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Aung San Suu Kyi é indiciada por corrupção; processo começa na segunda-feira

10/06/2021 05h31

A ex-líder birmanesa Aung San Suu Kyi, derrubada por um golpe militar, foi indiciada por corrupção, de acordo com o jornal oficial The Global New Light de Mianmar nesta quinta-feira (10). A prêmio Nobel da Paz permanece em prisão residencial e é acusada de ter recebido "US$ 600 mil dólares e vários quilos de ouro" em subornos, além de ter usado alguns terrenos irregularmente.

Suu Kyi também responde a outras seis acusações, que vão desde posse ilegal de rádios comunicadores e violação de uma lei de segredos de estado. Ela é acusada de ter abusado de sua autoridade para alugar, em condições privilegiadas, terrenos para a fundação de caridade Daw Khin Kyi, que presidia. Aung San Suu Kyi "cometeu atos de corrupção abusando de sua posição. Ela então foi indiciada conforme o artigo 55 da lei anticorrupção", diz o jornal.

As acusações, diz um de seus advogados, Khin Maung Zaw, são "absurdas". Segundo ele, o objetivo é "afastá-la da cena política do seu país e sujar sua imagem", completou.

A líder birmanesa pode ser banida da vida política e, se for condenada, passar longos anos na prisão. A junta militar que tomou o poder em Mianmar e prendeu a líder em 1º de fevereiro vem pressionando a Justiça. Seu estado de saúde é bom, apesar das semanas passadas em isolamento, e não impediria seu encarceramento. O primeiro processo deve começar no dia 14 de junho, em Naypyidaw, capital de Mianmar. Aung San Suu Kyi também pode ser condenada em Rangoun em seguida, no processo envolvendo violação de segredo de Estado.

As Forças Armadas alegam que as eleições legislativas de 2020, vencidas com grande maioria pela Liga Nacional pela Democracia, foram fraudadas. Os generais birmaneses ameaçam dissolver a legenda. Essa decisão deve ser anunciada em breve, após a conclusão da investigação realizada pela comissão eleitoral. 

Aung San Suu Kyi já passou mais de 15 anos em prisão domiciliar, antes de ser liberada em 2010 e assumir a presidência do país. Durante muito tempo ela foi considerada um ícone da democracia e chegou a ser comparada a Nelson Mandela, Ghandi ou Martin Luther King. Mas sua imagem foi prejudicada após o drama dos muçulmanos rohingyas, que fugiram em massa do país para escapar da violência das forças armadas locais e se refugiaram em Bangladesh.

Economia paralisada

Mianmar vive uma onda de manifestações diárias desde o golpe de fevereiro, que colocou um fim ao regime democrático de 10 anos. O país também enfrenta um aumento dos conflitos entre o Exército e as facções rebeldes. A economia está paralisada por greves frequentes em diversos setores. Nos últimos meses, mais de 860 civis morreram nos confrontos, incluindo mulheres e crianças, de acordo com a Associação de Assistência aos Prisioneiros Políticos. Mais de 5 mil pessoas foram presas.

Enviados da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean) reuniram-se nesta sexta-feira (4)  com o comandante da junta militar no poder.O vice-chanceler de Brunei, Erywan Pehin Yusof, e o secretário-geral da Asean, Lim Jock Hoi, tiveram uma reunião com o general Min Aung Hlaing. Até agora, a junta militar havia informado que seriam realizadas eleições em um prazo de dois anos.

A Asean promove esforços diplomáticos para tentar resolver a crise, mas disputas dentro da organização regional impediram que houvesse progressos.

Rohyngas

Na semana passada, o  "governo" de resistência birmanês, composto por deputados derrubados e na clandestinidade, convidou a minoria muçulmana rohingya a se juntar à luta contra a junta militar e lhes prometeu a cidadania em uma futura Mianmar democrática. Deputados da Liga Nacional para a Democracia (LND), o partido de Sang Suu Kyi, fazem parte deste executivo que busca reunir dissidentes e grupos étnicos.

O governo de resistência prometeu anular uma lei de 1982 sobre a cidadania, que os rohingyas consideram discriminatória, e conceder a cidadania a todos os membros da minoria nascidos em Mianmar. Outra promessa é a repatriação de centenas de milhares de refugiados rohingyas que vivem em acampamentos em Bangladesh, "quando for possível realizar de forma voluntária, segura e com dignidade".

Mais de 740.000 rohingyas se refugiaram no vizinho Bangladesh devido a uma violenta campanha militar em 2017 que a ONU condenou e classificou como operação de "limpeza étnica". Mais de 600.000 rohingyas se encontram no estado de Rajine, no norte de Mianmar, confinados em campos ou em suas aldeias e sem acesso a cuidados médicos.

(Com informações da AFP)