha sobre 'o segundo dia mais importante das nossas vidas'

A partir de amanhã, o paciente quer retransmitir os seus últimos dias pelas redes sociais, para denunciar que, "na França, não podemos morrer com dignidade". "Alain Coqc inicia a crônica da sua morte anunciada", relata o jornal "Libération", na edição de hoje. A agonia deve durar quatro ou cinco dias, estima Cocq.

Em declarações à rádio RTL, na manhã de hoje, o francês argumenta que, "quando temos uma doença incurável, nós devemos poder ter a escolha de decidir sobre o segundo dia mais importante da nossa vida", ou seja, o dia da morte.

O país acompanha o drama de Alain Cocq desde 20 de julho, quando ele divulgou a carta enviada a Macron. O homem sofre de uma doença extremamente grave, que provoca a aglutinação das suas artérias e vai, aos poucos, destruindo seus órgãos pela isquemia, gerando dores insuportáveis.

Quadro degenerativo

Durante mais de 10 anos, Cocq conseguiu conviver com a enfermidade, chegou a participar de competições esportivas para cadeirantes até 1991. Entretanto, aos poucos, suas condições de vida foram se tornando cada vez mais difíceis.

Ele sobrevive com ajuda de aparelhos, sobre uma maca e medicado para atenuar a dor. O francês já passou por inúmeras internações e nove cirurgias em quatro anos.

"A partir de um certo momento, há o suportável e o insuportável", afirmou Alain Coqc, à RTL.

O homem pede que a legislação atual sobre a questão passe a permitir a sedação profunda e medicalizada a partir do instante em que um paciente decide morrer por conta de uma doença grave e sem cura, e não apenas nas últimas horas de agonia, como acontece hoje.

Nas redes sociais, onde francês tem se pronunciado regularmente, ele acrescentou que, "para aqueles que dizem que a minha decisão é contrária à religião, eu lembro que está escrito: não julgarás".