Biden convoca ocidentais a enfrentar nova guerra fria contra aliança da China com a Rússia
A nova guerra fria travada pela China, em aliança com a Rússia, contra os Estados Unidos e seus aliados asiáticos e europeus é tema de capa da revista semanal L'Obs. O espectro de um conflito armado paira cada vez mais sobre o mundo, alimentado pelas ambições imperialistas dos regimes autoritários de Pequim e Moscou, opositores aos valores ocidentais.
Neste contexto ameaçador, o presidente americano, Joe Biden, reafirma sua determinação em defender as democracias contra o "revisionismo" orquestrado pelos governos russo e chinês. Biden convidou para se juntar à cúpula do G7, aberta na Cornualha, na Inglaterra, países "que compartilham a mesma visão de mundo" - Austrália, Índia, África do Sul e Coreia do Sul -, assinala a revista L'Obs. A mensagem enviada pelo democrata aos líderes Ji Xinping e Vladimir Putin é clara: o campo defensor das liberdades não ficará de braços cruzados diante do avanço do autoritarismo.
Segundo a ONG Freedom House, a democracia tem perdido terreno nos últimos 15 anos. Um número cada vez menor de países acessa o sistema democrático, e mais nações retrocedem ao iliberalismo, sistema em que líderes eleitos pelo voto dinamitam a democracia quando chegam ao poder.
Em sua análise, a L'Obs mostra que o mundo de fato entrou em uma nova guerra fria, trinta anos depois da queda da União Soviética (URSS). A paisagem unipolar dominada pela superpotência americana se fragmentou e está sendo reestruturada em torno de dois polos antagônicos. De um lado, Washington lidera o "mundo livre", de outro, figuram os "suspeitos de sempre", Moscou e Pequim. Com a diferença de que desta vez é a China que dá a direção dos acontecimentos, e a Rússia acompanha de coadjuvante.
De acordo com um relatório da inteligência dos EUA entregue ao Senado em 2019, China e Rússia nunca foram tão alinhadas em 70 anos. Não se sabe quanto tempo durará essa reaproximação. Mas, por enquanto, ela permite que os dois países aumentem sua visibilidade e compartilhem práticas autoritárias. A China copia os métodos tipicamente russos de desinformação nas redes sociais, enquanto Putin se inspira no exemplo chinês para restringir cada vez mais a liberdade de expressão na internet.
Tática expansionista desgastante
A guerra híbrida e multifacetada travada pelas duas potências é complexa e insidiosa. O palco de ação da Rússia se estende do leste e norte da Europa ao Oriente Médio e à zona do Mediterrâneo (Síria e Líbia), visando desestabilizar os europeus.
Na região Ásia-Pacífico, a China adere a provocações que vão desde o envio de navios militares às águas do Japão, Vietnã, Malásia e Filipinas, passando por agressões diversas a Taiwan e pelo posicionamento de soldados nas fronteiras de países vizinhos. "São ações cansativas pela frequência, mas sempre abaixo do limite que justifique uma resposta militar", observa a L'Obs.
"É no meio dessa confusão que surge a pandemia", explica a revista. A forma como a China nega qualquer responsabilidade e utiliza a crise sanitária para posar de país exemplar no combate ao coronavírus acendeu a luz vermelha no campo ocidental. Os Estados Unidos e outros países se deram conta do risco existencial que paira sobre suas democracias.
"Depois de décadas acalentando a ilusão de que as ditaduras iriam desaparecer com o crescimento e a globalização, o Ocidente acabou percebendo o ódio visceral que seus oponentes têm por seus valores - direitos humanos, liberdades, estado de direito. China e Rússia se comportam como potências 'revisionistas': querem mudar o status quo internacional que consideram contrário aos seus interesses."
Essa conscientização leva à conclusão de que é inútil perseverar numa política de apaziguamento, cooperação e acomodação. Os Estados Unidos assumem a "competição estratégica". A Europa evoca o conceito de "rivalidade sistêmica". Para enfrentar esta batalha, Biden reposiciona os Estados Unidos no centro das instituições e organizações internacionais abandonadas por Donald Trump.
Pandemia gera choque de consciência
Segundo a L'Obs, o que atenua as preocupações é que, ao contrário dos dois blocos estanques que havia 50 anos atrás, a globalização fez com que as economias estejam intimamente interconectadas. Ao mesmo tempo, as ambições imperialistas de Pequim, a forma como o governo chinês lidou com a pandemia e seu desprezo pela liberdade fazem com que "forças vivas da economia globalizada pouco a pouco estejam se retirando da China", escreve a publicação.
De que forma tudo isso vai terminar? Uma terceira guerra mundial é possível? A ameaça existe, considera a L'Obs. Para saber se ela será deflagrada, só aguardando as próximas etapas dessa grande reorganização estratégica global.
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