"É melhor estar molhado do que morto", dizem haitianos após terremoto seguido de tempestade tropical
O Haiti continua mergulhado no caos nesta quarta-feira (18) após o terremoto do fim de semana, que tirou a vida de cerca de 2 mil pessoas, de acordo com balanços ainda provisórios. O tremor foi seguido da tempestade tropical Grace, que afetou uma região já marcada pela destruição, com parte da população desabrigada. Os moradores esperam ajuda internacional.
Informações de Amélie Baron, enviada especial da RFI a Cayes e Camp-Perrin
O campo de futebol Gabion, em Cayes, amanheceu totalmente inundado na terça-feira (17), logo após a passagem da tempestade tropical. Foi ali que mais de 200 pessoas passaram a noite, algumas delas protegidas apenas por lonas rasgadas. Outros tentaram construir barracas com pedaços de madeira, bambu, restos de telhas ou lençóis.
"Passamos uma noite difícil, com muito vento e chuva. Não podíamos fazer nada, senão ficar sentados. E a cada rajada de vento, a água tomava conta de tudo", conta Natacha Lormina, que perdeu todos seus pertences no tremor de sábado (14) e andava sem rumo entre os pequenos grupos de sobreviventes no acampamento improvisado. "Como vocês podem ver, todas as minhas roupas estão nessa bolsa e estão molhadas. Foi o que consegui juntar e espero poder pendurá-los para que sequem".
Nem todos os edifícios foram destruídos. Mas os moradores, ainda traumatizados pelo terremoto, temem réplicas do tremor. "Não temos para onde ir. Até poderíamos ter nos abrigado sob uma construção ou no pé de um muro. Mas não queremos, pois foi assim que muita gente morreu, esmagado por um pedaço de parede. Por isso nos conformamos: é melhor estar molhada do que morta", desabafa Natacha.
Espera de ajuda internacional
O Haiti tem um triste histórico de terremotos, mas também de tempestades tropicais que deixam um rastro de destruição por onde passam. Além do tremor de janeiro de 2010, que matou mais de 200 mil pessoas e deixou 1,5 milhão de desabrigados, há cerca de cinco anos o ciclone Matthew provocou mortes e estragos e deixou a população traumatizada até hoje.
"Quando Matthew passou, o telhado da minha casa voou e foi uma ONG canadense que me ajudou na reconstrução", se recorda Bertha Jean-Louis, diante de sua residência em Camp Perrin, totalmente destruída pelo tremor de sábado. "Estou sofrendo muito. Não consegui salvar nada. Meu irmão morreu e meu marido está no hospital com as duas pernas quebradas. Estou sem coragem, mas sei que Deus vai enviar outra missão estrangeira que vai nos salvar, como após a passagem de Matthew. Por isso eu ainda tenho um pouquinho de esperança".
Quatro dias após o terremoto que destruiu o sudoeste do Haiti, a ajuda médica de urgência chega aos poucos, levada por helicópteros a partir de Porto Príncipe. As mesmas aeronaves levam de volta para a capital os feridos mais graves. Três helicópteros do exército norte-americano também participam das operações.
A tempestade Grace atravessou o Caribe e avança na direção do México.
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