Duplo atentado em Cabul abala ainda mais imagem do governo de Joe Biden
O duplo atentado suicida em Cabul deixou ao menos 85 mortos ontem, entre eles 13 militares americanos. O presidente americano, Joe Biden, cuja popularidade já estava em queda antes dos ataques, é alvo de muitas críticas, mas mantém decisão de finalizar operações no Afeganistão em 31 de agosto.
No pronunciamento que realizou na noite de ontem, Biden continuou intransigente sobre a retirada das tropas americanas até 31 de agosto. Apesar de prometer que os responsáveis pelo atentado seriam encontrados e pagariam pelo que fizeram, o tom geral da mensagem do presidente americano foi fatídico, ao falar sobre a iminência de mais ataques contra americanos e aliados.
Ao responder perguntas da imprensa, Biden tentou justificar sua decisão, alegando que o Afeganistão era uma nação fadada a constantes conflitos e estava na hora de encerrar a presença militar no país.
"Nunca acreditei em sacrificar vidas americanas para implementar um governo no Afeganistão, que nunca foi unido e é composto de tribos que nunca se entenderam", declarou.
O presidente americano também tentou culpar Donald Trump pela situação, já que ele é responsável pelo acordo com o Talibã para a retirada das tropas. No entanto, Biden poderia ter encerrado o compromisso, como ocorreu com outras decisões do governo anterior.
A retirada das tropas, apesar de ser saudada pela maior parte dos americanos, é vista com reprovação por diversos grupos influentes do governo, compostos tanto por republicanos quanto democratas. Acima de tudo, Washington é a capital do complexo industrial militar do país e, portanto, não faltam na capital defensores de uma presença militar forte no Oriente Médio.
Além disso, muitos acreditam que abandonar locais de conflito é uma humilhação para os Estados Unidos. Mesmo aqueles que gostariam de ver os soldados do país voltarem para casa depois de uma guerra de 20 anos —que a maioria dos americanos não apoia— veem a manobra de retirada das tropas como um total desastre.
Afinal, até poucas semanas atrás, soldados americanos ainda estavam trocando tiros com o Talibã. Agora estão se retirando, ao mesmo tempo em que deixam cerca de US$ 50 bilhões em equipamento militar para trás e nas mãos dos extremistas.
1.500 americanos aguardam retirada
A Casa Branca já não está mais prometendo trazer para os Estados Unidos, até o dia 31 de agosto, todos os cerca de 1.500 americanos que ainda se encontram no Afeganistão, além dos afegãos que por anos colaboraram com os diplomatas e militares do país. Washington afirma apenas que vai evacuar "o máximo de pessoas que conseguir".
Quem ficar para trás pode se tornar alvo e reféns não só do Talibã como também de outras facções dentro do país, como o grupo Estado Islâmico-Khorasan (EI-K). Essa é uma célula do grupo Estado Islâmico que o governo Biden aponta como responsável pelos atentados em Cabul.
A situação pode ficar ainda mais complicada daqui a alguns dias. Com a retirada das tropas americanas, haverá um vácuo no Afeganistão que poderá ser preenchido por diversos grupos terroristas.
Alguns analistas falam, inclusive, em uma possível volta ainda mais forte da Al-Qaeda. Assim, o aniversário de 20 anos do atentado de 11 de Setembro, poderá ser marcado pelo fortalecimento de grupos terroristas.
Talibã mais moderado
A Casa Branca acredita que o Talibã de hoje é mais moderado que o de 20 anos atrás, mas o governo Biden diz não confiar totalmente nos radicais islâmicos. Washington aposta no objetivo em comum que tem com o atual regime do início de uma nova era no Afeganistão sem a presença militar americana no país.
Os atentados de ontem deixaram claro que houve falha na segurança por parte do Talibã. Mesmo assim, o general Kenneth Mckenzie Jr., do Comando Central, disse que está compartilhando informações de inteligência com os extremistas e continua contando com eles para finalizar as últimas operações no Afeganistão.
A imprensa americana divulgou que representantes do governo Biden também forneceram ao Talibã uma lista com nomes de americanos e aliados que querem chegar até o aeroporto para deixar Cabul, o que pode fazer com que essas pessoas fiquem expostas à retaliação depois que as tropas americanas partirem.
Os cidadãos americanos ainda veem os radicais islâmicos como inimigos e a notícia causou uma indignação geral nos Estados Unidos.
Antes dos últimos atentados em Cabul, os índices de aprovação de Joe Biden já estavam no nível mais baixo (47%) desde o início do seu mandato, em janeiro passado. Segundo uma pesquisa recente da NBC News, atualmente apenas 25% dos americanos aprovam como ele está lidando com o Afeganistão.
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