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Mulheres deixam de ser maioria no Parlamento da Islândia após recontagem de votos

27/09/2021 04h16

A Islândia acreditou neste domingo (26), durante algumas horas, ter se tornado o primeiro país da Europa a eleger uma maioria de mulheres para o Parlamento após as eleições legislativas de sábado. Porém, uma recontagem dos votos atribuiu a elas menos de 50% do plenário.

Das 63 cadeiras do milenar Parlamento islandês, chamado Althingi, 30 serão ocupadas por mulheres contra 33 antes da recontagem. Mesmo assim, esta proporção representa um recorde na Europa. Até agora, a Suécia ocupava o primeiro lugar, com 47% de deputadas, seguida pela Finlândia com 46%, de acordo com dados compilados pelo Banco Mundial.

Após esta nova recontagem, que modificou os resultados em uma das seis circunscrições do país, devido ao complexo sistema eleitoral islandês, três mulheres perderam os assentos que tinham conquistado em um primeiro momento, explicou Ingi Tryggvason, presidente da Comissão Eleitoral local.

"Estes poucos votos de diferença causaram essa grande confusão", constatou. Ninguém pediu, mas "decidimos fazer a recontagem porque o resultado era muito apertado", acrescentou o encarregado eleitoral da circunscrição do noroeste do país. Mesmo assim, a incerteza continua pairando, pois uma possível recontagem em outra circunscrição no sul do país poderia ter consequências.

Antes da reviravolta nos resultados, autoridades e cidadãos manifestaram sua satisfação, ao ver que a pequena ilha da Islândia, com 370 mil habitantes, entrava para a história da política europeia. Nenhum país da Europa superou a marca simbólica de 50% de mulheres no Parlamento.

No mundo, apenas três países - Ruanda, Cuba e Nicarágua - contam com uma maioria de mulheres nos seus parlamentos, enquanto México e Emirados Árabes Unidos adotaram a paridade. O país nórdico está na vanguarda do feminismo e lidera há 12 anos o ranking do Fórum Econômico Mundial para a igualdade de gênero.

Revés para primeira-ministra no poder

As eleições legislativas representaram um revés para a primeira-ministra Katrin Jakobsdottir, cujo partido Esquerda-Verdes perdeu três cadeiras no Parlamento e obteve 12,6% dos votos, ficando atrás de seus dois atuais aliados de direita.

A sigla que apontou maior crescimento na votação foi o Partido do Progresso (centro-direita), com 13 mandatos conquistados, cinco a mais que nas eleições de 2017, angariando 17,3% dos votos. Seu líder, Sigurdur Ingi Johannsson, já almeja se tornar o chefe de governo. Mas o partido conservador do ex-primeiro-ministro Bjarni Benediktsson continuou sendo o principal da Islândia, com 24,4% dos votos. A sigla manteve suas 16 vagas, contrariamente à queda que previam as pesquisas.

Com um total de 37 deputados no Parlamento, os três partidos aliados consolidam a maioria na Casa, mas a direita encontra-se numa posição de força, com a opção de encontrar outro terceiro parceiro ideologicamente mais próximo, como por exemplo os partidos de centro Reforma (cinco cadeiras) ou o Centro (três deputados) ou ainda o Partido do Povo (seis cadeiras).

Direita cresce e pode impor nova coalizão

As negociações para a formação de uma coalizão são tradicionalmente longas na Islândia. A boa notícia proveniente das urnas é que o país se afasta de um cenário de bloqueio político.

Desde a falência dos bancos islandeses durante a crise financeira de 2008 e a grave crise que se seguiu, esta é apenas a segunda vez que um governo em fim de mandato consegue manter a maioria no Parlamento. As consequências da crise foram tão devastadoras que a Islândia teve cinco eleições entre 2007 e 2017. O atual governo marcou o retorno da estabilidade política ao país.