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Suspeito de ataque em Paris queria incendiar sede do Charlie Hebdo, diz procurador

Jean-François Ricard disse que Zaheer Hassan se declarou revoltado com a recente republicação das caricaturas de Maomé - Alain Jocard/AFP
Jean-François Ricard disse que Zaheer Hassan se declarou revoltado com a recente republicação das caricaturas de Maomé Imagem: Alain Jocard/AFP

29/09/2020 11h12

Novas informações vêm à tona sobre as motivações do autor do ataque da última sexta-feira (25), diante da ex-sede do jornal satírico Charlie Hebdo em Paris, na França.

Em coletiva de imprensa realizada hoje, o procurador nacional antiterrorista da França, Jean-François Ricard, afirmou que o suposto agressor se declarou revoltado com a recente republicação das caricaturas do profeta Maomé.

Segundo Ricard, Zaheer Hassan Mahmood, de 25 anos, que inicialmente havia se apresentado como Hassan Ali, de 18, não reivindicou integrar ou ter agido em nome de alguma organização terrorista.

Usando a identidade de Hassan Ali, Zaheer se beneficiou de uma ajuda social à infância desde que chegou à França, em 2008. A farsa foi descoberta depois que a polícia achou a cópia de um documento com sua verdadeira identidade em seu celular.

O paquistanês usou seu verdadeiro nome em um vídeo gravado pouco antes do atentado em que anuncia o ataque.

Nas imagens, que duram dois minutos e circularam durante o fim de semana nas redes sociais, ele diz que o ataque seria uma resposta "às caricaturas do profeta Maomé".

Paquistanês planejou incêndio

O jovem também deu mais detalhes sobre sua intenção e a preparação do atentado aos investigadores, segundo o procurador.

De acordo com Ricard, o projeto inicial de Zaheer era incendiar o local que ainda acreditava ser a sede do Charlie Hebdo.

"Ele indicou ter assistido, nos últimos dias, vídeos que vieram do Paquistão" sobre a republicação, no último 1° de setembro, das caricaturas do profeta Maomé pelo jornal satírico. A edição especial foi realizada para marcar a abertura do julgamento de 11 acusados de participação nos atentados de janeiro de 2015.

Afirmando-se "revoltado" com a atitude do Charlie Hebdo, ele realizou buscas na internet e chegou ao antigo endereço da ex-sede do jornal, a rua Nicolas-Appert, no 11° distrito de Paris.

Segundo Ricard, o agressor não estava a par de que a publicação havia deixado o local após o atentado de janeiro de 2015.

Antes da última sexta-feira, Mahmood esteve nos arredores da ex-sede nos dias 18, 22 e 24 de setembro.

No dia do ataque, Mahmood foi até o município de Saint-Denis, na periferia de Paris, para comprar uma faca de açougueiro, um martelo e três garrafas de solvente inflamável, encontrados pela polícia no local das violências. As imagens das lojas onde adquiriu os materiais mostraram que o jovem estava sozinho no momento das compras.

"Seu projeto inicial era entrar no prédio, eventualmente, se necessário, com ajuda de um martelo, e depois incendiá-lo com ajuda das garrafas de solvente", declarou Ricard.

"Chegando diante do nº. 6 da rua Nicolas-Appert, e vendo as vítimas, pensou que elas trabalhavam para o Charlie Hebdo, e finalmente decidiu atacá-las", reiterou.

Jornalistas atacados seguem hospitalizados

Dois jornalistas da produtora Premières Lignes foram atacados e feridos com uma faca de açougueiro. Eles seguem hospitalizados.

A mulher, de 28 anos, teve vários cortes e fraturas no rosto. A outra vítima, um homem de 32 anos, sofreu múltiplas fraturas no crânio e seu estado "é muito grave", afirmou o procurador.

Mahmood será apresentado hoje a um juiz a cargo de uma investigação sobre tentativa de assassinato com relação com uma organização terrorista e associação de agressores terroristas com caráter criminoso.

"Esse trabalho judicial deverá especialmente tentar estabelecer em quais circunstâncias ele [o autor do ataque] pode conceber esse projeto e se ele se beneficiou de algum apoio", indicou Ricard.

Segundo o procurador, Mahmood "era totalmente desconhecido dos serviços antiterroristas", tanto sob a falsa como com a verdadeira identidade.

Segundo as autoridades, ele tinha apenas uma passagem pela polícia, por porte ilegal de arma (uma chave de fenda), mas não apresentava nenhum sinal de radicalização islâmica.

Outras dez pessoas detidas para interrogatório foram liberadas entre sexta-feira e esta terça-feira.