Brasil é "fábrica de variantes da Covid" e "pária internacional", afirma imprensa francesa
Jornais franceses analisam nesta quinta-feira (8) a crise sanitária no Brasil depois da declaração do presidente Jair Bolsonaro descartando um lockdown nacional. "A situação é absolutamente dramática e o país se transformou em uma gigantesca fábirca de variantes da Covid-19", alerta Le Monde. Por isso, Les Echos diz que o Brasil "pode comprometer a luta mundial contra a pandemia" e é considerado "um pária internacional".
Enquanto a campanha de vacinação brasileira avança lentamente, mais de 92 novas variantes foram identificadas no país, informa Le Monde que publica hoje em seu site três matérias sobre o Brasil. "A catástrofe sanitária no país, que tem quase 340.000 mortos pela Covid, é sem precedentes". Segundo o jornal, a Universidade de Washington calcula que a pandemia fará em abril 100.000 vítimas a mais, quase o dobro que em março.
O presidente brasileiro se obstina em não decretar o lockdown nacional, apesar desses dados alarmantes. A Fiocruz, o instituto de referência de saúde pública no país, considera absolutamente necessária a medida, diante da saturação dos hospitais que estão em uma situação critica em 24 dos 27 estados brasileiros, informa o vespertino.
Ausência de campanha nacional
Les Echos entrevistou o neurocientista Miguel Nicolelis. Ele afirma que essa posição do Brasil "pode comprometer a luta contra a pandemia no mundo inteiro". O progresso da vacinação no país é tímido. A explosão de casos e os mais de 4.000 mortos por dias podem levar a multiplicação de variantes, confirma o especialista ao correspondente do diário econômico em São Paulo.
Um ano após o início da pandemia, não houve uma campanha oficial de informação contra a Covid. O Brasil está, "sem dúvida", pagando pela falta de coordenação nacional. A ausência de um comitê nacional é uma das principais causas da catástrofe que vemos atualmente no Brasil, que está sendo considerado como um "pária pela comunidade internacional", aponta Nicolelis.
Bolsonaro isolado
Mesma afirmação faz o correspondente do jornal Le Monde, Bruno Meyerfeld em uma de suas matérias publicadas hoje. No título, o jornal escreve que Jair Bolsonaro está isolado no meio dessa "tormenta".
O presidente de extrema direita é "vilipendiado" por sua gestão da pandemia de Covid e criticado por seus aliados, indica o texto. Como prova desse isolamento e dos tempos difíceis que atravessa, o correspondente descreve a cerimônia de posse dos sete novos ministros brasileiros na última terça-feira (6), quando Bolsonaro preferiu "a discrição ao excesso costumeiro".
O cientista político da USP, Fernando Limongi, entrevistado pelo Le Monde, declara que, devido a esse isolamento, "as decisões presidenciais são tomadas atualmente a portas fechadas, por um 'petit' comitê".
Risco de impeachment
A atitude do presidente, um coronacético assumido, é denunciada por alguns de seus mais próximos aliados, como o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, representante do empresariado. Segundo a matéria, Lira não esconde a possibilidade de iniciar um processo de impeachment. A desconfiança também ganhou as casernas.
Mas Bolsonaro continua tendo incompreensivelmente entre 25 a 30% de apoio popular e não se pode falar de um fim de reinado, relativiza Meyerfeld. Apesar da volta de Lula, "as chances de Bolsonaro se manter no poder até 2022 e de ser um forte candidato à sua reeleição se mantém", declara o cientista político Eduardo Mello, também entrevistado pelo jornal.
"Mas, no meio da tormenta, o poder brasileiro parece um navio descontrolado, dirigido por um capitão Bolsonaro sem bússola". Abalado pela epidemia de Covid-19 e pela crise econômica, o "Brasil parece inexoravelmente à deriva", conclui o correspondente do Le Monde.
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