Chuva levou metade de cidades do país a emergência ou calamidade desde 2022
Entre o início de 2022 e esta quinta-feira (9), 2.709 municípios brasileiros tiveram decretos de emergência ou calamidade pública reconhecidos pelo governo federal em virtude dos impactos gerados pelas chuvas. O número de casos vem crescendo ano a ano, e somente em 2024 a média é de seis novos decretos por dia (veja os números abaixo).
Levando em conta que o país tem 5.570 municípios, praticamente metade (48,6%) enfrentou alguma situação de anormalidade no período.
Os dados foram levantados pelp UOL no Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil. Para isso, foram filtrados os decretos publicados com cinco tipos de desastre:
- alagamentos
- deslizamentos
- enxurradas
- inundações
- tempestades
O estado com mais municípios com decreto de emergência ou calamidade é Minas Gerais, com 571 casos. Entretanto, proporcionalmente ao número de cidades, o Tocantins é o estado que mais tem casos: 100% das 139 prefeituras decretaram anormalidade desde 2022.
Em número de mortes, as principais tragédias do período são:
- Maio de 2022
- 133 mortes em Pernambuco, em especial em Recife e Jaboatão dos Guararapes, atingidos por temporais que causaram soterramentos e ealagamentos nas duas cidades.
- Fevereiro de 2023
- 64 mortos em São Sebastião (SP), onde as fortes chuvas deixaram um rastro de destruição.
- 241 mortos por temporal em Petrópolis (RJ). A cidade na região serrana sofreu deslizamentos e inundações e chegou a receber 530 mm de chuva em 24 horas (no dia 15) -- mais do que o dobro da média histórica.
- Setembro de 2023
- Ciclone e tempestades matam 47 no Rio Grande do Sul e uma pessoa em Santa Catarina.
- Abril/maio de 2024
- Chuvas históricas alagam grande parte o Rio Grande do Sul e matam ao menos 107 pessoas. Número de desalojados quase já chega 327 mil.
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Quero receberAo longo dos últimos anos, o número de decretos de emergência ou calamidade por impactos gerados por chuvas também vem crescendo.
Mas o que causou tanta chuva?
José Marengo, coordenador de pesquisa do Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais) explica que, apesar de serem desastres gerados por chuva, em cada região as causas foram diferentes — mas todos podem ter sido afetados pelo aquecimento global, que tornou as os eventos "mais rápidos e intensos".
No leste do Nordeste, temos os distúrbios do leste que do oceano Atlântico e que geraram as chuvas de maio no Grande Recife. Também tivemos as frentes frias que ficaram estacionárias e soltaram volumes grandes de chuva no Rio Grande do Sul em 2023 e 2024; e em São Sebastião (SP) em 2023. Já Petrópolis em 2022 foram os sistemas convectivos de mesoescala [responsáveis por tempestades intensas].
José Marengo
Para Claudio Ângelo, coordenador de política internacional do Observatório do Clima, já faz alguns anos que a Terra entrou em um novo normal climático. "Tudo que a gente achava que sabia sobre o comportamento do clima no passado não vale mais."
Um exemplo, diz, é que todos os anos mais quentes da história ocorreram ao longo da última década, com pico em 2023.
A gente viu que o mundo parece ter entrado em um território climático desconhecido. Nenhum dos fatores individuais de alteração do clima, sejam eles naturais ou por conta do aquecimento anormal dos oceanos causado pela mudança do clima, explica inteiramente os recordes que a gente viu de temperatura.
Cláudio Ângelo
Um exemplo desses números acima da média pode ser comprovado por medições do Inmet no Rio Grande do Sul. Das 44 estações automáticas, 15 tiveram recorde de chuva em um dia entre 2023 (8) e 2024 (7).
Ângelo afirma que, nesse novo cenário, não é possível prever o que vai acontecer, dada a intensidade das chuvas nos últimos dois anos. "Infelizmente o que 2023 e 2024 vêm mostrando é que a gente entrou definitivamente em uma era de consequências."
Os municípios precisam se dar conta de que já estamos nessa nova era. Os gestores públicos e candidatos a prefeito precisam entender que, embora os eventos climáticos extremos já não possam ser evitados, ainda dá para evitar que se transformem em uma catástrofe humana. É diferente um evento climático extremo quando encontra uma população resiliente.
Cláudio Ângelo
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